Qual a melhor maneira de prevenir ISTs?

Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a prevenção contra ISTs vai além do uso da camisinha. Conheça todos os métodos disponíveis.

Por inúmeros motivos, existem pessoas que não se adaptam ao uso do preservativo. Mas são muitas as possibilidades de prevenção contra infecções sexualmente transmissíveis. Conheça.

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Publicado em: 29 de junho de 2022

Revisado em: 22 de julho de 2022

Por inúmeros motivos, existem pessoas que não se adaptam ao uso do preservativo. Mas são muitas as possibilidades de prevenção contra infecções sexualmente transmissíveis. Conheça.

 

Ainda que a camisinha seja um dos métodos contraceptivos mais simples e acessíveis, não é todo mundo que se adapta a ela. Alguns acham que o preservativo diminui a sensibilidade, outros que corta o clima na hora de colocar durante o ato. Em relações sexuais não planejadas, é possível ainda que nenhum dos envolvidos tenha uma camisinha disponível – o que, várias vezes, não impede que o sexo aconteça. 

Há também explicações fisiológicas, como no caso daqueles que têm alergia ao látex, material do qual é feita a maior parte dos preservativos. Seja qual for a justificativa, a escolha de não usar camisinha não pode significar o descuido com a prevenção contra infecções sexualmente transmissíveis, as ISTs, pois esta vai muito além do preservativo.

 

Questão geracional

Quando se fala no abandono da camisinha, logo se pensa nos jovens. Realmente, nos últimos anos, percebe-se uma queda no uso regular do preservativo entre pessoas de 15 a 24 anos, enquanto os casos de HIV e aids nessa faixa etária aumentam gradativamente. 

Mas não são só eles que optam por não usar a camisinha nas relações sexuais. Entre 2007 e 2019, o número de pessoas com mais de 60 anos que foram diagnosticadas com HIV e aids aumentou 354,25%, de acordo com boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde. Uma das explicações para isso é a baixa adesão ao preservativo.

 

Jovens têm muitas opções e desconhecem os riscos

Entre os mais novos, ainda há um enorme tabu no que diz respeito à educação sexual. Não são raros os relatos de ações de contracepção e prevenção que foram barradas nas escolas a pedido dos pais, com medo de incentivar os filhos à atividade sexual precoce.

Por causa dessa falta de informação, muitos adolescentes começam a vida sexual despreparados. Sobre a camisinha, têm a impressão de que machuca, porque não sabem lubrificar direito nem escolher aquela que melhor se adapta ao corpo. Além disso, quando consomem álcool ou usam entorpecentes antes da relação, acabam se desinibindo e esquecendo o preservativo.

“Hoje, existem vários métodos de prevenção, então as pessoas acham que estão liberadas de usar a camisinha. Nos jovens, tem muito a questão da autoconfiança: eles acham que nunca vai acontecer com eles”, afirma o dr. Marcelo Magalhães, urologista no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, sobre a possibilidade de contrair uma IST.

As gerações mais novas não passaram pela epidemia da aids. Não viram, por exemplo, a morte de vários dos seus ídolos por causa da doença. Atualmente, graças à evolução nos tratamentos, é mais difícil alguém morrer de aids. De acordo com o especialista, isso faz com que o perigo saia do campo de visão das pessoas.

 

A falsa ideia de que idosos não são sexualmente ativos

No caso de quem tem mais de 60 anos, a desinformação também é um obstáculo, mas de outra origem. 

“Eu sou urologista e, no dia a dia, vejo muitos colegas de trabalho que se sentem inibidos em perguntar para um senhor de 70 anos se ele tem vida sexual ativa. Tem um pouco desse tabu”, conta o dr. Marcelo.

Se nem a pergunta costuma ser feita durante a consulta, que dirá a orientação sobre as possibilidades de prevenção. Esses idosos vêm de uma geração em que pouco se falava sobre ISTs, por isso, o preservativo nunca virou um hábito.

Entre os 60+, há ainda outras dificuldades: a vergonha em adquirir a camisinha e o medo de atrapalhar a ereção. No caso das mulheres após a menopausa, a gravidez já não é mais uma preocupação, então elas também acreditam que podem abrir mão do preservativo.

“Nós estamos vivendo cada vez mais e com mais qualidade de vida. Existem tratamentos para melhorar a performance sexual, então as pessoas fazem sexo mais velhas mesmo. Mas pouco se fala sobre isso, inclusive em consultórios e ambientes de saúde”, alerta o urologista.

Veja também: Sexualidade depois dos 60 anos | Entrevista

 

Estratégias de prevenção combinada podem ser a solução

Seja jovem ou idoso, para quem está em um relacionamento estável há muito tempo, viver sem camisinha já é uma realidade – o dr. Marcelo ressalta que, de todo modo, é preciso fazer um check-up antes e ter a certeza de que a relação é fechada. 

Mas e para quem deseja ter múltiplos parceiros? Ou para o idoso que é pouco visto nos atendimentos médicos? Ou ainda o paciente que vive com HIV e deseja ter filhos? Quais outras opções eles têm?

A resposta está na chamada “mandala” da estratégia combinada.

“A mandala abraça todos esses cenários. É um somatório de métodos que a pessoa pode adotar para prevenir o HIV e outras ISTs, como as hepatites. Quanto mais estratégias ela utilizar, mais protegida vai estar”, explica o urologista.

O diferencial da mandala é a visão individualizada das vulnerabilidades de cada pessoa, definindo as estratégias que mais se encaixam para aquele estilo de vida. São elas:

 

Testagem regular para ISTs

“Talvez a mais importante seja a regularidade de testagem, ou seja, sempre fazer exames para detectar qualquer IST e, se for o caso, iniciar o tratamento”, destaca o dr. Marcelo.

Os exames para detecção de HIV, hepatites virais e outras infecções são seguros e sigilosos. Tanto os testes convencionais quanto os rápidos servem e é possível realizá-los em laboratórios ou em unidades básicas de saúde.

 

Uso do preservativo (masculino ou feminino) e gel lubrificante

Ainda que muitos optem por deixar a camisinha de lado, ela é um pilar importante na prevenção contra ISTs. É um método simples, barato e não agride o corpo. Segundo o urologista, o ideal é não a abandonar por completo, mas ter a estratégia do conjunto.

“Se você tem múltiplas parcerias ou trabalha com sexo, tem que pesar se vale a pena abandonar a camisinha. Em um relacionamento aberto que exista a programação de ter relações fora, por exemplo, isso precisa ser conversado”, ilustra o dr. Marcelo.

Veja também: Por que começar a usar o preservativo feminino (interno)?

 

Profilaxia pré-exposição (PrEP)

A PrEP consiste no uso de medicamentos antirretrovirais que reduzem o risco de infecção pelo HIV antes de uma situação de exposição ao vírus. Ela pode ser de uso contínuo, quando a pessoa toma o remédio todos os dias; ou sob demanda, quando ela toma apenas diante de uma relação sexual prevista. O método está disponível gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

“A PrEP é mais adequada para quem tem a vida sexual ativa ou quando o sexo é imprevisível. Mas ela exige acompanhamento regular, porque pode afetar a função renal”, afirma o especialista.

 

Profilaxia pós-exposição (PEP)

A PEP, por sua vez, é uma medida de emergência feita após o contato com o vírus do HIV ou de outras ISTs. Ela precisa ser iniciada entre 2 e 72 horas após a exposição e o tratamento dura 28 dias, sendo realizado com acompanhamento médico. A PEP também é oferecida gratuitamente pelo SUS.

 

Vacina contra HPV e hepatites A e B

A vacina contra o HPV é indicada para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. Mulheres com imunossupressão, HIV, câncer ou transplantadas até os 45 anos e pessoas que convivem com HIV até os 26 anos também podem ser contempladas. Já a vacina contra as hepatites A e B pode ser tomada por qualquer pessoa a partir dos 12 meses de idade.

 

Tratamento de ISTs

“Além das vacinas, tem o próprio tratamento. É preciso realizar a busca ativa dos casos e fazer o rastreamento. Assim, a gente vai quebrando a cadeia de transmissão”, diz o dr. Marcelo.

Para os pacientes com HIV, por exemplo, o tratamento antirretroviral é o mais indicado e deve começar de forma precoce a fim de reduzir as complicações causadas pela infecção, melhorar a qualidade de vida, diminuir o risco de mortalidade e reduzir a transmissão do vírus.

Veja também: DrauzioCast #156 | Tratamento de prevenção e de pós-exposição ao HIV

 

Prevenção à transmissão vertical

No caso do HIV, da sífilis e das hepatites virais B e C, há ainda o risco de transmissão da mãe para o bebê durante a gestação. Quanto antes diagnosticadas e tratadas, maiores as chances de a criança nascer saudável. Daí a importância de realizar todos os exames durante o pré-natal.

 

Redução de danos

Por fim, a redução de danos engloba aqueles que têm relações sexuais sob o efeitos de álcool e outras drogas, o chamado “chemsex”.

“Se a gente não consegue combater, tentamos minimizar os danos. Então a indicação é não misturar um aditivo com o outro, não esquecer da lubrificação, fazer a testagem regularmente e usar o preservativo sempre que possível”, explica o dr. Marcelo. 

Em qualquer ocasião, é importante lembrar que o indivíduo tem o direito a acolhimento e atendimento nos serviços de saúde, não importando a substância utilizada.

 

Não tenha vergonha de procurar ajuda

“Eu costumo dizer que uma infecção sexualmente transmissível é como se fosse uma gripe ou uma infecção de garganta. Nada mais é do que uma bactéria ou vírus acometendo uma parte do corpo – no caso, a genital. Tem tratamento e, mesmo as que não têm, a gente controla e a pessoa pode viver uma vida normal”, destaca o dr. Marcelo.

Segundo ele, ainda há um moralismo muito forte relacionado às ISTs, o que faz com que as pessoas se sintam culpadas e deixem de procurar ajuda. 

“A gente precisa conseguir encaixar a prevenção contra ISTs na rotina. Igual a gente faz exame de colesterol, nós deveríamos fazer testes de sorologia. Se a pessoa transa ou não, se é fiel ou não, se tem múltiplos parceiros ou não, faz parte da vida. Agora a infecção é como qualquer outra que exige tratamento e cuidados específicos”, pontua o especialista.

Para saber mais sobre as estratégias combinadas de prevenção, você pode procurar um urologista, ginecologista, infectologista ou, ainda, profissionais dos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA), unidades do serviço público especializadas em ISTs.

Veja também: HIV e prevenção das IST | Ricardo Vasconcelos

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