A menopausa marca o fim da vida reprodutiva da mulher, normalmente entre 45 e 55 anos. Porém, antes que os ciclos menstruais sejam encerrados definitivamente, pode ocorrer uma série de queixas associadas às baixas hormonais — é a chamada perimenopausa, fase que antecede a menopausa. Os sintomas mais comuns incluem ondas de calor, secura vaginal, piora na qualidade do sono e instabilidade emocional, entre outros.
“A diminuição do estrogênio leva a alteração nos vasos sanguíneos, elevação do colesterol e acúmulo da gordura abdominal, o que predispõe à pressão alta, obesidade e diabetes, além de poder piorar condições de saúde mental, como depressão e ansiedade. Tudo isso culmina no aumento do risco cardiovascular e à maior chance de doenças graves, como infarto e AVC. Além disso, há diminuição da massa muscular e óssea, que podem evoluir para sarcopenia e osteoporose, condições que podem levar à fragilidade e perda de autonomia”, explica Daniela Iguchi, endocrinologista do Hospital do Servidor Público Municipal (HSPM), em São Paulo (SP).
Assim, o acompanhamento médico é fundamental nessa fase, visando amenizar os impactos físicos e psicológicos da perimenopausa e permitindo que a terapia hormonal (TH) seja iniciada em momento oportuno. “Mas, principalmente, deve-se aproveitar esse momento para avaliar a saúde de forma geral, com orientações de hábitos saudáveis, realização de exames preventivos e tratamento adequado das condições já existentes”, completa a médica.
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece atendimento para essas pacientes, incluindo a disponibilização de alguns hormônios para a terapia hormonal. No entanto, especialistas apontam a necessidade de melhorias, como a incorporação de medicações mais modernas e a capacitação de profissionais para prescrever os hormônios.
Como buscar atendimento no SUS
Para iniciar o acompanhamento, é necessário procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima para marcar uma consulta, seja com um médico de família ou ginecologista.
“Dentro da UBS, a paciente vai ser atendida e avaliada, e aí é preciso entender se esse caso é manejável ali na atenção primária, ou se há necessidade de encaminhamento para um ambulatório de especialidades, para um acompanhamento um pouco mais próximo, como por exemplo, uma pessoa que tem um risco cardiovascular muito alto”, afirma Joyce Vieira, ginecologista e obstetra, atuante em UBS na zona norte de São Paulo e médica do Coletivo Nascer e da Afro Amparo Saúde.
A terapia hormonal é o tratamento mais indicado quando há sintomas relacionados à queda da produção dos hormônios femininos pelos ovários, desde que não haja contraindicações. “A menopausa é definida pela ausência dos ciclos menstruais por pelo menos 12 meses seguidos. Mas os sintomas podem se iniciar anos antes, período que chamamos de perimenopausa ou transição menopausal, e hoje sabemos que quanto mais precoce o início da TH, maiores são os benefícios e menores os riscos”, esclarece a dra. Daniela.
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Hormônios disponibilizados no SUS
Na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) — que lista os medicamentos disponíveis no SUS — estão estrogênios conjugados 0,3 mg (comprimido) e 0,625 mg/g (creme vaginal), estriol tópico vaginal 1 mg/g, acetato de medroxiprogesterona 10 mg e noretisterona 0,35 mg. Podem existir ainda outras opções terapêuticas nas listas complementares estaduais e municipais, de acordo com o Ministério da Saúde.
De acordo com Lucia Helena Simões da Costa Paiva, presidente da Comissão Nacional Especializada em Climatério da Federação Brasileira das Associações em Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), o estrogênio conjugado hoje praticamente não é mais utilizado. Ela explica que existem outras formulações por via oral contendo estradiol, que é superior em termos de qualidade de terapia hormonal.
“A terapia hormonal por via oral ainda é bastante utilizada, entretanto, ela é mais adequada para mulheres saudáveis, devido aos seus efeitos negativos, principalmente do ponto de vista metabólico, decorrentes da primeira passagem hepática. Já a terapia hormonal por via transdérmica, seja através de gel, adesivos ou spray, por não apresentar essa primeira passagem hepática, é mais segura em termos metabólicos e apresenta menor risco de eventos tromboembólicos e cardiovasculares”, explica a especialista.
Para mulheres que apresentam algum risco cardiovascular ou outras condições, como tabagismo, obesidade, alterações do colesterol e triglicerídeos, hipertensão arterial e outras comorbidades — que são comuns nessa faixa etária —, a terapia transdérmica é mais indicada e segura, destaca ela.
A dra. Joyce também aponta que a terapia por via vaginal não seria o tratamento de escolha, por exemplo, para as ondas de calor, mas sim para sintomas geniturinários, como ressecamento vaginal e incontinência urinária, que podem surgir devido à redução do estrogênio. “Não é um tratamento que abrange todo o sistema e que vai tratar todos os outros sintomas. Para isso, a gente precisaria de terapêutica sistêmica, como o estradiol, e a gente não encontra hoje no SUS.”
Atualmente, existem projetos de lei que visam ampliar essas medicações na rede pública. Recentemente, a Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados aprovou um projeto que prevê a elaboração de um protocolo clínico para o tratamento dos sintomas do climatério no SUS. O projeto ainda será analisado por outras comissões. Para se tornar lei, precisa ser aprovado na Câmara e no Senado.
Além dos hormônios, existem outras medicações que podem ser prescritas para auxiliar no alívio dos sintomas, como alguns tipos de antidepressivos. Muitos não estão disponíveis no SUS, mas alguns podem estar. “Alguns realmente não tem no SUS, na lista de fornecimento do sistema de saúde em nível federal. Porém, a gente sabe que em alguns municípios isso pode ser diferente, porque cada município pode administrar também a lista de medicações que eles acham prioritárias para a sua população. Então, é importante avaliar também se o seu município fornece”, recomenda a dra. Joyce.
Barreiras no acesso ao tratamento dos sintomas da menopausa
Mesmo as poucas opções hormonais disponíveis no SUS podem não ser encontradas. A dra. Lucia destaca que, embora a terapia com estrogênio conjugado oral e vaginal esteja na lista do Rename, é frequente as mulheres saírem do consultório médico com receitas e não conseguirem adquirir a medicação nas farmácias do SUS, além de muitas não terem condições de comprar essas medicações, ficando, assim, sem tratamento.
“Dados de estudos nacionais mostram que apenas cerca de 22% das mulheres recebem prescrição de terapia hormonal da menopausa, e o tempo médio de uso dessas medicações é muito curto, ao redor de quatro meses, sendo que deveria ser uma terapia para uso de longo prazo. Mulheres com condições socioeconômicas mais elevadas usam a medicação por um tempo maior. Além disso, médicos ginecologistas prescrevem terapia hormonal com maior frequência no setor privado, sendo que uma das principais barreiras para a prescrição de TH no sistema público é o custo e a falta de disponibilidade de medicamentos gratuitos no SUS”, detalha a médica.
Outra dificuldade importante nesse contexto, conforme aponta a dra. Joyce, é uma limitação técnica de formação de médicos especialistas, que por vezes têm receio de prescrever a reposição hormonal para as pacientes.
“Quando a terapêutica hormonal começou a ser difundida, o primeiro trabalho grande, o WHI, deixou muita gente assustada com os desfechos cardiovasculares. No entanto, muito foi criticado a respeito desse trabalho porque, embora ele fosse cientificamente muito bom, em termos de desenho de estudo, o grupo estudado era muito mais velho do que [as mulheres a quem] a terapia hormonal acaba sendo indicada. Então, quando os trabalhos vieram depois trazendo essa correção para a idade, a gente percebeu que, na verdade, tem até uma proteção cardiovascular. Ainda assim, muita gente tem receio ou não sabe prescrever”, afirma.
A Febrasgo, através de sua Comissão Nacional Especializada de Climatério, avalia que “há uma grande carência de programas voltados para essa fase e, portanto, não atendem às necessidades em termos de tratamentos disponíveis no SUS para mulheres no climatério”.
“Há uma deficiência de profissionais de saúde adequadamente treinados e habilitados no atendimento às queixas, aos problemas de saúde, como osteoporose, e com conhecimento sobre terapia hormonal da menopausa”, complementa a dra. Lucia.
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Que melhorias precisam ser implementadas?
As especialistas apontam que existem medidas a serem tomadas para melhorar a atenção à saúde das pacientes no climatério que são atendidas pelo SUS. A dra. Lucia Helena, porta-voz da Febrasgo, destaca:
- Maior investimento em educação médica e dos profissionais de saúde, para que estejam preparados para o acolhimento e atendimento dessas mulheres;
- Maior facilidade na realização de exames complementares, como, por exemplo, mamografia, ultrassonografia e densitometria óssea;
- Um mínimo de opções de terapia hormonal oral, transdérmica e vaginal fornecidas gratuitamente;
- Campanhas de educação pública para fornecer às mulheres informações sobre a menopausa, quando e onde procurar ajuda.
“Tem diversos pontos que precisam ser trabalhados, não só dentro do SUS. A nossa população vem envelhecendo, e a gente quer um envelhecimento saudável, ter qualidade de vida na velhice, e isso começa na menopausa para a mulher. É importante que políticas sejam criadas e a gente capacite os profissionais para que eles consigam prescrever sem medo, então, [implementar] desde criação de protocolos, treinamentos e também a disponibilização das medicações, seja por via oral, transdérmica ou vaginal, para que haja um arsenal de tratamentos possíveis”, conclui a dra. Joyce.
É importante que os profissionais de saúde estejam preparados para acolher as pacientes e entender que a menopausa pode causar sintomas que às vezes exigem tratamentos mais específicos, como distúrbios do sono, sintomas depressivos ou perda urinária (que pode ser tratada com fisioterapia pélvica, por exemplo).
Cuidados complementares ao tratamento dos sintomas da menopausa
Por fim, é fundamental manter alguns cuidados para passar por todo o período do climatério com mais saúde e qualidade de vida, além de reduzir o risco de doenças. Esses cuidados incluem manter uma alimentação equilibrada (rica em cálcio, proteínas e fibras) e praticar exercícios físicos regularmente (aeróbicos e de resistência muscular), assim como cessar o tabagismo e controlar o consumo de álcool.
“Tudo isso leva à manutenção de peso adequado, o que ajuda a suavizar os sintomas e prevenir problemas. Manter a interação social também é fundamental. Além de prazeroso, trocar experiências com mulheres que estão passando pelo mesmo momento ajuda a atravessar com mais leveza essa transição tão desafiadora, além de prevenir doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer”, orienta a dra. Daniela.
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Conteúdo produzido em parceria com a Tena Brasil, marca líder em produtos para incontinência urinária.




