O diagnóstico da doença nessa faixa etária tende a ser ainda mais desafiador. Entenda.
A endometriose é uma doença crônica que atinge mulheres em fase reprodutiva, incluindo adolescentes. Na endometriose, o endométrio (camada que reveste o útero) passa a crescer fora dele, podendo atingir outros órgãos na cavidade abdominal, o que normalmente causa sintomas dolorosos.
Não se sabe ao certo a prevalência de endometriose entre adolescentes, mas no Brasil estima-se que 7 milhões tenham a doença. Mesmo assim, o diagnóstico normalmente leva anos para acontecer. Em muitos casos, a dor relatada pelas pacientes é subestimada até mesmo pelos médicos, e elas acabam ouvindo que o desconforto é um sintoma normal da menstruação.
“A endometriose pode ser ainda mais desafiadora na adolescência, devido, muitas vezes, ao atraso em diagnosticar a doença. Algumas mulheres podem apresentar sintomas desde a primeira menstruação, embora eles também possam ser atípicos nessa fase, podendo levar anos para serem reconhecidos e iniciar tratamento adequado”, afirma Taís Martins Loreto, ginecologista do Núcleo de Endometriose do Hospital e Maternidade São Luiz São Caetano do Sul, da Rede D’Or.
Sintomas e impactos na qualidade de vida
O principal sintoma da endometriose são as cólicas intensas e muitas vezes incapacitantes durante o período menstrual – o que pode motivar as primeiras visitas ao médico ginecologista, destaca a médica.
“A frequência deste sintoma é subestimada entre o público adolescente, pois, muitas vezes, se considera a dor como normal da menstruação e não se procura ajuda especializada. Outras manifestações incluem dor pélvica crônica, dor na relação sexual, distensão abdominal, sangramento uterino aumentado, além de sintomas urinários (dor para urinar) e intestinais (dor ao evacuar, constipação e diarreia)”, explica a especialista.
Assim como acontece com grande parte das mulheres que têm a doença, a endometriose também pode prejudicar a qualidade de vida de meninas na adolescência. A dra. Taís explica que pode haver prejuízo nas atividades diárias, inclusive no desempenho escolar, no exercício físico e na qualidade do sono. “Além disso, [a doença] pode influenciar o humor, estando relacionada a sintomas ansiosos ou depressivos, afetando também os relacionamentos interpessoais.”
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Diagnóstico e tratamento da endometriose na adolescência
Diante da manifestação dos sintomas da doença, é importante que a paciente seja encaminhada para avaliação de um médico ginecologista, que vai iniciar a investigação clínica e solicitar os exames necessários, como ultrassonografia e ressonância magnética. “Deve-se também ressaltar a importância de equipe multiprofissional para manejo da doença, como psicólogos, nutricionistas e fisioterapeutas”, afirma a ginecologista.
Segundo a médica, o principal objetivo do tratamento é promover alívio dos sintomas, além de impedir a progressão da doença e preservar a fertilidade – lembrando que o tratamento deve ser individualizado caso a caso.
“O uso de métodos contraceptivos hormonais é uma opção para tratamento da doença, além dos implantes subcutâneos de etonogestrel e os dispositivos intra-uterinos (DIU) liberadores de levonorgestrel. O tratamento cirúrgico deve ser considerado em contextos específicos, quando não houver boa resposta e persistência da dor após uso de medicamentos, além de cistos ovarianos volumosos ou outros órgãos com acometimento por endometriose (como bexiga e intestino)”, explica.
Os familiares também desempenham papel importante no diagnóstico e tratamento da endometriose na adolescência. É importante ter empatia e escutar as queixas da paciente que podem levantar a suspeita da doença.
“Pais e familiares, bem como instituições de ensino, podem auxiliar no diagnóstico através de informação sobre a doença, atentando-se às queixas apresentadas pelas adolescentes relacionadas ao período menstrual e a dor pélvica, principalmente se houver impacto sobre os estudos e qualidade de vida, encaminhando ao atendimento de um profissional e serviço especializado”, finaliza a dra. Taís.
Ouça: Por Que Dói? #03 | Endometriose