A gravidez psicológica (pseudociese) provoca sintomas físicos de uma gestação e necessita de tratamento multidisciplinar
A gravidez psicológica acontece quando a mulher acredita que está grávida, apresenta alguns sintomas que indicam uma gestação, mas os exames de sangue e ultrassom mostram que ela não está.
A condição, que também é chamada pelos médicos de pseudociese, é considerada rara e sem razões biológicas, na maioria das vezes.
“É um distúrbio psicológico em que as mulheres não grávidas têm uma convicção ou crença de que estão gestantes. Elas passam a desenvolver sintomas físicos clássicos de uma gestação. Geralmente, está associado com um forte desejo de se tornar mãe”, explica Joel Rennó, psiquiatra e coordenador do Programa de Saúde Mental da Mulher do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (IPq – USP).
Principais causas e fatores de risco
Apesar de as causas exatas ainda não serem conhecidas, os especialistas acreditam que os estímulos psicológicos produzem os sinais de gravidez.
Nessas situações, o cérebro desencadeia a liberação de hormônios, tais como estrogênio e prolactina, responsáveis por alguns sintomas comuns na gestação.
A gravidez psicológica é mais frequente em mulheres que tiveram histórico de experiências traumáticas, entre elas:
- Perda de algum filho ou filha;
- Abortos espontâneos frequentes;
- Abusos sexuais.
Também é mais comum em mulheres com histórico de infertilidade e que sofrem cobranças do parceiro e familiares. E há ainda casos de pacientes que têm pavor de engravidar, mas que desenvolvem os sintomas.
Pode acometer pessoas em qualquer faixa etária, porém é mais comum após os 40 anos e durante a menopausa. Também atinge mais quem teve depressão e crises de ansiedade. Sabe-se que, de uma forma geral, mulheres emocionalmente vulneráveis estão mais propensas a desenvolver o quadro.
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Sintomas frequentes
Os sintomas da pseudociese são semelhantes aos de uma gravidez real. Há até mesmo casos de mulheres que sentem movimentos no abdômen, como se o bebê estivesse se mexendo.
Outros sintomas comuns da gravidez psicológica são:
- Enjoos ou náuseas matinais;
- Abdômen dilatado;
- Atrasos menstruais;
- Ganho de peso ou inchaços corporais;
- Mamas inchadas;
- Fadiga e sonolência;
- Produção de leite nas mamas;
- Aumento do apetite;
- Aversões alimentares;
- Falsas contrações de parto.
“Em alguns casos, mesmo com a presença da menstruação, a mulher acredita que o sangramento significa o começo de um aborto. Isso porque ainda ocorrem alterações hormonais e psicológicas que provocam mudanças reais em seu corpo”, destaca Antônio Geraldo da Silva, psiquiatra e presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
É importante destacar que esses sintomas podem durar semanas, meses e até anos, se a mulher não buscar ajuda profissional.
Como é feito o diagnóstico?
Após os sintomas de gravidez, é comum que a mulher procure um médico para realizar exames que confirmem a gestação.
Em casos de gravidez psicológica, os exames de sangue ou de imagem, como ultrassom de abdômen e transvaginal, mostram que a mulher não está grávida, apesar dos sintomas físicos. Além disso, os testes de urina também dão negativo.
“Os exames de imagens são importantes para verificar que não há a presença de saco gestacional, feto ou placenta. Em algumas situações, recomenda-se realizar a tomografia do crânio para checar como está o funcionamento da glândula hipófise, se há desequilíbrio hormonal e descartar outras condições de saúde, como câncer, que provocam alterações hormonais”, complementa o dr. Rennó.
Formas de tratamento
A pseudociese é tratada como uma condição psicológica. O primeiro passo é ajudar a mulher a entender que ela não está grávida. Mas, geralmente, ela não acredita. Por isso, é importante realizar exames para que ela visualize que se trata de uma gravidez psicológica.
Pode ser mais difícil para algumas mulheres receber o diagnóstico, principalmente quando há o desejo de ser mãe. Vale destacar que ela não finge que está grávida, ela realmente acredita que terá um bebê. Portanto, o apoio emocional de profissionais, familiares e amigos é fundamental, já que ela enfrentará sentimentos de luto.
O tratamento será com uma equipe multidisciplinar, em que a mulher terá o acompanhamento de um ginecologista, psiquiatra e psicólogo.
“Além de cuidar da parte física, regulando os sintomas, o psiquiatra deve investigar as causas do problema. E a psicoterapia ajuda a lidar com as questões emocionais. Até o momento, não há como prevenir a gravidez psicológica”, finaliza o presidente da ABP.
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Sobre a autora: Samantha Cerquetani é jornalista com foco em saúde e ciência e colabora com o Portal Drauzio Varella. Escreve sobre medicina, nutrição e bem-estar.