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Psiquiatria

Medos incomuns: qualquer coisa pode virar fobia?

Entenda como surgem as fobias e por que algumas pessoas têm medos tão inexplicáveis.
Publicado em 27/09/2022
Revisado em 29/09/2022

Entenda como surgem as fobias e por que algumas pessoas têm medos tão inexplicáveis.

 

Você com certeza já ouviu falar de alguém que tenha medo de aranha, palhaço ou injeção. Mas e de balão, palavras grandes ou umbigo? Se pesquisar a fundo, vai perceber que existem diferentes tipos de fobias, muitas delas extremamente específicas.

Para um medo ser considerado fobia, é preciso que o objeto ou a situação – que pode ou não oferecer risco – provoque uma reação desproporcional. Por exemplo, se a pessoa tem entomofobia (medo de insetos), é comum que ela entre em pânico ao ver uma barata ou uma borboleta. 

Ainda que a primeira possa representar uma ameaça, a segunda é inofensiva, mas, em ambos os casos, a reação tende a ser exagerada. Dependendo do nível de medo que a pessoa sente, a simples imagem do inseto já pode causar uma resposta negativa.

 

De onde vêm as fobias?

De acordo com o dr. Álvaro Cabral Araújo, psiquiatra e colaborador do Programa Ansiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HCFMUSP), não há consenso sobre como o quadro fóbico se instala. Algumas hipóteses são:

 

Seleção evolutiva

“Existem situações que causam ansiedade na maioria das pessoas, como altura, escuro, lugares apertados e determinados animais. Essas têm um caráter evolutivo de preservação da espécie”, explica o psiquiatra.

Ou seja, é o medo de situações que já foram muito perigosas no passado e que foi internalizado como um “instinto” de proteção.

 

Aprendizagem vicariante

“Outra possibilidade é quando a pessoa aprende, pela convivência ou transmissão cultural, que determinada situação ou objeto é perigoso”, afirma.

Por exemplo, ao crescer com um familiar que tem medo de avião, é possível que o medo se perpetue de tanto ouvir falar que essa é uma experiência assustadora. A mídia também pode ter um impacto nesses casos.

 

Experiência traumática

Essa é a mais comum e a que explicaria fobias raras, como medo de flauta, espelho, galinha, entre outras. “Pode acontecer de a pessoa passar por uma situação em que ela é exposta a algo ameaçador e algum objeto presente nessa cena chame a atenção”, pontua o dr. Álvaro.

Como assim? Imagine que uma criança esteja em uma festa de aniversário, cheia de balões. De repente, ela vê outra criança caindo, se machucando, e fica muito amedrontada. Mesmo que o balão não tenha sido o objeto principal da cena, ele acaba sendo associado àquela experiência traumática. 

“Nem sempre a pessoa consegue acessar essa memória de forma consciente. Muitas vezes, ela não se lembra da situação que gerou aquele medo, já que a maioria das fobias se forma na infância, por volta dos 7 aos 10 anos de idade”, detalha o psiquiatra.

Veja também: Como saber se eu tenho claustrofobia?

 

Nem todo quadro é uma fobia

Por outro lado, nem tudo é, de fato, fobia. Muitos medos exagerados podem estar associados a quadros fóbicos ansiosos que ainda não foram diagnosticados.

Por exemplo: a nomofobia. Essa é uma fobia de ficar impossibilitado de se comunicar pela ausência de um dispositivo móvel, como um celular ou computador. Na realidade, ela pode indicar outros problemas, como a adição em aparelhos eletrônicos ou a falta de repertório para se relacionar com as pessoas.

“Às vezes, a pessoa só consegue ter interação social através de aplicativos. Então a ideia de estar desconectado gera uma angústia muito grande”, explica o dr. Álvaro.

O mesmo acontece com as fobias de certos alimentos, como a lanchanofobia (medo de vegetais) ou a turofobia (medo de queijos). Ainda que o medo possa ter se originado em uma situação de engasgo ou algo semelhante na infância, ele também pode ser causado por uma restrição alimentar, como ocorre no transtorno do espectro autista (TEA).

“No TEA, o indivíduo tem uma predileção específica por alguns alimentos e acaba recusando todos os outros tipos. Pode ainda ser um caso de anorexia, em que a pessoa se recusa a se alimentar pelo medo de ganhar peso”, elenca o psiquiatra.

Transtornos de imagem corporal também podem estar por trás de supostas fobias de partes do corpo, como a onfalofobia (medo de umbigo), caetofobia (medo de pelos e cabelos) ou a genufobia (medo de joelhos). 

“Pode ser um transtorno dismórfico corporal ou algum quadro psicótico em que a pessoa tem uma ideia persecutória em relação àquela parte do corpo”, alerta o dr. Álvaro. “Muitas vezes, tem que ser mais bem detalhado para entender se realmente é um quadro fóbico ou se tem outras justificativas”, continua.

Veja também: Falta de informação ajuda a estigmatizar transtornos mentais

 

Não tratar outros transtornos também pode explicar fobias

Frequentemente, o não diagnóstico ou a falta de tratamentos desses transtornos justificam as fobias, já que a cronificação de quadros ansiosos pode evoluir para um medo generalizado.

“O indivíduo teve um ataque de pânico, algo que geralmente não tem um gatilho específico, na fila da padaria. A reação foi tão intensa e traumática, que ele desenvolveu um desconforto em ir à padaria. Se é um transtorno de pânico que não está sendo adequadamente tratado, pode acontecer de ele ter outra crise em uma farmácia. Aí não vai mais à farmácia. Assim, começa a se restringir a uma série de estímulos por medo de passar por aquela experiência de novo”, ilustra o psiquiatra.

Outro exemplo é o de uma pessoa que tem síndrome do intestino irritável, cujo sintoma, entre outros, é a urgência para evacuar. Por medo de passar por algum tipo de constrangimento, ela acaba estendendo esse receio às situações em que não conseguiria ir rapidamente para um banheiro, como filas, ambientes fechados, shows, entre outros.

“Antigamente, a pantofobia [medo de tudo] era descrita como uma patologia, mas hoje está mais para um transtorno de ansiedade generalizada. O indivíduo começa a se preocupar com várias experiências que possam causar algum tipo de sofrimento e evita situações do cotidiano”, exemplifica.

 

O que fazer?

Quando o medo em questão estiver afetando a sua vida, é muito importante procurar um psicólogo ou psiquiatra a fim de receber o diagnóstico adequado. Se for mesmo uma fobia específica, o tratamento envolve terapia de exposição ou cognitivo-comportamental, além de ansiolíticos e medicamentos antidepressivos em alguns casos.

Veja também: Fobias: tipos mais comuns, sintomas e formas de tratamento

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