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Psiquiatria

Tipos de depressão: veja os sintomas menos conhecidos do transtorno

homem sentado com cabeça apoiada na mão, em sinal de tristeza. veja os tipos de depressão
Publicado em 30/08/2022
Revisado em 08/09/2022

Estigma que associa transtorno a choro e tristeza invisibiliza outros sintomas, como irritabilidade, insônia, apatia. Saiba mais sobre os tipos de depressão.

 

Depressão é muito mais do que tristeza. Às vezes, é não sentir nada. Às vezes, é sentir raiva o tempo inteiro. Por muito tempo, tivemos uma imagem melancólica da depressão, o que faz sentido quando olhamos para a história da psiquiatria, mas a manifestação do transtorno não se resume a esse sintoma, e essa ideia pode invisibilizar o sofrimento daqueles que vivenciam a depressão de uma forma diferente. 

A depressão é um transtorno de humor que atinge cerca de 322 milhões de pessoas ao redor do mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Só no Brasil, são mais de 11 milhões de indivíduos. Já em 2017, a OMS classificou a depressão como uma das maiores causas de afastamento no trabalho. Seus sintomas passam pelos campos afetivo, cognitivo e físico. Por isso, seu impacto é grande na vida do paciente. 

Para Vitor Santos, estudante de Engenharia de Produção, 21 anos, as alterações no sono e a constante palpitação foram as características que mais marcaram seu episódio depressivo – ele chegou a ficar mais de 50 horas sem conseguir dormir. Vitor tinha 16 anos quando começou a apresentar alguns sintomas depressivos, fase na qual começou a ter dúvidas em relação à sua orientação sexual – hoje, ele se identifica como um homem gay –, o que o deixava muito apreensivo devido à sua criação religiosa.

“Eu cresci na igreja, e ouvi a vida toda que ser LGBTQIAP+ é errado. Isso se tornou um conflito gigante dentro de mim. O tempo foi passando, mas o desejo por pessoas do mesmo sexo e os questionamentos que isso me trazia, não. Foi quando começaram as constantes crises de ansiedade, com muita falta de ar, palpitações. Além disso, a insônia me consumia. Tudo isso desencadeou também um quadro depressivo”, relembra.  

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O sono alterado é, aliás, uma das principais manifestações fisiológicas do transtorno, junto da alteração de apetite. Para se ter uma ideia, até mesmo a percepção de dores físicas pode ser aumentada durante um quadro depressivo. É o que explica o dr. Fernando Fernandes, psiquiatra e membro do Conselho Científico da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata).

“Quando se fala em depressão, se fala logo em tristeza. Mas a depressão é uma doença complexa e multissistêmica – ou seja, atinge muitos órgãos e sistemas. Além da tristeza, sentimentos de desprazer, ansiedade, raiva, irritabilidade, medo e baixa autoestima também podem estar envolvidos. Para além da área afetiva, o transtorno também afeta a cognição, o que pode provocar sintomas como dificuldade de concentração e de memória recente. E não podemos esquecer dos sintomas físicos, como alterações no apetite e no sono, aumento do cansaço e de dores pelo corpo”, explica o médico. 

Foi o desprazer e a apatia que despertaram o sinal de alerta no professor da advogada Persephone Vanessa Maria, 40 anos, quando ela enfrentou um dos muitos episódios depressivos durante a adolescência. Antes ativa, Persephone perdeu o interesse nas aulas e nas atividades com os colegas, o que chamou a atenção do educador e o levou a conversar com os pais de Persephone. 

“Tive uma crise bem forte, que durou uns 6 meses. Eu fazia Ensino Médio Técnico em Informática e nas matérias técnicas eu era muito produtiva. Então, quando passei a ficar mais parada e distante, esse professor notou e começou a me observar. Foi quando ele compartilhou com a minha mãe que eu estava apresentando um caso bastante preocupante de apatia”, relembra. 

Ainda assim, o tratamento não foi imediato, já que a discussão sobre saúde mental ainda era novidade no início dos anos 2000. A apatia e a falta de energia foram encaradas como preguiça e rebeldia pela família. 

O estudante de Biomedicina Fernando B*, 22 anos, se identifica com o relato de Persephone. No seu caso, as principais queixas eram relacionadas às frequentes oscilações de humor e à sonolência em tempo integral, como ele conta. “Os sintomas mais difíceis de lidar eram a taquicardia, as oscilações de humor e as ideações suicidas. Experimentei choros e tristezas em menor grau; os mais constantes eram a falta de vontade de viver e de sair da cama, sonolência 100% do tempo e exaustão mental.” 

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Depressão ‘seletiva’ 

Ao lado da ideia de que depressão é um estado de choro e tristeza constante, há também a crença popular de que uma pessoa só está deprimida “de verdade” quando chega ao ponto de não conseguir levantar da cama, sair de casa, se cuidar etc. Mas isso não é verdade. Num estágio mais grave, a depressão pode desencadear esse comportamento, mas, em geral, pessoas depressivas continuam realizando suas atividades do dia a dia, ainda que com prejuízo e sofrimento emocional. Isso não torna o quadro depressivo menos válido. 

O psiquiatra Fernando Fernandes destaca como esse tipo de pensamento contribui ainda mais para o estigma da condição. 

“Existe depressão sem tristeza, em que o que prevalece é a dificuldade de sentir prazer. Na depressão atípica, por exemplo, a pessoa responde bem aos estímulos que acontecem ao seu redor e pode genuinamente se sentir feliz e leve em alguns momentos. Isso pode causar confusões e levar a falas preconceituosas como ‘ah, para ir para uma festa ele está bem, mas para trabalhar, não’. O ponto é que a depressão causa prejuízo e sofrimento, mesmo que o paciente aparente normalidade.”

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Tipos de depressão

“Não existe uma depressão igual a outra”, diz Fernando. Em geral, os tipos de depressão variam de acordo com a duração dos episódios (que pode ser de semanas a anos), gravidade e conjunto de sintomas presentes. No DSM-5, manual universal de diagnóstico e estatística de transtornos mentais, aparecem as seguintes classificações:

  • Transtorno disruptivo da desregulação do humor;
  • Transtorno depressivo maior (incluindo episódio depressivo maior);
  • Transtorno depressivo persistente (distimia);
  • Transtorno disfórico pré-menstrual;
  • Transtorno depressivo induzido por substância/medicamento;
  • Transtorno depressivo devido a outra condição médica;
  • Outro transtorno depressivo especificado;
  • Transtorno depressivo não especificado.

“Existe a depressão melancólica, a depressão atípica, a depressão com sintomas ansiosos etc. Isso varia de paciente para paciente. Mesmo uma pessoa que já passou por mais de um episódio depressivo pode apresentar sintomas completamente diferentes em cada um deles”, reforça o psiquiatra. 

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Terapia e tratamento

O tratamento da depressão costuma envolver psicoterapia e, dependendo da intensidade do quadro, pode necessitar do acompanhamento de um psiquiatra para introduzir medicações de auxílio. Buscar ajuda ao perceber o próprio desconforto é fundamental para que o transtorno seja tratado e que a qualidade de vida seja retomada. 

Bárbara Snizek Ferraz de Campos, psicóloga pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), especialista em Saúde Mental, Psicopatologia e Psicanálise pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e mestre em Antropologia Social pela UFPR, destaca o papel da terapia para a melhora do indivíduo em sofrimento. 

“O psicólogo é o profissional que vai caminhar ao lado da pessoa na busca por estratégias de melhora, numa tomada de consciência da sua condição. É ele que vai ajudá-la a entender por onde passa o seu desejo, a sua vontade de viver”, explica a psicóloga. 

Fernando B* faz terapia há dois anos e já percebe uma melhora grande na sua saúde mental. “Na verdade, queria iniciar o tratamento já em 2017, mas, como era menor de idade, sofri com a resistência dos meus pais, que não acreditam nos benefícios da terapia”, desabafa. Foi só ao notar a gravidade da situação, após uma tentativa de suicídio, que Fernando recebeu o aval da família para iniciar o tratamento. “Só em 2020 consegui iniciar o acompanhamento e, desde então, não interrompi mais. O apoio do psicólogo e do psiquiatra ajudou muito no meu progresso; minha qualidade de vida hoje é muito melhor do que nos últimos cinco anos”, compartilha o jovem. 

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A introdução do antidepressivo na rotina de Vitor Santos também foi um divisor de águas na sua condição, como ele conta. “O remédio foi um catalisador importante. Aos poucos, minhas emoções começaram a se estabilizar, e eu fui conseguindo colocar minhas emoções no lugar. Também percebi que conversar com o terapeuta me ajudou demais na evolução do progresso do tratamento. Aos poucos, ele foi conquistando minha confiança, o que me deixou confortável para compartilhar o fardo com alguém, o que diminuiu o peso sobre mim.”

Ou seja, com o acompanhamento necessário por parte dos profissionais de saúde mental e com o apoio de amigos e familiares – que também precisam se sensibilizar com a questão e incentivar a busca por ajuda, além de demonstrar empatia –, é possível lidar com a depressão e ter uma boa qualidade de vida, como fala a psicóloga Bárbara Snizek. 

“Com uma boa condução dos profissionais, com um bom tratamento, a pessoa com depressão pode ter uma vida agradável, uma vida bem vivida. A depressão não é uma sentença, é uma situação na vida da pessoa que pode ser trabalhada e da qual a pessoa pode se sair bem”, finaliza a psicóloga. 

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*O nome da fonte foi ocultado para preservar sua identidade.

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