A evolução de jovens com covid-19 para quadros mais graves acontece e pode estar relacionada a questões imunológicas, hereditárias ou até das novas variantes.
Se tem uma coisa que aprendemos é que a epidemia da covid-19 é dinâmica e as orientações podem mudar com frequência, principalmente por conta das variantes da doença. Se antes as recomendações diziam que pacientes com doenças pré-existentes, como diabetes e pressão alta tomassem mais cuidado para não se contaminarem devido ao risco alto de complicações, hoje isso também vale para os mais jovens e aparentemente saudáveis.
A verdade é que os médicos e cientistas ainda não sabem por que muitos jovens podem evoluir mal e ter um desfecho negativo para a doença. “Quem tem covid sintomática, o começo é mais ou menos igual para todos. Febre, dor de cabeça, dor no corpo, tosse. Lá pelo quinto, sexto dia, se tudo ocorrer bem, esses pacientes se recuperam e eliminam o vírus. Mas a grande questão é que para alguns, a partir do décimo dia, há uma grande piora. E ao contrário do que as pessoas imaginam, isso também ocorre com indivíduos jovens”, explica Wladimir Queiroz, diretor clínico no Instituto de Infectologia Emílio Ribas de São Paulo.
Não está muito claro, ainda, por que alguns pacientes ficam graves, mas os especialistas acreditam que haja uma reação imunológica exagerada no organismo desses pacientes, com a inflamação de tecidos e órgãos que podem levar a óbito. É importante destacar que isso não ocorre só com pacientes graves de covid-19, mas também com indivíduos que tenham doenças reumatológicas, como lúpus, quando precisam ficar muito tempo hospitalizados.
Por exemplo, quando o vírus entra no pulmão desses indivíduos, as células pulmonares passam a liberar moléculas de citocinas, que realizam a comunicação intracelular alertando o sistema imunológico sobre um ataque. “Só que pode haver uma reação inflamatória exagerada, causando mais danos que benefícios, porque não há um mecanismo para frear esse processo de alerta, que pode inclusive danificar o tecido pulmonar”, explica o reumatologista Ricardo Xavier, presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia.
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Perfil genético e covid grave em jovens
Além da questão imunológica, há outros fatores por trás da hospitalização de jovens, como o perfil genético do indivíduo, algum comprometimento do sistema imunológico que não foi detectado, além das novas variantes do vírus.
Segundo o geneticista Ciro Marthinago, diretor da Chromosome Medicina Genômica, em São Paulo, no início da pandemia foi feita uma pesquisa na Europa em que os cientistas realizaram estudos de ligações e sequenciamento de DNA de pacientes que tiveram covid grave, que necessitaram de internação e ventilação mecânica, e de pacientes que evoluíram bem.
“Basicamente, eles pegaram o DNA desses pacientes com covid grave e tentaram identificar o que havia em comum e as diferenças com aqueles que tiveram sintomas amenos. E um dos achados que influenciam a gravidade é a presença do gene ACE-2, que de certa maneira facilita a entrada dos vírus nas células. Por isso, é comum a gente ver famílias inteiras evoluindo mal, precisando ficar internado semanas na UTI.”
Ele exemplifica ainda essa questão da progressão da covid-19, com os achados sobre o vírus HIV, em meados de 2019.
“Hoje a gente sabe que quem tem uma mutação no gene CCR-5, está imune ao HIV, porque o vírus não entra na célula de quem tem essa mutação específica nesse gene.”
Atualmente até é possível fazer o teste genético para avaliar quais variantes genéticas você possui e se elas podem torná-lo mais protegido ou vulnerável ao vírus Sars-CoV-2, independentemente da vacina, mas, é óbvio, esbarramos na questão do preço, cerca de R$600.
Por isso, o mais importante no momento, enquanto a vacinação não atinge grande parte da população, é continuar utilizando máscaras (de preferência as pff2 em locais fechados com aglomeração) e mantendo o distanciamento social.
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