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Pediatria

Uma em cada 3 crianças tem miopia, mostra estudo

Menina com miopia faz exame oftalmológico
Publicado em 26/09/2024
Revisado em 26/09/2024

Estudo mostra que uma a cada três crianças tem miopia. A pandemia de covid-19 é apontada como uma das causas para o aumento dos casos. Leia na coluna de Mariana Varella.

 

Uma em cada três crianças tem miopia ou dificuldade para ver de longe, revelou uma revisão sistemática e meta-análise publicada no “British Journal of Ophthalmology“, que analisou pesquisas com mais de 5 milhões de crianças de 50 países dos seis continentes.

Para os pesquisadores, o isolamento social imposto durante a pandemia de covid-19 teve um impacto negativo na visão das crianças, que ficaram mais tempo expostas a telas e menos ao ar livre.

Veja também: Os olhos das crianças

O aumento dos casos de miopia tem sido uma preocupação no mundo todo. Entre 1990 e 2023, houve um aumento de 36% dos casos, em especial depois da pandemia. De acordo com os pesquisadores, até 2050 o problema irá afetar mais milhões de crianças.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), por sua vez, estima que até 2050 metade da população mundial será míope.

 

Miopia

A miopia,  distúrbio visual caracterizado por um globo ocular mais “longo”, o que provoca a formação da imagem antes que a luz chegue até a retina, tem fatores genéticos e ambientais. Filhos de pai ou mãe míopes têm risco maior de desenvolver o problema.

Estudantes jovens, em especial as crianças em fase pré-escolar, são os mais vulneráveis aos fatores ambientais relacionados à condição.

No geral, a miopia começa na infância, e tende a progredir na adolescência até o início da vida adulta.

O principal sintoma da miopia é a dificuldade para enxergar a distância. Preste atenção se seu filho:

  • Apresenta dificuldade para ler a distância na escola (não consegue enxergar o que está escrito na lousa, por exemplo);
  • Senta-se muito perto da televisão ou do computador ou ainda segura o celular muito próximo ao rosto;
  • Sofre de dor de cabeça;
  • Esfrega ou “aperta” os olhos com frequência.

As Sociedades Brasileiras de Pediatria e de Oftalmologia Pediátrica recomendam que os pais levem seus filhos para a primeira consulta oftalmológica entre os seis meses e um ano de idade.

Veja também: Cresce o número de crianças com miopia

 

Aumento de casos de miopia no Leste asiático

As maiores taxas de miopia ocorrem na Ásia, ainda de acordo com os pesquisadores. No Japão, 85% das crianças são míopes; na Coreia do Sul, 73% e na China, 40%.

O início precoce da vida escolar, muito comum na Ásia, e a alta carga horária nas escolas, com pouco tempo livre, são fatores apontados como

Isso porque passar muito tempo concentrado em livros e telas no início da infância tensiona os músculos oculares e pode levar à miopia, de acordo com os pesquisadores.

Na África, onde as crianças costumam começar a frequentar as escolas entre seis e oito anos, o número de crianças com miopia é sete vezes mais baixo do que no Leste Asiático. Em Uganda, por exemplo, apenas 1% das crianças tem a condição.

 

Pandemia de covid-19

Durante a pandemia de covid-19, quando milhões de pessoas precisaram ficar restritas em casa por longos períodos, a visão das crianças e adolescentes foi afetada.

Um artigo publicado no periódico “Jama Ophalmology” afirma que 2020 foi o “ano da miopia de quarentena”. O problema não tem nada a ver com o vírus da covid-19, ao menos não diretamente, mas com o confinamento rígido imposto, em especial nos países asiáticos.

O artigo cita um estudo realizado por pesquisadores norte-americanos e chineses que revelou um aumento de 1,4 a 3 vezes na prevalência de miopia entre crianças de seis a oito anos em 2020, comparado com cinco anos anteriores.

 

Prevenção

As crianças devem passar ao menos duas horas por dia em ambientes abertos, com luz solar, para reduzir o risco de desenvolver miopia.

Ainda não está claro se é a presença da luz natural do sol, o exercício ao ar livre ou o fato de os olhos das crianças estarem focados em objetos mais distantes que fazem a diferença, mas não há dúvidas de que estar ao ar livre ajuda a prevenir o problema.

“Acredita-se que a exposição à luz solar, não ao sol direto, mas à luz do dia estimule a produção da dopamina, um neurotransmissor ligado aos mecanismo e recompensa e prazer e que promove o crescimento saudável do olho”, explicou ao Portal o pediatra e sanitarista Daniel Becker.

Além da falta de luz solar, outro fator que parece estar relacionado ao aumento de casos de miopia é a falta de estímulo da visão à distância. “A falta de alternância da fixação do foco do olho em pequenas e longas distâncias parece ser prejudicial”, comentou o dr. Becker.

Pesquisadores afirmam que intervenções que visem a aumentar a permanência de crianças em ambientes com luz natural podem reduzir a incidência de miopia em aproximadamente 50% e diminuir em 32,9% a progressão do distúrbio em crianças já míopes. “A luz natural ajuda a controlar a progressão da miopia”, explicou ao Portal Andréa Zin, oftalmologista pediátrica do Instituto Brasileiro de Oftalmologia (Ibol), no Rio de Janeiro..

Um estudo em duas escolas de Taiwan mostrou a importância da luz na redução de casos de miopia. Alunos de uma das escola foram encorajados a passara 80 minutos diários ao ar livre, enquanto os estudantes da outra escola da região não faziam atividades ao ar livre. Após um ano, 8% das crianças da primeira escola foram diagnoticadas com miopia, ante18% da segunda escola.

 

Uso de telas

Embora ainda não seja possível estabelecer uma relação de causa e efeito entre o uso excessivo de telas e o aumento de casos de miopia, há estudos mostrando uma associação entre ambos. Uma meta-análise publicada no “The Lancet” sugere que a exposição a aparelhos eletrônicos pode estar associada à miopia.

De toda forma, especialistas e organizações médicas do mundo todo têm alertado para os danos que o uso excessivo desses aparelhos pode causar à saúde e à socialização das crianças, em especial as pequenas.

Limitar seu uso, portanto, é recomendado pela OMS e outras entidades médicas brasileiras e internacionais.

 

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