As alucinações surgem devido a uma desregulação da atividade cerebral provocada por doenças ou uso de substâncias.
As alucinações ocorrem quando o indivíduo tem a convicção de que está vendo, sentindo e/ou ouvindo coisas que, na realidade, não estão lá. De forma geral, são experiências sensoriais que podem afetar qualquer um dos sentidos, como visão, audição, tato, olfato e paladar.
“A pessoa com alucinação pode ser estimulada por mais de duas vias, ou seja, ver e ouvir algo ou simplesmente sentir o gosto de alguma coisa que não comeu. Nem sempre as alucinações estão associadas a uma doença, podem aparecer após uso de substâncias ou por conta dos efeitos colaterais de algumas medicações”, explica a dra. Lívia Beraldo, psiquiatra do Hospital Nove de Julho (SP).
Por que as alucinações acontecem?
Os especialistas acreditam que as alucinações ocorrem devido a uma desregulação da atividade neural no cérebro. A condição tende a surgir após áreas do órgão, responsáveis pelo processamento sensorial, serem afetadas. Isso gera informações sensoriais falsas que acabam sendo percebidas como reais.
“Além disso, pode acontecer uma hiperatividade neuronal, ou seja, quando certas regiões do cérebro se tornam excessivamente ativas, levando à percepção de estímulos sensoriais que não existem”, destaca o dr. Raphael Ribeiro Spera, neurologista do Hospital Sírio-Libanês (SP).
Outras causas:
- Desequilíbrios nos níveis de neurotransmissores (como a dopamina e a serotonina): influenciam a percepção sensorial e contribuem para alucinações;
- Ativação de memórias e emoções armazenadas no cérebro: causam a condição, principalmente quando relacionadas a eventos traumáticos passados;
- Uso de substâncias, como alucinógenos como o LSD: afetam os receptores de neurotransmissores no cérebro, causando alterações na percepção e na experiência sensorial.
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Principais tipos e causas de alucinações
- Alucinações auditivas: envolvem a percepção de sons, vozes e ruídos. A pessoa ouve sussurros e até outros indivíduos falando. É mais frequente em quem tem outras condições, como esquizofrenia.
- Alucinações visuais: surge a percepção de imagens, objetos ou cenas que não existem no ambiente real. É comum em casos de distúrbios psicóticos, enxaquecas, abuso de substâncias e outras condições neurológicas.
- Alucinações táteis: aparece a sensação de toque, pressão ou coceira na pele sem que haja qualquer estímulo real. Ocorre em casos de estresse pós-traumático e abuso de substâncias, por exemplo.
- Alucinações olfativas: envolvem a sensação de cheiros (agradáveis ou não) que não estão presentes no ambiente. Geralmente, as alucinações estão associadas a alguma experiência negativa, como um trauma.
- Alucinações gustativas: surge a percepção de sabores que não têm origem real em alimentos ou substâncias. São condições mais raras e estão associadas a condições neurológicas e psiquiátricas.
- Alucinações cenestésicas (ou cinestésicas): provocam sensações alteradas de movimentos de partes do corpo.
Diagnóstico
O diagnóstico de alucinações é realizado geralmente por um psiquiatra após análise dos sintomas, como a frequência com que surgem, a duração e o impacto na rotina do indivíduo.
O médico poderá solicitar exames de imagens, como ressonância magnética, ou testes laboratoriais, como hemograma, para descartar outras condições médicas, como epilepsia, infecções, enxaquecas, entre outras.
Também deve ser realizada uma avaliação psiquiátrica para a averiguar possíveis transtornos mentais, como esquizofrenia, transtorno bipolar ou transtorno de estresse pós-traumático. Também é importante checar o uso de substâncias.
Dessa forma, é possível avaliar a causa das alucinações e o que está contribuindo para o seu surgimento.
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Tratamento
O tratamento varia conforme a causa das alucinações e deve ser individualizado. Geralmente, são prescritos medicamentos, como antipsicóticos ou antidepressivos.
Além disso, recomenda-se realizar a terapia cognitiva-comportamental para que a pessoa aprenda a lidar com as alucinações, controle pensamentos irracionais e desenvolva ferramentas de enfrentamento.
Viver com alucinações e sintomas psicóticos pode ser uma experiência avassaladora.
“É desafiante tanto para a pessoa quanto para a família, já que há mudanças comportamentais. Em alguns casos, aumenta-se a agressividade devido à realidade alterada. Muitos não conseguem mais ter vida social, trabalhar ou estudar e vivem com medo em excesso, deixando a rotina de lado. Portanto, o apoio de pessoas próximas é fundamental para que ela ganhe qualidade de vida ao buscar tratamento o quanto antes”, finaliza a dra. Beraldo.