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Oncologia

Lúpus e câncer: como é o tratamento de quem tem as duas condições?

Publicado em 30/01/2025
Revisado em 30/01/2025

É fundamental adaptar as abordagens terapêuticas às necessidades individuais para evitar complicações em pacientes com lúpus e câncer.

 

O tratamento de câncer em pacientes com doenças autoimunes, como o lúpus, exige cuidados adicionais devido à complexidade das duas condições. De forma geral, ambas  afetam o sistema imunológico, o que pode influenciar a eficácia e a segurança de abordagens, como a quimioterapia e a imunoterapia. 

Nas doenças autoimunes, o sistema imunológico, que normalmente protege o corpo contra infecções e doenças, passa a atacar células e tecidos saudáveis do próprio organismo. No caso do lúpus, contudo, essa reação pode prejudicar órgãos como a pele, as articulações e os rins, entre outros. Esse ataque provoca inflamação e lesões nos tecidos, o que torna o tratamento mais difícil, sobretudo quando o paciente também tem de lidar com o câncer.

“Entre os principais desafios no manejo do lúpus e de outras doenças autoimunes em pacientes com câncer, está a necessidade de garantir que as abordagens sejam eficazes e seguras tanto para o câncer quanto para a doença autoimune. Muitas vezes, o tratamento do câncer impede o uso de medicamentos essenciais para controlar a doença autoimune”, destaca a dra. Luciana Muniz, reumatologista e coordenadora do setor de Reumatologia do Hospital Sírio-Libanês, em Brasília.

        Veja também: Mortalidade por lúpus no Brasil é a mesma de 20 anos atrás

A seguir, listamos os principais desafios no tratamento de câncer em pacientes com doenças autoimunes, como lúpus. 

 

  • Dificuldade de diagnóstico precoce

O diagnóstico precoce do câncer em quem tem lúpus costuma ser mais difícil, já que alguns sintomas da doença autoimune se confundem com sinais de algumas neoplasias. 

“Algumas manifestações clínicas do lúpus são semelhantes às do câncer, como emagrecimento, fadiga, febre, perda de apetite e adenomegalias (aumento dos linfonodos), o que muitas vezes dificulta o diagnóstico preciso e precoce de ambas as condições”, complementa dra. Nafice Costa Araújo, reumatologista da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR).

 

  • Interação dos medicamentos

O tratamento do câncer, como a quimioterapia e a imunoterapia, pode afetar o controle das doenças autoimunes. Isso acontece porque muitos dos medicamentos utilizados no tratamento do câncer não podem ser combinados com os imunossupressores ou anti-inflamatórios usados para controlar condições como o lúpus. Por isso, é necessário ajustar frequentemente os tratamentos para evitar complicações e garantir a eficácia de ambos.

 

  • Risco de exacerbação da doença autoimune

A imunoterapia, que visa estimular o sistema imunológico para “atacar” o câncer, pode agravar ou até desencadear uma doença autoimune. Em alguns casos, essa abordagem pode induzir o lúpus em pacientes que não apresentavam a condição anteriormente.

 

  • Suspensão de medicamentos essenciais

Alguns medicamentos precisam ser suspensos durante o tratamento oncológico para evitar efeitos colaterais intensos e reduzir, por exemplo, o risco de infecção. A quimioterapia, por sua vez, pode causar imunossupressão de várias células, incluindo as imunológicas. 

“Por conta disso, para evitar a interação entre medicamentos e uma potencial exacerbação dos efeitos colaterais, que podem deixar a medula óssea muito suprimida, é comum suspender algumas medicações do lúpus”, complementa a dra. Muniz.

A especialista destaca que, sempre que possível, deve-se suspender o tratamento para o lúpus, priorizando, assim, o tratamento oncológico. Contudo, geralmente é necessário associar algum medicamento de menor potência ou manter o uso de corticoides em baixa dosagem para evitar a exacerbação da doença.

 

  • Risco de infecções

Tanto a quimioterapia quanto os medicamentos imunossupressores comprometem o sistema imunológico, aumentando o risco de infecções. A quimioterapia, muitas vezes, diminui a produção de células sanguíneas, como os glóbulos brancos, que são responsáveis pela defesa do corpo. Da mesma forma, os imunossupressores, usados para controlar as doenças autoimunes, reduzem a capacidade do organismo de reagir a infecções.

Devido ao enfraquecimento do sistema imunológico, é necessário um acompanhamento rigoroso e a adoção de medidas preventivas, como o uso de antibióticos profiláticos, cuidados intensivos com higiene e, em alguns casos, a recomendação de ambientes controlados para o paciente, já que infecções graves complicam o tratamento de câncer e dificultam o controle da doença autoimune. 

        Veja também: Quem tem lúpus pode engravidar? Conheça os riscos e cuidados necessários

 

Tratamento individualizado e acompanhamento médico

Em primeiro lugar, o tratamento de pacientes com câncer e doenças autoimunes, como o lúpus, exige uma abordagem adaptada às necessidades individuais. Como as respostas às terapias variam de pessoa para pessoa, é fundamental ajustar os tratamentos para equilibrar o controle das doenças. 

Nesse sentido, o acompanhamento médico avalia a progressão de ambas as enfermidades e monitora os efeitos dos tratamentos. Exames regulares, como testes de função renal, hepática e imunológica detectam qualquer alteração e ajustam as terapias a tempo. 

⁠”O acompanhamento médico, clínico e laboratorial é fundamental para a monitoração dos efeitos do tratamento do câncer e a atividade da doença lúpica. O paciente deve ser acompanhado de perto tanto pelo oncologista quanto pelo reumatologista regularmente”, afirma a dra. Araújo.

 

É possível manter a remissão do lúpus durante o tratamento do câncer?

O lúpus entra em remissão quando os sintomas causados pela inflamação (fadiga, dor nas articulações, erupções cutâneas, febre, etc.) são controlados ou desaparecem por um período prolongado, sem que a doença apresente atividade significativa. A remissão pode ser parcial ou completa. 

Entretanto, manter a remissão durante um tratamento oncológico depende de vários fatores, como o controle prévio da doença autoimune e a forma como o tratamento contra o câncer é conduzido. 

Em muitos casos, o uso de imunossupressores ou imunobiológicos, que são empregados no tratamento do câncer, também pode ser utilizado para controlar o lúpus. No entanto, é importante que o tratamento de ambas as condições seja monitorado de perto por uma equipe médica multidisciplinar, com oncologistas, reumatologistas, entre outros especialistas, garantindo ajustes no tratamento conforme necessário para minimizar os riscos de reativação do lúpus.

 

Qualidade de vida durante o tratamento de lúpus e câncer

Embora o tratamento de ambas as doenças seja desafiador, é possível controlá-las de forma eficaz. Em alguns casos, tratamentos biológicos usados para tratar alguns tipos de câncer, como o linfoma, também podem ser benéficos para o controle do lúpus. Além disso, medicamentos que são usados tanto para o câncer quanto para o lúpus podem ser combinados, facilitando o controle das condições.

Outro ponto importante é oferecer apoio psicológico aos pacientes oncológicos durante o tratamento, uma vez que a saúde mental costuma ser afetada. O suporte nutricional também é essencial, pois garante que o paciente receba os nutrientes necessários para ajudar a reduzir os efeitos colaterais do tratamento e manter o bem-estar.

Por fim, a prática de atividade física, dentro das limitações do paciente, também é benéfica para melhorar a disposição e a função imunológica do organismo.

“O diagnóstico precoce do câncer e a terapêutica adequada são fundamentais na evolução da doença lúpica, minimizando, assim, a reativação da doença e melhorando a qualidade de vida desses indivíduos”, finaliza Araújo. 

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