É bastante comum que aconteça uma correlação entre a doença renal e a cardíaca.
O organismo é um sistema complexo que conta com diversos órgãos que funcionam em parceria. É o caso do coração e dos rins. Enquanto o primeiro é responsável por bombear o sangue para o corpo, o segundo tem a missão de filtrar o sangue e resíduos e controlar a pressão sanguínea.
Portanto, é bastante comum que aconteça uma correlação entre a doença renal e a doença cardíaca. Isso porque, se há qualquer tipo de deficiência entre um dos órgãos, é provável que o outro também sofra consequências. Algumas vezes, essa situação provoca a síndrome cardiorrenal.
“Essa condição pode ser definida como qualquer desordem cardíaca ou renal que, de forma aguda ou crônica, induz a uma disfunção no outro órgão”, explica Liliana Secaf, nefrologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Como ocorre a síndrome cardiorrenal
Quando há insuficiência cardíaca, por exemplo, acontece o comprometimento da filtração do sangue. Nesses casos, ocorre um represamento de sangue devido ao bombeamento inadequado, o que dificulta a sua saída nas veias renais, comprometendo o funcionamento dos rins.
“Já na disfunção renal, há acúmulo de líquidos no organismo e aumento do trabalho de bombeamento cardíaco, ocasionando sobrecarga do órgão. De forma geral, quando há uma doença renal, ocorre diminuição da filtração de diversas substâncias que alteram a pressão arterial e a função cardíaca”, complementa Hugo Abensur, nefrologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
O especialista destaca que a síndrome cardiorrenal é uma situação clínica bastante comum. No caso de piora aguda da função cardíaca, cerca de metade dos pacientes apresenta algum grau de disfunção renal.
“A doença cardíaca e a renal, quando crônicas, frequentemente coexistem. E a presença de uma acelera o declínio da função do outro órgão. A principal causa de mortalidade dos pacientes que precisam de tratamento de substituição da função renal é a cardíaca, por exemplo”, afirma o dr. Abensur.
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Tipos de síndrome cardiorrenal
A síndrome cardiorrenal se manifesta de diferentes formas, de acordo com o principal órgão inicialmente afetado. Portanto, os sintomas e as manifestações variam segundo o tipo da doença.
Entre os tipos, podemos citar:
- Tipo 1: Piora abrupta da função do coração. Isso provoca uma lesão renal aguda, com diminuição do volume de urina e acúmulo de toxinas no organismo. É o caso do infarto agudo do miocárdio;
- Tipo 2: Anormalidades crônicas da função cardíaca, que causam a doença renal crônica progressiva. É o caso da insuficiência cardíaca provocada por uma lesão em uma das válvulas do coração;
- Tipo 3: Piora abrupta da função renal, o que gera disfunção cardíaca aguda. Pode ser uma inflamação aguda dos rins, seguida de uma insuficiência cardíaca;
- Tipo 4: Doença renal crônica, contribuindo para diminuição da função cardíaca. Nesses casos, o indivíduo apresenta acúmulo de líquido no organismo, hipertensão arterial, anemia e outras alterações que comprometem o adequado funcionamento do coração;
- Tipo 5: Disfunção cardíaca e renal, quando os dois órgãos são afetados ao mesmo tempo. É o que acontece quando há uma infecção generalizada ou alguns casos de diabetes.
Fatores de risco para síndrome cardiorrenal
Algumas pessoas têm um risco aumentado de desenvolver a síndrome cardiorrenal. Entre as condições que estão mais suscetíveis ao problema, estão:
- Doença cardíaca ou renal;
- Diabetes;
- Anemia;
- Pressão alta;
- Idade avançada.
Diagnóstico e tratamento
Geralmente, após o relato de sintomas, são solicitados alguns exames específicos laboratoriais e de imagens para identificar as causas do problema.
De forma geral, quando há insuficiência cardíaca há elevação de determinadas substâncias no sangue, e também é possível ver as alterações nos raios X de tórax, no eletrocardiograma e no ecocardiograma.
Já quando há uma disfunção renal, surge um aumento da concentração sanguínea de diversas substâncias, como a ureia e a creatinina.
“Trata-se de uma situação bastante frequente para cardiologistas e nefrologistas, tornando-se um desafio tanto em consultórios (no caso de pacientes crônicos) quanto nas UTIs (para os casos agudos). Os especialistas tentam em conjunto administrar os danos sofridos inicialmente por um dos dois órgãos e as consequências provocadas no outro”, resume a dra. Secaf.
Portanto, o tratamento envolve as duas especialidades. Em linhas gerais, se há uma melhora na função do coração, o rim também responde de forma positiva.
Atualmente, existem medicamentos que são eficazes para o tratamento da síndrome cardiorrenal. A forma crônica da condição é tratada para evitar a sobrecarga do coração, melhorar o bombeamento sanguíneo e controlar a pressão.
Já a forma aguda exige internação, para que o desempenho cardíaco seja restabelecido rapidamente. Em algumas situações, é necessária a hemodiálise, que é uma terapia que visa substituir as funções dos rins.
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Sobre a autora: Samantha Cerquetani é jornalista com foco em saúde e ciência e colabora com o Portal Drauzio Varella. Escreve sobre medicina, nutrição e bem-estar.