Maioria dos abortamentos espontâneos ocorre por má-formação

Abortamentos espontâneos são muito mais comuns do que imaginamos. A principal causa é a má-formação genética do embrião, mas há outras que podem levar à interrupção espontânea da gravidez.

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Em torno de 60% dos abortamentos espontâneos, os embriões apresentavam alguma má-formação ou alteração genética e por isso foram eliminados naturalmente pelo organismo da mulher.

 

Muitas mulheres que, depois de um atraso menstrual, sangram normalmente não se dão conta, mas tinham engravidado e estão eliminando o embrião. Outras, logo depois de um teste de gravidez positivo, sofrem um abortamento espontâneo. Nenhuma das duas situações significa um problema mais grave e são situações relativamente comuns.

A taxa de abortamentos a partir do momento em que o teste de gravidez dá positivo varia em torno de 15%, segundo Mario Burlacchini, médico especialista em Medicina Fetal e assistente do Departamento de Ginecologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). “Se considerarmos período anterior ao teste positivo, porque demora algumas semanas para isso acontecer, esses números podem chegar a 30% ou 40%”, afirma o médico.

Em torno de 60% dos abortamentos espontâneos, os embriões apresentavam alguma má-formação ou alteração genética e por isso foram eliminados naturalmente pelo organismo da mulher. Para cerca de 30% ou 40% dos casos, no entanto, não se consegue identificar a causa.

Considera-se abortamento a interrupção da gravidez até a 20ª, 22ª semana (5º mês) ou quando o feto pesa menos de 500 gramas. Entre a 22ª e a 36ª de gravidez, concentra-se a faixa de prematuridade.

Às vezes, a mulher nos procura sozinha e percebe-se que ela está sofrendo pressões por não conseguir engravidar, embora nem sempre seja a causadora do problema. Nas clínicas de infertilidade, não é raro o homem recusar-se a ser avaliado, temendo ser a causa da dificuldade.

Os abortamentos espontâneos são mais comuns em mulheres acima de 35 anos, faixa etária em que aumenta o risco de má-formações e anomalias fetais. Por outro lado, não há nenhum estudo, segundo o dr. Burlacchini, que comprove haver relação entre os eventos e a idade paterna.

 

 Abortamentos esporádicos x abortamentos de repetição

 

Quando uma mulher engravida e sofre um abortamento, mas logo tem uma ou mais gestações normais, considera-se que ela sofreu um abortamento esporádico. Esse evento é tido como natural e normalmente os médicos não dão muita atenção a ele.

Já quando os abortamentos se repetem três ou mais vezes, são chamados de abortamentos de repetição. Nesses casos, a paciente requer avaliação médica.

Em geral, a causa dos abortamentos espontâneos de repetição só começava a ser investigada após o terceiro episódio. “Hoje, com o desenvolvimento da Medicina, acha-se muito cruel esperar que ocorram três abortos para começar a investigação. Por isso se preconiza que, havendo disponibilidade de exames, a pesquisa comece depois do segundo aborto sucessivo”, explica o dr. Burlacchini.

A primeira medida é verificar a época da gravidez em que ocorreu o abortamento, que é considerado precoce até a 12ª semana de gestação e tardio entre a 12ª e a 20ª semana. Se foi precoce, as principais causas são as genéticas, as infecciosas ou as imunológicas.

Os mais tardios estão, em geral, relacionados com causas mecânicas e anatômicas, como a dificuldade de expansão do útero, provocada por má-formações uterinas e incompetência cervical (incapacidade de manter o colo do útero fechado para levar a gravidez a termo), por exemplo.

Nesses casos, o tratamento pode incluir progesterona para ajudar a relaxar o útero para que ele cresça, e a cerclagem (pontos no colo uterino, dados por via vaginal, para fixá-lo até o fim da gestação, quando os pontos são retirados e a mulher entra em trabalho de parto espontâneo), realizada no 3º mês.

Nos abortamentos espontâneos precoces, o casal passa por uma avaliação genética para verificar se há casos de má-formação e de problemas genéticos na família.

Nas causas genéticas, como alterações cromossômicas, as possibilidades de resolver o problema são menores. “Como não há tratamento que consiga modificar a genética, a única saída é partir para a fertilização assistida com a doação de oócitos ou de espermatozoides, dependendo do lado que venha o problema”, esclarece o médico.

Algumas infecções podem ser consideradas como causa do abortamento habitual, mas é difícil que uma infecção provoque abortamentos de repetição. A toxoplasmose, por exemplo, é uma infecção que pode ser transmitida da mãe para o feto e, na fase aguda, leva ao abortamento. “No entanto, se a mulher já contraiu a doença numa gravidez, provavelmente ela não se repetirá na gestação seguinte”, afirma o dr. Burlacchini.

Clamídia e vaginose bacteriana também podem causar abortamento, mas se tratadas adequadamente, não representam um problema.

 

Veja também: Gravidez após os 35 anos

 

Estresse

 

É comum afirmarem que mulheres estressadas e com problemas de ansiedade estariam mais propensas a abortamentos espontâneos. “Quando sofri o terceiro abortamento, ouvi de muita gente que eu estava nervosa demais. Isso só me fez me sentir culpada e mais ansiosa. No fim, meu problema era incompetência cervical. Eu podia ser a mulher mais calma do mundo que não adiantaria nada “, conta Aline,* hoje com 36 anos.

Para o médico, pacientes que sofrem abortamentos de repetição ou habituais têm um perfil de estresse mais acentuado. “Na verdade, trata-se de um círculo vicioso: a mulher fica ansiosa porque teme não conseguir levar a gravidez a termo e isso acarreta dificuldades de manter a gravidez e até mesmo de engravidar.”

Isso não significa, contudo, afirmar que mulheres ansiosas induzem o abortamento, mas que mulheres que sofrem abortamentos de repetição se beneficiam de um atendimento multidisciplinar que inclua apoio psicológico.

“O apoio psicológico também é muito importante e deve incluir o casal e não só a mulher.” O abortamento repetido pode levar a problemas familiares e gerar uma frustração muito grande. A mulher costuma assumir a responsabilidade por um problema que não é apenas dela. “Às vezes, a mulher nos procura sozinha e percebe-se que ela está sofrendo pressões por não conseguir engravidar, embora nem sempre seja a causadora do problema. Nas clínicas de infertilidade, não é raro o homem recusar-se a ser avaliado, temendo ser a causa da dificuldade”, revela o médico.

Para afastar qualquer problema de saúde, é sempre recomendável que o casal procure um médico antes mesmo de a mulher engravidar, para realizar os exames recomendados para quem deseja uma gravidez. Assim, caso haja algum problema posterior, o especialista poderá conduzir o caso e prevenir novos abortamentos espontâneos.

 

*A entrevistada pediu para não divulgarmos seu nome

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