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Proctologia

Colostomia: o que é, quando é indicada e principais cuidados com a bolsa coletora

jovem com bolsa de colostomia
Publicado em 21/06/2023
Revisado em 22/06/2023

O procedimento de colostomia exterioriza uma parte do intestino grosso por meio da parede abdominal e é indicado quando o órgão não funciona adequadamente.

 

É provável que você já tenha visto alguém usando uma bolsa coletora (ou de ostomia) em algum lugar público, nas passarelas ou nas redes sociais. 

De forma bastante simplificada, as pessoas ostomizadas realizam uma cirurgia em alguma região do corpo para abrir uma passagem alternativa para o meio exterior, ou seja, para possibilitar a saída de fezes e urina ou também para auxiliar na respiração e na alimentação. No Brasil, estima-se que 400 mil pessoas tenham a bolsa de ostomia. 

A colostomia é um tipo de ostomia bastante comum, que é realizada para exteriorizar uma parte do intestino grosso por meio da parede abdominal. Sendo assim, permite a saída de fezes para a bolsa coletora, quando por algum motivo o intestino não pode funcionar adequadamente, de forma temporária ou definitiva. 

Vale destacar que a bolsa coletora é formada por um saco para coletar as fezes, que fica acoplado a uma placa adesiva fixada no abdômen e protege a pele do contato com o material eliminado pela abertura cirúrgica realizada na parede abdominal.

“O procedimento é relativamente simples. Faz-se um orifício na pele do abdômen em local previamente definido, realiza-se a abertura da espessura da parede abdominal por esse orifício cutâneo e exterioriza-se a alça intestinal escolhida para ser o estoma, suturando a borda da alça exteriorizada na pele do abdômen (estoma)”, explica Victor Edmond Seid, especialista em cirurgia do aparelho digestivo, coloproctologia e cirurgião do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. 

 

Quando a colostomia é indicada?

As condições que podem exigir uma colostomia incluem algumas doenças, lesões ou problemas no funcionamento do aparelho digestivo. Entre elas, estão: 

  • Doença de Crohn
  • Diverticulite
  • Lesões ou traumatismo no cólon ou reto
  • Obstrução intestinal; 
  • Após uma perfuração intestinal com contaminação da cavidade abdominal;
  • Fístulas ou feridas no períneo;
  • Ânus imperfurado, com abertura bloqueada ou inexistente;  
  • Câncer colorretal

“O principal objetivo de um estoma (colostomia ou ileostomia) é desviar o trânsito intestinal, ou seja, fazer com que o conteúdo intestinal seja extravasado, e não chegue às porções distais do intestino”, complementa o dr. Seid. 

        Veja também: Como é conviver com a Doença de Crohn | Jana Viscardi

 

Tipos de colostomia

A colostomia pode ser utilizada por um curto prazo, de forma temporária, por apenas alguns meses, para que o intestino se recupere de um trauma, por exemplo. Mas também há casos em que o procedimento é permanente e necessário ao longo da vida. 

Portanto, há diferentes tipos de colostomia, que são indicados conforme o local do cólon que necessita do procedimento. Veja abaixo os principais tipos. 

  • Colostomia ascendente: nesses casos, apenas uma pequena porção do cólon permanece ativa e o procedimento é realizado do lado direito do abdômen. Não é tão comum e, geralmente, as fezes apresentam uma consistência mais líquida. Muitas vezes, nessas situações, recomenda-se a ileostomia, que liga o intestino delgado ao meio externo. 
  • Colostomia transversa: é feita na parte superior do intestino, no cólon transverso. As fezes são pastosas e o procedimento costuma ser temporário. 
  • Colostomia descendente: é realizada no lado esquerdo do abdômen. As fezes são pastosas. 
  • Colostomia sigmoidea (sigmoide): é feita na parte inferior do abdômen, local em que o intestino grosso se aproxima do reto. As fezes saem formadas e não irritam a pele.

 

Cuidados com a bolsa coletora e adaptação

Para realizar uma colostomia (ou ostomia) é preciso um preparo pós-operatório com uma equipe multidisciplinar, que deve contar com médicos, enfermeiros, nutricionistas e psicólogos.

É importante esclarecer todas as dúvidas antes do procedimento. A recomendação é que o paciente ou o cuidador seja treinado por um profissional para o manejo correto da bolsa. 

“Se for uma colostomia eletiva, é importante marcar na pele o local adequado para a confecção do estoma antes da cirurgia, isso ajudará na melhor adaptação da bolsa. Após o procedimento, é feito um treinamento com o paciente para o uso correto da bolsa. Sempre que possível, o estomaterapeuta [enfermeiro especializado em ostomias] deve participar do pré e pós-operatório”, destaca João Fraga, membro titular da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. 

Alguns cuidados necessários com a bolsa coletora: 

  • O principal cuidado é com a boa adaptação da bolsa coletora com a pele; 
  • Pode ser preciso o uso de pomadas de preenchimento ou protetores para a pele;
  • O treinamento para esvaziar e limpar a bolsa também é crucial para o conforto e segurança;
  • A pele ao redor do estoma precisa sempre estar limpa e depilada. A limpeza é realizada com água e sabão neutro, além de uma esponja macia;
  • No início, o indivíduo deve receber acompanhamento nutricional para mudar alguns hábitos alimentares e ter mais conforto na hora da digestão e eliminação das fezes; 
  • É importante não carregar muito peso ou usar força excessiva no abdômen.

        Veja também: Câncer de intestino é um dos mais frequentes no Brasil

 

Possíveis complicações 

Como todo procedimento cirúrgico, existem possíveis complicações ao realizar a colostomia. Entre elas, estão: 

  • “Desabamento” da colostomia, ou seja, quando ela se desprende da parede do abdômen e pode contaminar a cavidade abdominal;
  • A colostomia pode apresentar um prolapso (quando o intestino sai exageradamente da pele) ou uma hérnia; 
  • Podem surgir processos alérgicos (dermatites) causados pelo contato com o material da bolsa; 
  • Obstrução intestinal, devido à abertura em tamanho inadequado da parede ou por torção da alça exteriorizada.

“Muitas vezes, colostomias que já poderiam ter sido fechadas não são feitas por falta de orientação e encaminhamento aos serviços de cirurgia, assim como devido à lentidão na realização de exames pré-operatórios e liberação de guias de cirurgia. Seria interessante ter um programa para agilizar esses procedimentos, o que diminuiria o tempo do uso da colostomia e o número de ostomizados em nosso país”, opina o dr. Fraga. 

 

Saúde mental dos ostomizados

A falta de conhecimento e informação sobre os ostomizados gera dúvidas e preconceitos que impactam diretamente a saúde mental. Ainda hoje é comum que as pessoas escondam a bolsa coletora para evitar comentários desagradáveis ou ter de lidar com a curiosidade alheia. 

“Apesar de ser um procedimento necessário, muitas vezes, para salvar vidas, a colostomia altera a imagem corporal. Algumas vezes, a saída de fezes e gases produz sons que podem constranger. Neste sentido, o apoio de amigos e familiares é muito importante, mas também pode ser necessário o acompanhamento psicológico”, afirma o dr. Fraga.

Os especialistas destacam que é possível ter uma vida praticamente normal com uma colostomia. Quem foi ostomizado pode realizar atividades físicas, manter relações sexuais, trabalhar e seguir a rotina do dia a dia. 

“Existem atletas e até mesmo modelos de passarela ostomizados. Os recursos e tecnologias para os cuidados com a bolsa coletora avançaram nas últimas décadas de tal forma que uma pessoa adaptada pode ter uma vida plena e feliz”, finaliza o dr. Seid.

        Veja também: Você já ouviu falar sobre Doença de Crohn e retocolite ulcerativa?

 

Sobre a autora: Samantha Cerquetani é jornalista com foco em saúde e ciência e colabora com o Portal Drauzio Varella. Escreve sobre medicina, nutrição e bem-estar.

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