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Oftalmologia

Guia das lentes de contato

Seja para corrigir um distúrbio de visão, seja por motivos estéticos, é importante estar atento aos cuidados na manutenção das lentes de contato. Saiba como escolher o modelo ideal.
Publicado em 30/09/2022
Revisado em 30/09/2022

Seja para corrigir um distúrbio de visão, seja por motivos estéticos, é importante estar atento aos cuidados na manutenção das lentes de contato. Saiba como escolher o modelo ideal.

 

As lentes de contato surgiram por volta de 1930. As primeiras que apareceram eram rígidas, difíceis de serem usadas pelo incômodo que provocavam. A descoberta de novos materiais para fabricá-las tornou-as mais confortáveis, e hoje elas são usadas tanto para a correção de distúrbios da visão quanto por motivos estéticos. Seja qual for o seu caso, saiba que o uso das lentes de contato requer cuidados e a orientação de um médico oftalmologista.

Preparamos um guia para você saber como preservar a sua saúde ocular e como cuidar da sua lente de contato. 

 

Entenda a estrutura do olho

O globo ocular é constituído por diversas estruturas: na parte anterior do olho, localizam-se a córnea (camada fina e transparente para permitir a passagem da luz), a íris (responsável por regular a intensidade da luz que entra pela pupila, através do movimento de abre e fecha) e o cristalino, lente que faz o ajuste para que os raios luminosos incidam exatamente na retina e formem uma imagem nítida.

 

Quando o uso da lente de contato é recomendado?

As lentes de contato podem auxiliar na correção de distúrbios de visão como miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia (vista cansada). Antes de optar por elas, é importante conversar com o seu oftalmologista, que vai avaliar o caso e recomendar a melhor lente de acordo com a sua rotina e a sua saúde ocular. 

A oftalmologista dra. Patricia Kakizaki detalha. “Doenças com irregularidades na córnea, como o ceratocone, se beneficiam ainda mais das lentes de contato especiais, o que pode resultar em uma visão de maior qualidade quando comparada ao uso dos óculos de grau. Também existem, por exemplo, lentes de contato para tratamento de progressão de miopia, usada em crianças e adolescentes com o aumento excessivo do grau.”

 

E quando elas são contraindicadas?

“Existem contraindicações no uso da lente em casos de pacientes que não vão ter os devidos cuidados de higiene e manutenção. Pacientes com olho seco severo ou alergia ocular, dependendo do caso e da gravidade também podem ter essa contraindicação, assim como aqueles com certas alterações palpebrais.”

Veja também: Síndrome do olho seco | José Álvaro Pereira Gomes

 

Tipos de lentes disponíveis 

Atualmente, existem lentes de contato gelatinosas e rígidas. As gelatinosas proporcionam uma adaptação mais fácil, uma vez que são mais maleáveis e se ajustam na superfície da córnea, o que facilita o uso diário. As lentes gelatinosas podem ser de hidrogel – material mais antigo, com menor transmissão de oxigênio e maior ressecamento ocular – ou de silicone hidrogel, que conta com uma maior transmissão de oxigênio para a córnea e com lubrificação ocular, motivo pelo qual é o material mais procurado hoje em dia.

Dentre as lentes gelatinosas existem diferentes modelos: 

  • Esféricas – corrigem miopia ou hipermetropia;
  • Tóricas – corrigem astigmatismo, além de miopia e hipermetropia; 
  • Multifocais – corrigem miopia, hipermetropia e presbiopia;
  • Cosméticas – lentes coloridas.

Já as lentes de contato rígidas são lentes mais duras, o que provoca um desconforto inicial maior na adaptação. Mas, por manterem seu formato original (não se “moldarem” ao formato da córnea do paciente, como as gelatinosas), corrigem graus mais altos de astigmatismo. As mais usadas são as lentes gás-permeáveis, de tamanho menor e boa transmissão de oxigênio. 

Existem ainda as lentes híbridas, com o centro de lente rígida e a borda de lente gelatinosa.

 

Com tantas opções, como escolher o modelo ideal?

Como adiantamos, o principal é conversar com o seu oftalmologista sobre o desejo de substituir os óculos de grau pelas lentes e compartilhar suas principais atividades. Você deseja usá-las diariamente no trabalho, com o uso constante de telas? Para a prática de atividades físicas? Para a correção de irregularidades corneanas? Ou ainda apenas para finalidade estética?    

“Por exemplo, um paciente adolescente quer utilizar a lente esporadicamente para a prática esportiva, tem miopia e grau baixo de astigmatismo: ele pode se beneficiar com o uso de lentes gelatinosas silicone hidrogel tórica diárias. Ou o paciente tem ceratocone e já não consegue uma boa visão com óculos, e pode se beneficiar do uso de lentes rígidas especiais para o distúrbio, melhorando sua visão e, consequentemente, sua qualidade de vida. E assim por diante, avaliando caso a caso”, explica dra. Kakizaki.

 

O grau da lente é o mesmo grau dos óculos?

Não! Como a lente é usada diretamente sobre o olho, em contato direto com a córnea, o grau da sua receita de óculos de grau não é o mesmo recomendado para a lente de contato. Por isso, antes de encomendar a sua lente, é preciso fazer a adaptação do grau com um profissional oftalmologista. 

Veja também: Nove mitos sobre a visão

 

Cuidados e higienização da lente

A higienização é um dos principais pontos de atenção no uso das lentes de contato. Como as lentes ficam em contato direto com os olhos, a presença de corpos estranhos (poeira, sujeira, proteínas etc.) pode provocar infecções oculares graves. 

Para evitar esses incidentes, siga alguns cuidados no manuseio da sua lente:

  • Antes de manipular as lentes, lave as mãos com água e sabão;
  • Evite guardá-las no banheiro. “É um ambiente bastante contaminado”, destaca a oftalmologista;
  • Não utilize soro fisiológico ou água na limpeza ou armazenamento das lentes; providencie soluções de uso específico;
  • Lave e seque todos os dias o estojo de armazenamento da sua lente após o uso;
  • Não reutilize a solução do estojo;
  • Hidrate seus olhos enquanto estiver usando as lentes com colírios lubrificantes que podem ser usados com lentes de contato. 

A dra. Patricia acrescenta. “Hoje, temos soluções multiuso que agem limpando, desinfetando e preservando as lentes de contato após o uso. No caso das lentes de descarte diário, tal solução não é necessária, considerando que você não vai armazenar a lente após o uso e sim descartá-la.” 

Os fabricantes de lentes de contato costumam recomendar o uso de soluções multiuso da mesma marca, para evitar danos na lente. De qualquer forma, seu oftalmologista também pode ajudar nessa escolha. “As lentes de contato gelatinosas e rígidas têm produtos diferentes para limpeza e armazenamento. Por isso, o ideal é sempre escolher dentre as opções que seu médico oftalmologista recomenda. Se o paciente apresentar alguma sensibilidade aos conservantes da fórmula, a solução deve ser trocada”, orienta. 

 

Quando é hora de trocar a lente?

Outro ponto importantíssimo da manutenção das lentes de contato é respeitar o prazo de descarte do produto. Existem lentes de uso diário (descartáveis), quinzenais, mensais, bimestrais, trimestrais e anuais. 

As lentes de uso diário (one day) devem ser descartadas após 1 dia de uso. São mais práticas por não precisar armazená-las, o que reduz a manipulação e o risco de infecção ou alergia aos produtos de limpeza. As lentes quinzenais devem ser descartadas após 15 dias que foram abertas, e assim por diante. 

Já as lentes de contato rígidas gás-permeáveis são mais resistentes ao armazenamento do que as gelatinosas, podendo ser usadas por mais tempo. Normalmente duram 1 ano.

Lembre sempre que o prazo para descarte começa a contar da data de abertura.  

Há, ainda, algumas exceções, como explica a dra. Patricia. “Caso a lente comece a machucar ou incomodar os olhos, rasgue ou apresente outro dano na sua estrutura, ela deve ser trocada imediatamente, sem aguardar o prazo do fabricante.”

Veja também: Lentes de contato | Entrevista

 

Por que não pode dormir com a lente?

Outra recomendação importante é NUNCA dormir com a lente de contato. Isso porque, pela própria estrutura, a lente reduz a transmissão de oxigênio para a córnea. Ao fechar as pálpebras, essa redução é ainda maior. Agora, imagine passar horas seguidas com uma transmissão baixíssima de oxigênio para a córnea? É isso que acontece ao dormir de lente. 

“A córnea é avascular, ou seja, não tem vasos sanguíneos – seu oxigênio vem da troca  com a superfície. Ao dormir com a lente, a córnea pode ficar em hipóxia [quando não há oxigênio suficiente nas células e tecidos]. Além de reduzir a lubrificação, ocorre menos troca do filme lacrimal entre a lente e a córnea. Tudo isso pode levar a uma inflamação da córnea. Tal inflamação deixa a porta de entrada aberta para que bactérias, fungos e protozoários causem infecções graves na córnea – as úlceras de córnea”, destaca a dra. Patricia Kakizaki.

 

Perigos de uma manutenção incorreta

Além de prejudicar a qualidade da lente em si, a manutenção e o armazenamento incorreto podem acarretar inúmeros prejuízos para a saúde ocular do paciente, como conjuntivites e outras infecções. 

“Uma das complicações mais graves é a ceratite infecciosa, infecção da córnea que pode levar a danos irreversíveis na visão. Micro-organismos bastante perigosos para nossos olhos, como Acanthamoeba e Pseudomonas, também são mais comuns em usuários de lentes. É preciso lembrar que, embora sejam seguras, as lentes de contato ainda são um corpo estranho. Por isso, todo cuidado é pouco”, ressalta a oftalmologista.

 

Uso de colírios

As lentes naturalmente causam mais irritação nos olhos e tendem a deixá-los mais secos, por isso é importante usar colírios lubrificantes, os quais têm fórmulas que buscam simular lágrimas artificialmente. Mas, antes de sair comprando qualquer colírio, é preciso estar atento ao fato de que nem todo colírio pode ser usado com lentes de contato.

Alguns deixam mais resíduos nas lentes, não sendo indicados. Mais uma vez, vale pedir a recomendação do seu oftalmologista. Em geral, colírios lubrificantes sem conservantes são os mais indicados. 

Para evitar o efeito avermelhado dos olhos irritados com o uso das lentes de contato, alguns pacientes recorrem aos colírios descongestionantes, prática não recomendada. A oftalmologista chama a atenção.

“Esses colírios contêm substâncias vasoconstritoras na fórmula, que a longo prazo podem trazer problemas como um olho vermelho crônico, causando uma dependência do colírio para os olhos ficarem brancos.”

 

Avanços tecnológicos

A dra. Patricia Kakizaki também destaca as novidades mais recentes no desenvolvimento das lentes de contato. 

“Hoje, as lentes oferecem uma diversidade enorme de tratamentos. Há as fotocromáticas, que escurecem em ambientes claros para os pacientes com fotofobia; as que ajudam no controle do avanço da miopia em crianças e adolescentes; as usadas na ortoceratologia, que corrigem o grau à noite, para que durante o dia não seja necessário o uso de nenhuma lente corretiva. Usadas de acordo com as recomendações dos especialistas, as lentes são superseguras e podem proporcionar uma grande melhora na qualidade de vida.”

Por fim, é importante o controle oftalmológico. Só o oftalmologista tem condição de analisar as reações ao uso da lente e a saúde dos olhos. Por isso, a cada seis meses é interessante passar por uma avaliação oftalmológica.

Veja também: Uso excessivo de colírios pode causar danos aos olhos

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