Saiba quais são os fatores de risco e como funciona o teste do coraçãozinho, que diagnostica cardiopatias em recém-nascidos.
As cardiopatias congênitas são um conjunto de malformações na estrutura ou na função do coração que surgem durante o desenvolvimento fetal. No Brasil, são quase 30 mil casos por ano. A cada mil bebês, 10 nascem com alguma cardiopatia. A condição é uma das principais causas de morte em recém-nascidos com até 30 dias.
“[A cardiopatia] pode ser desde um defeito pequeno na estrutura do coração, que não tem repercussão, até o estreitamento de uma das válvulas do coração, principalmente a pulmonar e aórtica”, explica a dra. Cristiane Binotto, cardiologista pediátrica do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba (PR).
O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para prevenir o risco de complicações graves.
Os fatores de risco incluem condições maternas como o diabetes – principalmente o tipo 1, mas também o diabetes gestacional –, hipotireoidismo, hipertensão, lúpus, infecções como rubéola e sífilis e uso de medicamentos e drogas, como cocaína, por exemplo.
“Quando a mulher é cardiopata e já tem um filho também com a enfermidade, a chance de ela gerar outra criança com alterações cardíacas aumenta”, alerta a dra. Ieda Jatene, cardiologista responsável pelo Serviço de Cardiologia Pediátrica e Cardiopatias Congênitas do Hcor, em São Paulo (SP).
Teste do coraçãozinho
A malformação no coração pode ser identificada ainda durante a gestação, através do ecocardiograma fetal, realizado entre 21 e 28 semanas, ou logo depois do nascimento, por meio do teste do coraçãozinho, realizado entre 24 e 48 horas após o parto. O exame é feito com um oxímetro que mede os níveis de oxigênio no sangue e os batimentos cardíacos do bebê.
“Você coloca o oxímetro no braço direito do bebê e no membro inferior, e a saturação tem que ser maior que 93% – alguns lugares consideram 95%. A diferença entre o membro superior e o inferior não pode ser maior que 3%. Se der positivo, ou seja, se a saturação estiver abaixo disso, o exame deve ser repetido em uma hora. Se continuar baixa, o bebê não pode sair da maternidade sem o ecocardiograma”, explica a dra. Cristiane.
Segundo a médica, se for identificada a presença de uma cardiopatia, dependendo do caso, o bebê precisa ser encaminhado para a UTI e iniciar a medicação.
“É um exame de baixo custo, rápido, não invasivo, indolor e obrigatório, também oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS)”, destaca a dra. Ieda.
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Sinais de alerta
Em alguns casos, é possível que os sinais da cardiopatia só apareçam mais tarde. Por isso, é importante prestar atenção aos sintomas e, caso haja suspeita, consultar o pediatra. Os bebês com cardiopatia podem apresentar pontas dos dedos e/ou língua roxa, cansaço excessivo durante as mamadas, dificuldade em ganhar peso, irritação frequente e choro sem consolo.
“Às vezes, é aquele bebê que começa a recusar as mamadas, não consegue mamar ou está mamando muito pouquinho e fica muito irritado. A gente tem que observar também as taquicardias – apesar de o bebê ser mais taquicárdico do que a criança normalmente. Mas uma taquicardia acima do normal, acima de 170, 180, é um sinal de alerta”, destaca a dra. Cristiane.
Nas crianças, é observado cansaço excessivo durante a prática de atividades físicas, crescimento e ganho de peso de forma não adequada, lábios roxos, pele mais pálida depois de brincar muito, coração com ritmo acelerado e desmaio.
Tratamento das cardiopatias
O tratamento das cardiopatias congênitas pode incluir o uso de medicamentos e procedimentos como cateterismo e cirurgias. Cerca de 80% dos pacientes com esse diagnóstico precisarão fazer alguma cirurgia cardíaca ao longo da vida.
“Nos casos de cardiopatias graves, o tratamento adequado nos primeiros dias de vida é fundamental. Quanto mais cedo o diagnóstico for feito, mais chance teremos de evitar que a criança faça uma lesão preocupante incompatível com cirurgia ou outro problema associado, como os neurológicos. Por isso, o diagnóstico ainda na gravidez é tão importante, para que o bebê tenha a assistência necessária assim que nascer”, alerta a dra. Cristiane.
Para alguns pacientes, a indicação é um transplante de coração, mas esse tipo de procedimento é mais difícil em bebês. “Aqui nós não temos transplante em recém-nascidos porque é muito difícil conseguir doadores. Então, os nossos transplantes são realizados em crianças mais velhas, porque a gente consegue doador mais rápido”, completa a médica do Pequeno Príncipe.
A dra. Ieda, especialista do Hcor, destaca que em muitos casos a intervenção logo após o diagnóstico é necessária para melhorar o prognóstico. “O tratamento pode começar ainda na fase fetal, após um diagnóstico intrauterino, e seguir por toda a vida. Existem cardiopatias que, ao serem tratadas na infância, permitem o desenvolvimento de uma forma muito próxima da normalidade.”
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