Conheça os benefícios e os principais cuidados que devem ser tomados durante a prática de atividades físicas para pessoas que vivem com DPOC.
A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é, na verdade, um conjunto de doenças que inclui bronquite crônica e enfisema pulmonar. A maioria dos casos está associada ao tabagismo, e o principal sintoma é a falta de ar, principalmente quando a pessoa faz algum tipo de esforço. Por isso, é comum que os pacientes tenham dificuldade ou até receio de praticar atividades físicas, mas esse hábito não é só permitido, como recomendado.
Recentemente, um estudo conduzido por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e publicado na revista “Pulmonology” apontou o exercício físico como o método mais eficaz de reabilitação nos casos de DPOC.
“Pessoas com doença pulmonar obstrutiva crônica podem e devem praticar exercícios físicos. Esta prática faz parte do tratamento da doença, além de prover benefícios gerais à saúde, como ocorre com qualquer outra pessoa. No entanto, é fundamental ter algumas precauções”, explica o dr. Ricardo de Amorim Corrêa, pneumologista e presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).
Segundo o médico, os principais cuidados são:
- Passar por uma avaliação médica antes de iniciar qualquer atividade física para evitar complicações cardiovasculares e ortopédicas;
- Evitar esforços excessivos e respeitar os limites do corpo, pois isso ajuda no controle da dispneia (falta de ar) e permite uma progressão individual do esforço;
- Manter uma hidratação adequada e evitar exercícios em locais muito frios, quentes ou poluídos;
- Buscar programas supervisionados – como a reabilitação pulmonar –, pelo menos no início, pois eles otimizam a adesão e sucesso do programa;
- Alguns pacientes podem necessitar do uso de oxigênio suplementar, o que poderá ser indicado pelo médico na avaliação inicial.
Benefícios do exercício físico para quem tem DPOC
O especialista esclarece que o exercício físico não reverte a limitação pulmonar espirométrica (a capacidade pulmonar espirométrica total é a quantidade de ar que os pulmões conseguem armazenar após uma inspiração) causada pela DPOC, mas melhora a eficiência da musculatura respiratória e periférica e, com isso, reduz a sensação de fadiga e dispneia. “Além disso, melhora a ventilação pulmonar e o condicionamento físico, permitindo que o paciente realize suas atividades diárias com menos esforço e mais autonomia”, afirma.
De forma geral, os benefícios do exercício físico para pessoas com DPOC incluem:
- Redução da dispneia e fadiga;
- Aumento da tolerância ao esforço e da capacidade funcional;
- Melhora da força muscular, especialmente dos músculos respiratórios e periféricos;
- Redução de exacerbações – as conhecidas crises agudas de falta de ar – e de hospitalizações;
- Melhora da qualidade de vida, da autonomia e do bem-estar físico e mental.
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Quais exercícios físicos são recomendados?
Se exercitar é importante, mas é preciso se atentar ao tipo de atividade escolhida. De acordo com o dr. Ricardo, os exercícios físicos indicados para a DPOC são os seguintes:
- Exercícios aeróbicos (como caminhada, ciclismo estacionário e natação) para melhorar a resistência cardiovascular;
- Treinamento de força (com pesos leves e resistência progressiva) para fortalecer os músculos, especialmente das cinturas escapular e pélvica;
- Exercícios respiratórios, como o treinamento dos músculos inspiratórios, para melhorar a mecânica respiratória.
- Alongamentos e exercícios posturais, que ajudam na mobilidade e na respiração.
Por outro lado, devem ser evitados exercícios de alta intensidade sem adaptação prévia, pois podem gerar fadiga excessiva e complicações ortopédicas graves, além de exercícios que exigem esforço súbito e intenso (como levantamento de peso excessivo) e atividades em ambientes muito quentes, frios ou poluídos, que podem desencadear exacerbações da doença.
Além do tipo de exercício, o médico destaca que a frequência e intensidade também devem ser levadas em conta. Os exercícios aeróbicos podem ser praticados de três a cinco vezes por semana, de 20 a 60 minutos, com intensidade moderada (mantendo uma respiração controlada e sem dispneia excessiva), enquanto o treinamento de força pode ser feito de duas a três vezes semanais, com cargas leves a moderadas. Já os exercícios respiratórios podem ser praticados diariamente.
“O nível de intensidade deve ser ajustado de acordo com a tolerância do paciente, sempre sob orientação profissional”, alerta.
Acompanhamento profissional e exames necessários
“O acompanhamento de um profissional ou de uma equipe multiprofissional (fisioterapeuta, educador físico ou médico) é essencial porque garante que o paciente pratique exercícios seguros e eficazes com segurança, permite ajustar a intensidade e progressão do treino conforme a capacidade e ritmo individuais, permite dosar o esforço e monitorar sinais de fadiga, dispneia ou necessidade de oxigênio suplementar, reduz o risco de eventos adversos e mantém a motivação do paciente, fundamentais para a boa adesão”, detalha o pneumologista.
Também é muito importante que o paciente passe por uma avaliação médica completa antes de iniciar qualquer programa de exercícios. Essa avaliação, segundo o dr. Ricardo, deve incluir um exame de espirometria para avaliar a função pulmonar, teste de caminhada de seis minutos para medir a capacidade funcional do paciente e teste ergométrico ou ergoespirométrico para determinar a intensidade segura do exercício do ponto de vista cardiovascular.
Por último, também recomenda-se uma avaliação cardiovascular, especialmente para pacientes com comorbidades. “Esses exames são importantes para garantir que o exercício seja adequado ao estado clínico do paciente e evitar complicações”, finaliza o especialista.
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