Comer emocional é diferente de compulsão alimentar

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Publicado em: 6 de setembro de 2022

Revisado em: 8 de setembro de 2022

Comer emocional é diferente de compulsão alimentar, um transtorno alimentar caracterizado por episódios frequentes de exagero alimentar. Saiba como funciona o tratamento.

 

Exagerar na comida durante uma festa de aniversário ou acabar repetindo um doce no final de um dia estressante é algo que pode acontecer com qualquer pessoa, e não há nada de anormal nisso. Muita gente confunde episódios de fome emocional ou eventual exagero alimentar com compulsão, mas não é bem assim.

A compulsão alimentar é um transtorno alimentar cujo principal aspecto é a ingestão – durante um curto período de tempo – de uma quantidade de alimentos muito maior do que a maioria das pessoas comeria naquela circunstância, e esse episódio normalmente é associado à sensação de falta de controle, de não conseguir parar de comer ou controlar a quantidade do que está comendo. E, diferentemente do que se possa pensar, a compulsão não acontece apenas com doces. Os episódios compulsivos também podem ocorrer com salgados, incluindo alimentos consumidos nas refeições principais ou fora delas. 

“A palavra compulsão hoje infelizmente está sendo usada à toa. A gente naturalmente vai ter exageros em uma festa, ou diante de um doce que há muito tempo você está tentando resistir. Isso é normal do ser humano. Agora, compulsão alimentar é uma doença psiquiátrica. É um comportamento bem mais preocupante, onde a pessoa vai comer uma quantidade muito maior do que uma pessoa que não tem compulsão”, afirma a nutricionista Sophie Deram, autora do livro “O peso das dietas”. 

        Veja também: Buscar prazer na comida é normal; o problema é sentir culpa depois

 

Sintomas da compulsão alimentar

Segundo o dr. Alexandre Pinto de Azevedo, psiquiatra e coordenador do Grupo Especializado em Comer Compulsivo e Obesidade do Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), no transtorno de compulsão alimentar, os episódios de compulsão devem ocorrer pelo menos uma vez por semana durante três meses. 

“Aspectos adicionais são relevantes, como comer mais rapidamente do que o normal, comer até se sentir desconfortavelmente cheio, comer grandes quantidades de alimento na ausência da sensação física de fome, comer sozinho por vergonha do quanto se está comendo, sentir-se desgostoso de si mesmo, triste ou muito culpado em seguida, além de significativo sofrimento marcante em virtude da compulsão alimentar”, explica o médico. 

É comum que nos casos de compulsão alimentar a pessoa coma escondida das outras por sentir vergonha e culpa do descontrole durante um episódio compulsivo. 

 

Comer emocional

O comer emocional, como é chamado na prática clínica, é um comportamento no qual a pessoa busca comida mesmo na ausência da fome física, que é fisiológica. Pode ser impulsionado tanto por sentimentos negativos quanto positivos (por exemplo, comer para lidar com um sentimento ruim ou para celebrar uma notícia boa). 

“Usualmente, são alimentos que caracterizam boas lembranças afetivas do passado e/ou trazem uma experiência hedônica, de intenso prazer, conforto e/ou alívio, ao serem ingeridos. Em geral, são alimentos altamente palatáveis, podendo ser doces ou salgados, a depender da característica histórica gustativa particular de cada um”, explica o psiquiatra.

Buscar conforto na comida é normal. O que é preocupante é quando esse hábito se torna um refúgio para lidar com os sentimentos e emoções. 

“É normal ter fome psicológica, porque o ser humano se nutre de alimentos e sentimentos. O ato de comer é fisiológico, mas também psicológico. O problema da fome emocional é quando a pessoa só sabe resolver as dores dela comendo. E aí acaba comendo mais do que precisa e acaba colocando até a saúde em perigo”, afirma Sophie. 

 

Dieta restritiva não é o caminho

Os especialistas recomendam que pessoas com compulsão alimentar evitem dietas restritivas. Quanto mais a pessoa se restringe, maior o risco de ela ter um episódio compulsivo posteriormente, porque o cérebro que está passando pela restrição pode desencadear mecanismos de perda de controle que levam à compulsão. 

“O primeiro passo para uma pessoa que tem compulsão alimentar é parar de fazer dieta, ou seja, ela deve comer e nutrir o corpo. Sair daquela vida de dieta restritiva”, destaca a nutricionista. 

Segundo o médico, já é sabido que dietas restritivas quantitativas e qualitativas geralmente são precipitadoras em pessoas predispostas a episódios de compulsão alimentar. 

“Assim, dietas restritivas em pessoas que possuem a comorbidade entre transtorno de compulsão alimentar e sobrepeso/obesidade devem ser definitivamente evitadas, pelo risco de serem mantenedoras do quadro de impulsividade alimentar. A proposta é adquirir um bom controle dos episódios de compulsão alimentar e melhorar, como consequência, as escolhas alimentares”, explica o médico.

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Tratamento da compulsão alimentar

O diagnóstico do transtorno de compulsão alimentar é feito pelo médico psiquiatra, e o acompanhamento normalmente é multidisciplinar, portanto, também inclui acompanhamento nutricional e psicológico, com terapia cognitivo-comportamental.

“O tratamento medicamentoso se faz presente a depender da severidade dos sintomas e da presença de outras doenças mentais associadas, como depressão e ansiedade, que mereçam simultaneamente a indicação de terapêutica farmacológica”, afirma o psiquiatra.

“É importante o acompanhamento de um nutricionista, mas não qualquer nutricionista. É um nutricionista que trabalha sem dieta [com foco em comportamento alimentar]. Muitas vezes o nutricionista não preparado pode piorar o caso com dicas do tipo ‘é só não comprar chocolate’, ‘é só tentar pensar em outra coisa’. E não. É uma doença psiquiátrica”, completa Sophie. 

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