Tuberculose fora do pulmão: conheça outros órgãos que podem ser afetados pela doença

É possível ter tuberculose fora do pulmão? Sim. O bacilo de Koch, agente causador da doença, pode se instalar em vários órgãos. Entenda.


Equipe do Portal Drauzio Varella postou em Infectologia

Formas da doença podem atingir gânglios, sistema nervoso, órgão genitais, mamas e cavidade oral; saiba quais são os principais sintomas 

Compartilhar

Publicado em: 30 de maio de 2023

Revisado em: 30 de maio de 2023

Formas da doença podem atingir gânglios, sistema nervoso, órgão genitais, mamas e cavidade oral; saiba quais são os principais sintomas 

 

A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível causada pelo Mycobacterium tuberculosis, o bacilo de Koch. Responsável por um grande número de mortes no país, ela afeta principalmente os pulmões. Mas também pode acometer outros órgãos do corpo humano. “De fato, a tuberculose pode se manifestar em qualquer parte do corpo, embora a forma mais comum seja a pulmonar. Entre as formas mais comuns fora do pulmão temos a ganglionar, que acomete os órgãos linfáticos; a forma pleural, que se manifesta na pleura, camada protetora do pulmão; e também temos casos de tuberculose no sistema nervoso central, em órgãos genitais, nas mamas e na cavidade oral, por exemplo”, explica a dra. Adriana Coracini, médica infectologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

A infecção por tuberculose ocorre geralmente da mesma maneira: através de inalação da micobactéria – uma espécie de bactéria com características muito semelhantes àquelas mais comuns. O ciclo começa quando esses micro-organismos são inalados, após pessoas infectadas deixarem partículas suspensas no ar. Depois, a micobactéria se instala no pulmão. A pessoa não necessariamente desenvolverá a doença, já que seu sistema imunológico tentará conter a replicação desses micro-organismos. 

Porém, a resposta imunológica nem sempre é eficaz, e o indivíduo já pode desenvolver o quadro de tuberculose a partir desse momento. Ou então a infecção pode ser contida em um primeiro momento, mas em algum período em que a pessoa esteja com o sistema imunológico comprometido (como durante um tratamento de quimioterapia ou na realização de um transplante de órgãos, por exemplo), é possível que ocorra uma reativação da infecção e a doença se manifeste.

De qualquer modo, a partir da inalação pelo pulmão e se a replicação não for contida, as micobactérias podem se disseminar através do sangue e dos vasos linfáticos para outras partes do corpo, sendo capazes de se instalarem em qualquer região do organismo. Lembrando que mesmo nesses casos de disseminação em outros locais, não necessariamente a doença irá se manifestar. 

 

Sintomas

“Os principais sintomas a se atentar são uma tríade de febre, perda de peso e sudorese durante a noite, algo que se repete em todas as formas de tuberculose”, alerta a dra. Adriana. Além dos sintomas gerais, cada caso poderá se manifestar diferentemente, a depender da área afetada. 

“Os sintomas podem estar relacionados ao órgão que está comprometido. Por exemplo, se é uma tuberculose óssea, comprometendo uma vértebra, o paciente vai ter muita dor no local. Se é uma tuberculose prostática, ele vai ter dificuldade para urinar. Se ele tem a doença na pleura, pode sentir dor ao respirar. Quando ele tem tuberculose de linfonodos ou ganglionar, os linfonodos ficam inchados, o que acontece geralmente no pescoço”, explica a dra. Margareth Dalcolmo, presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Veja também: Sintomas da tuberculose | Dicas de saúde

 

Diagnóstico 

“Nas formas extrapulmonares de tuberculose, exames são feitos no pulmão para verificar se o paciente tem uma forma que nós chamamos de tuberculose disseminada, quando ela compromete mais de um sítio diferente. São feitos exames de imagem, de biópsia e de cultura. Nesse material é feito teste rápido molecular para a detecção do DNA do bacilo causador”, diz a dra. Margareth. 

Por esse contexto, podemos dizer que quando a tuberculose não está no pulmão, o diagnóstico acaba se tornando um pouco mais difícil. Isso porque é preferível comprovar microbiologicamente a presença da micobactéria. E, para isso, o ideal é coletar materiais do local afetado, o que nem sempre é simples. 

“Se for tuberculose no gânglio, temos que lançar mão de uma biópsia do gânglio. Se for na cabeça, é necessário coletar o licor, um líquido que fica próximo à espinha [coluna vertebral]. E assim em diante. Sendo assim, o diagnóstico da tuberculose fora do pulmão demanda algum procedimento para obter um pequeno ‘pedaço’ daquele tecido afetado”, diz a dra. Adriana. 

“No caso da tuberculose pulmonar, temos acesso a uma amostra fácil, que é o escarro, o que facilita o diagnóstico. Na maioria das unidades básicas de saúde temos a presença de aparelhos que pesquisam a presença do material genético da micobactéria da tuberculose no escarro, o que facilita muito o diagnóstico e o tratamento também, que pode ser iniciado rapidamente. No caso da tuberculose em outras áreas, não são todos os serviços de saúde que possuem os recursos”, conclui. 

E ainda, muitas vezes nessas formas de tuberculose fora do pulmão, a quantidade de micobactéria presente no tecido é bastante pequena. Nesse caso, é preciso recorrer a características clínicas relatadas pelo paciente, analisando sinais e sintomas, realizando exames clínicos e avaliando o histórico pessoal também.

 

Tratamento 

O tratamento para todas as formas de tuberculose é, em geral, o mesmo e consiste no uso de quatro medicamentos antibióticos. O que varia de acordo com o caso e a gravidade é o tempo de uso, que pode passar de nove meses nos casos mais leves a até 12 meses para os mais complicados. Segundo a dra. Adriana, o tempo de tratamento pode ser uma dificuldade para alguns pacientes que já se sentem melhor logo nos primeiros meses. “Nos primeiros dois meses, alguns pacientes já vão se sentir muito melhor e pensam que não precisam mais continuar. Mas aí está o erro, porque a micobactéria é um organismo que se multiplica lentamente”, explica. Daí a necessidade de continuar de qualquer modo com o medicamento, para barrar sua evolução. 

Veja também: Brasil tem alta taxa de abandono do tratamento da tuberculose

 

Sobre a autora: Tarima Nistal é jornalista e especialista em comunicação digital e marketing. Interessa-se por questões relacionadas à saúde das mulheres, alimentação saudável e meio ambiente.

Veja mais

Sair da versão mobile