Será que do ponto de vista biológico haveria algum problema parar de menstruar?
Historicamente, a menstruação sempre foi encarada como tabu, um assunto em geral tratado às escondidas. No entanto, com as mudanças culturais das últimas décadas, aos poucos as mulheres começam a falar sobre o tema com mais liberdade.
Há quem a considere algo natural e fisiológico que não deve ser visto como um problema, e há também aquelas que, se pudessem, não menstruariam nunca mais, por conta dos sintomas muitas vezes associados à menstruação, como edema (inchaço), cólicas, dores de cabeça e irritabilidade.
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Mas será que do ponto de vista biológico haveria algum problema parar de menstruar? Segundo o médico José Bento, ginecologista e obstetra dos hospitais Albert Einstein e São Luiz, ambos na capital de São Paulo, não. “A ideia de que parar de menstruar é nocivo vem de gerações anteriores, que achavam a menstruação algo importante, que funcionava como uma espécie de limpeza do organismo. Mas é preciso entender que o corpo da mulher não foi feito para menstruar e sim para engravidar. Em termos práticos, a menstruação só serve para mostrar que a mulher não engravidou naquele mês.”
A menstruação nada mais é do que um sinal fisiológico de que a mulher concluiu um ciclo preparatório para uma gravidez que simplesmente não ocorreu. Todos os meses, o útero se prepara para receber um embrião. Quando isso não ocorre, o endométrio, tecido que reveste o órgão, se desprende e é expelido com o sangue da menstruação.
Interromper a menstruação implica utilizar hormônios exógenos (externos), como os contidos nas pílulas anticoncepcionais, que interferem na produção de estrógeno e progesterona (hormônios femininos produzidos durante o ciclo menstrual).
Atualmente, o que muitas mulheres costumam fazer quando desejam interromper a menstruação (em geral por conta de algum evento social, como uma viagem, por exemplo) é emendar uma cartela de pílula anticoncepcional na outra, sem intervalo. Não há problemas nisso, desde que a mulher busque a orientação de um ginecologista, segundo o médico.
Dra. Patrícia de Rossi, ginecologista e obstetra do Conjunto Hospitalar do Mandaqui, complementa: “Parar de menstruar pode ser uma opção para algumas mulheres. Inclusive, há problemas de saúde em que é imprescindível parar de menstruar”. Endometriose, anemia falciforme, cistos no ovário, miomas e TPM são alguns exemplos que podem requer interrupção da menstruação por tempo indeterminado.
Além dos contraceptivos orais, há outras meios de interromper a menstruação, como por exemplo o DIU de levonorgestrel, que tem duração de cinco anos, os anticoncepcionais injetáveis trimestrais e os implantes contraceptivos subcutâneos, com duração de três anos.
Decisão de parar de menstruar precisa de acompanhamento médico
É importante, por outro lado, discutir as implicações da escolha de parar de menstruar, até como forma de conhecer melhor o próprio organismo. A endocrinologista Elaine Frade Costa, do Hospital das Clínicas de São Paulo, explica que antes de tomar uma pílula só porque uma amiga recomendou, é preciso conversar com um especialista. Como todo medicamento, as pílulas anticoncepcionais podem ter efeitos adversos, afinal contêm hormônios artificiais cuja função é alterar o período ovulatório e menstrual. O tempo de adaptação aos medicamentos pode durar de três a seis meses e algumas mulheres podem ter dores de cabeça, irritabilidade, ansiedade e enjoos, além de pequenos sangramentos (sangramentos intermenstruais, também conhecidos como “escape”).
“Dependendo do tipo de hormônio, da dose utilizada e do tempo de uso, a interrupção da produção hormonal pode se tornar definitiva, levando à infertilidade e ao que chamamos de hipogonadismo (ausência da produção espontânea de hormônios femininos), além de aumentar o risco de desenvolver trombose e câncer de mama.”
Ao pensar em suspender a menstruação, é importante, antes de tudo, compreender que todo medicamento tem efeitos adversos e que os prós e contras de cada método devem ser discutidos com seu médico, que deverá avaliar os riscos potenciais de forma individualizada.
A maioria dos especialistas consultados concorda que o mais importante é que as mulheres sejam orientadas a respeito do funcionamento do próprio corpo e das formas de lidar com seu ciclo menstrual, que podem incluir ou não medicamentos, para poderem escolher o que é melhor para si.
Vídeo: Dr. Drauzio falar sobre suspensão da menstruação