Aumento nos casos de metapneumovírus destaca importância da prevenção e vigilância de doenças respiratórias.
Recentemente, a China registrou um aumento significativo nos casos de infecção pelo metapneumovírus humano (HMPV), atraindo a atenção de autoridades sanitárias e especialistas em todo o mundo. Embora não haja um alerta internacional emitido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o surto acende o debate sobre o impacto desse vírus respiratório e as medidas necessárias para sua contenção. Mas o que é exatamente o metapneumovírus, quais seus riscos, e como podemos nos proteger?
O que é o metapneumovírus?
Descoberto em 2001, o metapneumovírus humano pertence à família dos vírus RNA e apresenta características genômicas semelhantes ao metapneumovírus aviário, responsável por infecções respiratórias em aves. Trata-se de um agente infeccioso comum, que afeta principalmente crianças e idosos, mas que pode causar doenças respiratórias em pessoas de todas as idades.
“O metapneumovírus humano é uma causa importante de doença respiratória em crianças e adultos. A maior parte das crianças adquirem a infecção até os dois anos de idade e podem ter novas infecções durante a vida”, explica o dr. Eduardo Alexandrino Medeiros, Diretor Científico da Sociedade Paulista de Infectologia.
“Ele já é conhecido dos cientistas há algumas décadas e é implicado como causa de doença respiratória, pelo menos desde 2001, quando foi isolado de um paciente na Holanda, e no Brasil a gente identificou desde 2004”, complementa a dra. Jessica Fernandes Ramos, que integra Núcleo de Infectologia do Hospital Sírio-Libanês.
Como o vírus é transmitido e quais os sintomas?
Assim como outros vírus respiratórios, o metapneumovírus é transmitido por contato direto com secreções respiratórias de pessoas infectadas. Gotas eliminadas por tosse ou espirro, além de superfícies contaminadas, são os principais veículos de contágio. “O vírus pode ser transmitido por até duas semanas após o início dos sintomas”, aponta o dr. Eduardo.
Os sintomas incluem congestão nasal, dor de garganta, rouquidão, tosse pouco produtiva (aquela com pouca ou nenhuma produção de muco) e febre. Em casos mais graves, especialmente entre pacientes com doenças pulmonares ou imunodeprimidos, pode evoluir para pneumonia ou bronquiolite. É importante ressaltar que alguns infectados podem ser assintomáticos ou apresentar sintomas leves e autolimitados.
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Quem está mais em risco?
Embora o metapneumovírus possa infectar qualquer pessoa, determinados grupos têm maior probabilidade de desenvolver formas graves da doença. Segundo o dr. Eduardo, “a doença pode ser mais grave em pacientes idosos, com doenças pulmonares e/ou cardíacas subjacentes, e imunodeprimidos, incluindo pessoas vivendo com HIV ou pós-transplante de órgãos”.
Crianças pequenas também estão no grupo de risco, principalmente aquelas com menos de dois anos, devido à possibilidade de complicações respiratórias graves, como bronquiolite.
Diagnóstico: como identificar o metapneumovírus?
“O diagnóstico é realizado por técnica de biologia molecular, que permite identificar a presença do material genético (RNA) do vírus: chamada de RT-PCR (Reação de Transcriptase combinada com a Reação em Cadeia da Polimerase). O exame é feito pela análise de uma amostra das secreções respiratórias do paciente. Este é o melhor exame: mais sensível e específico”, explica o dr. Eduardo.
“Então os laboratórios têm condição de fazer esse teste, e esse é um dos motivos de verificarmos um aumento de casos, porque agora conseguimos vigiar também esses outros vírus respiratórios”, complementa a dra Jessica.
Tratamento e prevenção
Atualmente, não existe um tratamento antiviral específico para o metapneumovírus e não há uma vacina disponível. O manejo da doença é sintomático, focando no alívio de sintomas. Entre as medidas de prevenção, deve-se evitar contato com pessoas com sintomas respiratórios.
Quanto à prevenção, as recomendações incluem práticas de higiene básicas, como lavar as mãos com frequência, usar máscaras em ambientes fechados e evitar contato próximo com pessoas sintomáticas. “Se você iniciar com sintomas respiratórios (dor de garganta, tosse, coriza), deve usar máscara, lavar as mãos com álcool gel e evitar visitar idosos ou pessoas com doenças pulmonares e cardíacas”, ressalta o dr. Eduardo.
Existe risco de pandemia?
Embora os surtos na China tenham levantado preocupações, a comunidade científica não considera o metapneumovírus uma ameaça pandêmica iminente. Segundo comunicado emitido pelo Ministério da Saúde, Marcelo Gomes, coordenador-geral de Vigilância da Covid-19 e outros vírus respiratórios no Brasil, declara que o risco de uma pandemia é baixo porque o vírus é endêmico e circula globalmente há anos.
“A maior parte das pessoas possuem algum grau de imunidade, anticorpos contra o metapneumovírus, e têm infecções de repetição autolimitadas durante a vida”, explica o dr. Eduardo. Ainda assim, especialistas alertam para a possibilidade de mutações genéticas que poderiam aumentar a transmissibilidade ou agressividade do vírus. “O vírus pode ter mudanças no seu genoma e, nesta transformação, pode se tornar mais transmissível e agressivo”, completa o infectologista.
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