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Otorrinolaringologia

O que é a síndrome da boca ardente e como tratá-la?

A doença, que atinge principalmente as mulheres após a menopausa, ainda não tem uma causa definida. Conheça os sintomas e as formas de tratamento. 
Publicado em 16/09/2022
Revisado em 14/11/2024

A doença, que atinge principalmente as mulheres após a menopausa, ainda não tem uma causa definida. Conheça os sintomas e as formas de tratamento. 

 

A síndrome da boca ardente é uma doença que intriga a ciência. Apesar de ter sido descrita pela primeira vez em meados do século 19, segundo a literatura médica, os especialistas até hoje não sabem qual sua causa ou por qual motivo ela afeta, em sua maioria, as mulheres.

Parte do mistério se deve à dificuldade de diagnóstico. Não há exames ou testes específicos para determinar a sua existência, como acontece com outras doenças conhecidas, a exemplo do diabetes. Os pacientes normalmente saem da consulta sem ainda saber exatamente o que têm. 

“É um quadro em que a pessoa descreve com bastante clareza os sintomas, só que, quando você vai analisar e fazer a investigação, você não encontra nada. Portanto, sempre precisamos fazer um diagnóstico de exclusão”, esclarece Luis Francisco Duda, otorrinolaringologista do Hospital IPO, em Curitiba (PR).

Na medicina, um diagnóstico feito por meio de exclusão se refere àquele que restou após o descarte de todos os outros possíveis.

 

Quais os sintomas da síndrome da boca ardente?

Apesar da dificuldade de descobrir a causa, os sintomas da síndrome da boca ardente são bem característicos. “É uma dor tipo queimação na mucosa oral e na língua, como se a pessoa tivesse comido pimenta. Alguns pacientes também alegam alteração do paladar, gosto mais amargo e metálico na boca e sensação de boca seca”, explica Duda.

A dor não é intensa e dura mais de quatro meses. Além disso, costuma aumentar ao longo do dia e tende a piorar com alimentações quentes ou condimentadas, mas melhora com alimentos frios, segundo o médico. 

“Por isso, é muito comum os pacientes relatarem que ficam chupando gelo, porque a mastigação e o frio amenizam a sensação”, relata. 

Veja também: Os micróbios da boca | Artigo

 

Quem pode ter e por quê?

A prevalência da síndrome da boca ardente na população varia de 3,9% a 7% e atinge tanto homens quanto mulheres em qualquer faixa etária, segundo estudos publicados nos últimos anos. Essa incerteza sobre os números se deve justamente à dificuldade do diagnóstico.

Todas as pesquisas mostram, no entanto, que a condição acomete principalmente mulheres entre 55 e 60 anos na pós-menopausa, período após a última menstruação. A proporção é de três pessoas do sexo feminino para uma do sexo masculino – alguns trabalhos citam de sete para um.

Duda afirma que a mudança hormonal nessa fase da vida da mulher – caracterizada por alterações nos níveis dos hormônios estrogênio e progesterona – pode ter relação com a ardência bucal. Essa associação, no entanto, é apenas uma suspeita.

Além da questão hormonal, Duda conta que biópsias acadêmicas mostraram alguma ligação da doença com neuropatias – condições que afetam os nervos. Além disso, fatores psicológicos normalmente estão presentes.

“Muitos pacientes têm quadros depressivos ou de ansiedade. Mas a gente não sabe se é a ardência bucal que causa a ansiedade e a depressão, ou se são essas duas doenças que geram a ardência na boca. Mas a verdade é que elas estão muito próximas.”

 

Classificação da síndrome da boca ardente

A síndrome da boca ardente tem duas classificações: a primária e a secundária. 

A primária é aquele tipo misterioso descrito ao longo deste texto, que não tem causa definida e só pode ser atestada por meio de diagnóstico de exclusão e clínico.

Já a secundária é, geralmente, um sintoma de alguma outra doença, como diabetes, hipotireoidismo, síndrome de Sjögren (uma doença autoimune) e Parkinson. A deficiência de vitamina B12, segundo Duda, também pode estar ligada à doença.

A síndrome da boca ardente às vezes é associada com a herpes labial, uma doença viral que gera vermelhidão, ardor e pequenas bolhas de água nos lábios. As duas condições, no entanto, não estão relacionadas. 

 

Qual o tratamento para síndrome da boca ardente?

Os especialistas desta síndrome são otorrinolaringologistas e estomatologistas. A otorrinolaringologia lida com doenças nos ouvidos, nariz, garganta e pescoço, enquanto a estomatologia é uma especialidade odontológica que estuda as doenças da boca.

Não existe, no entanto, uma única forma ou um medicamento específico para lidar com a condição. Em 2018, uma revisão sistemática (tipo de pesquisa que avalia estudos já publicados) feita por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) citou cinco principais categorias de tratamento:

  1. Uso de antidepressivos;
  2. Ácido alfa lipoico (tipo de antioxidante); 
  3. Fitoterápicos;
  4. Agentes analgésicos/anti-inflamatórios;
  5. E terapias não farmacológicas, como a psicoterapia.

De acordo com os pesquisadores, a análise mostrou que a utilização de antidepressivos e ácido alfa lipoico vem apresentando resultados promissores. Porém, disseram, ainda não há uma estratégia de primeira linha, e que mais estudos são necessários. 

Duda comenta que a abordagem é individualizada e depende de cada caso. Ele também mencionou o uso de medicamentos antioxidantes, bem como ansiolíticos e antidepressivos para pessoas com depressão e ansiedade. “Alguns pacientes a gente encaminha para a psicoterapia”, finalizou.

Veja também: Tipos principais de herpes: labial, genital e zóster

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