A quantidade e a qualidade do sono têm grande influência na nossa memória e capacidade de aprendizado. Entenda como isso acontece.
Um sono de má qualidade pode causar mau humor, cansaço, dificuldade de concentração, maior propensão a erros e, a longo prazo, até aumentar o risco de uma série de doenças. Mas além disso, dormir mal também pode causar impactos negativos à memória.
Segundo Leticia Azevedo Soster, neurologista e médica do sono do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, sono e memória estão intrinsecamente correlacionados. “É muito importante que a gente tenha uma noite de sono após a aquisição de um novo fato, de um algum aprendizado, para que ele se transforme numa memória de longo prazo. Durante o sono, vários processos metabólicos acontecem, e dentre eles, esse processo da gente conseguir levar [a memória] de curto prazo para um local de longo prazo”, afirma.
O neurologista Carlos Maurício Oliveira de Almeida, professor adjunto de neurologia da Universidade Estadual do Amazonas (UEA) e presidente da regional Amazonas da Associação Brasileira do Sono (ABS), destaca que os estudos têm demonstrado que os distúrbios do sono e a privação do sono impactam negativamente na qualidade de vida de maneira geral, aumentando, por exemplo, o risco de problemas cardiovasculares e comprometendo a imunidade. “Mas também impactam negativamente na cognição, causando, por exemplo, prejuízo de atenção e raciocínio, ou seja, nas funções executivas e provavelmente também na memória.”
O médico diz que uma das várias hipóteses para explicar a função do sono no nosso organismo é que o sono tem importância fundamental no processo de consolidação da memória.
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Consolidação de memórias
A dra. Leticia explica que existem alguns tipos de memória, e o que costumeiramente conhecemos como memória é a chamada memória de longo prazo. “Essa memória é aquela que durante o sono a gente processou, integrou e guardou dentro da gente. Então é aquela memória que a gente chama de consolidada. Tem as mais antigas, que a gente consolidou bastante.”
O sono é um processo cíclico, formado pelo sono REM (rapid eye movement ou movimento rápido dos olhos, em tradução livre) – aquele que concentra a maior parte dos nossos sonhos, dos quais a gente se lembra – e o sono não REM (sem movimento rápido dos olhos). Segundo a médica, cada ciclo de sono tem uma função diferente no processo de consolidação de memórias.
“É óbvio que isso acontece em várias regiões do cérebro, mas o mais importante é que ele depende de um sono íntegro, com uma ciclicidade adequada para chegar a todas essas fases do sono e conseguir fazer esse processamento”, explica a neurologista.
Por que dormir mal prejudica a memória?
“Dormir mal prejudica a memória principalmente porque não permite que essa consolidação aconteça. Mas quando a gente dorme mal, a gente também tem nossas funções cognitivas como um todo reduzidas. O nosso processo atencional não está muito legal e muito provavelmente a pessoa que não dormiu bem vai ter dificuldades em acessar sua memória, até mesmo aquelas que já estão bem consolidadas”, explica a dra. Leticia.
Ou seja, um sono ruim não apenas prejudica a consolidação de novas memórias, mas também dificulta o acesso a memórias já consolidadas. “É muito comum que as pessoas com privação crônica de sono cheguem ao consultório se queixando de que a memória não está boa, de que não estão conseguindo se lembrar de coisas que facilmente se lembravam. E muitas vezes isso se relaciona a um dormir insuficiente ou um dormir sem qualidade.”
A especialista ressalta que não é apenas a pouca quantidade (privação de sono) que é prejudicial, mas também a fragmentação do sono (quantas vezes ele é interrompido).
Dicas para melhorar o sono
Uma das principais recomendações para quem tem problemas para dormir é fazer a higiene do sono, conjunto de medidas comportamentais que visa melhorar a qualidade do sono. Confira algumas dicas:
- Ter horários regulares para dormir e acordar;
- Dormir um número de horas adequadas, conforme a sua necessidade;
- Evitar o consumo de bebidas estimulantes, como o café, à noite;
- Evitar o consumo de comidas muito pesadas à noite;
- Evitar o uso de aparelhos eletrônicos na hora de ir para a cama;
- Fazer atividade física regularmente, mas não próximo ao horário de dormir.
Um adulto em geral precisa de sete a nove horas de sono por noite. É importante observar como você acorda de manhã: se sentindo bem, descansado, ou ainda sentindo cansaço e necessidade de dormir mais?
Existem vários fatores que podem atrapalhar uma boa noite de sono, desde questões comportamentais – como as citadas acima – até condições de saúde como apneia do sono, asma, síndrome das pernas inquietas e incontinência urinária (nos casos em que a bexiga não consegue armazenar a urina e a pessoa precisa acordar algumas vezes para ir ao banheiro), entre outras. Por isso, se as medidas comportamentais não forem suficientes para melhorar o sono, é importante buscar ajuda médica especializada.
Mas o dr. Carlos destaca a importância de médicos clínicos gerais também questionarem seus pacientes sobre seu sono. “É importante perguntar se ele dorme bem, se tem uma sensação de sono reparador ao despertar, se tem sonolência ou fadiga durante o dia, se ele tem apneias presenciadas pelo parceiro ou se sente algum outro sinal sugestivo de doença respiratória, como engasgos e falta de ar noturno, [sintomas] que podem estar associadas ao surgimento de algumas doenças, como a apneia obstrutiva do sono. Então, fazer uma boa anamnese voltada para queixas do sono é fundamental”, afirma.
“A gente precisa dar ao nosso corpo a quantidade de sono adequada. Respeitar seu horário de dormir, sua necessidade de dormir, saber ouvir a necessidade do seu corpo – da mesma forma que a gente sabe sentir quando a gente está com fome e comer quando tem fome, a gente precisa dormir quando tem sono”, diz a dra. Leticia.
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Conteúdo produzido em parceria com a Tena Brasil, marca líder em produtos para incontinência urinária.