Mais de um terço dos casos de tuberculose no Brasil são de pessoas entre 20 e 34 anos que, muitas vezes, ignoram os sintomas iniciais da doença. Entenda.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu como meta reduzir em 80% a taxa de incidência da tuberculose no mundo e em 90% as mortes pela doença até 2030. No Brasil, isso significa atuar sobre números que chegam a mais de 80 mil casos e 5,5 mil mortes por ano. No entanto, a demora para chegar ao diagnóstico é o primeiro empecilho. Muitos médicos e pacientes negligenciam um dos sintomas clássicos da tuberculose: a tosse crônica.
Sintomas mais comuns da tuberculose
“Habitualmente, o ponto de corte, o que realmente dá a pista para pensarmos em tuberculose, é a tosse crônica por mais de três semanas”, destaca a dra. Tatiana Galvão, coordenadora da Comissão Científica de Tuberculose da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT). A tosse seca ou com catarro é característica dessa doença.
Outros sintomas típicos são a febre no final da tarde, a perda de peso significativa e a hemoptise (tosse com sangue).
Além do pulmão, a tuberculose também pode atingir outros órgãos do corpo. Nesses casos, os sintomas são sistêmicos, como febre, suores noturnos, perda de peso, cansaço e perda de apetite. Queixas mais específicas dependem da área afetada. Esse tipo de manifestação da doença tende a acometer pessoas imunossuprimidas, como aquelas que convivem com HIV ou fazem tratamento com quimioterapia.
O risco de ignorar os primeiros sinais da tuberculose
O problema é que, quando não diagnosticada rapidamente, a tuberculose pode levar a danos irreversíveis no organismo, além de aumentar o risco de transmissão. Ainda assim, a tosse crônica é um sinal que tende a passar despercebido pelos pacientes e também pelos médicos.
“Tem gente que confunde com a tosse alérgica ou a tosse do refluxo. Ou teve uma gripe e continuou, achando que é uma ‘gripe mal curada’. E, na verdade, ignoram”, descreve a dra. Tatiana.
De acordo com o Ministério da Saúde, toda pessoa com tosse e sintomas respiratórios que permaneçam por mais de três semanas deve ser investigada para tuberculose. Na suspeita da doença, o raio-x de tórax pode detectar alterações pulmonares e o teste rápido molecular fecha o diagnóstico avaliando ainda a resistência à rifampicina, uma das principais medicações utilizadas no tratamento. O resultado do teste fica pronto em até duas horas.
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Jovens são os que mais devem prestar a atenção
Ao contrário do que se imagina, os jovens são os mais afetados pela tuberculose no Brasil.
De acordo com o Boletim Epidemiológico de 2025, a faixa etária com a maior taxa de incidência da doença é a de 20 a 34 anos. Eles representam 38% dos casos contra 9% em idosos (pessoas com 65 anos ou mais). O cenário está relacionado à alta exposição dos jovens a ambientes coletivos, maior mobilidade urbana, questões relacionadas à vulnerabilidade social e maior prevalência de coinfecção de tuberculose e vírus HIV, o que aumenta o risco.
A atenção aos sintomas deve ser redobrada nesse grupo, investigando a tosse prolongada ainda no início. Além disso, é fundamental estar com a carteirinha de vacinação em dia. A vacina BCG, responsável por proteger contra as formas graves da tuberculose (meníngea e miliar), é aplicada em dose única ao nascer e está disponível no Sistema Único de Saúde para crianças menores de 5 anos de idade.
“E não pode abandonar o tratamento. Hoje em dia, nós temos a tuberculose resistente, que é aquela em que o bacilo [bactéria] não responde às medicações básicas. Isso exige um esforço de todos: dos médicos, do governo, da família. Para ajudar a pessoa a aderir, para que ela tenha um processo educativo de entender que precisa tratar regularmente”, elenca a médica.
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