Pessoas que praticam exercícios ao ar livre podem acabar atraindo o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue. Entenda o motivo.
A prática de atividades físicas em ambientes externos pode aumentar o risco de picadas do Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya. Isso se deve às substâncias expelidas pelo corpo durante o exercício — mas existem maneiras de se proteger.
Por que o risco de ser picado é maior durante a prática de exercícios ao ar livre?
Dependendo do esporte ou da preferência individual, muitas pessoas optam por se exercitar em ambientes abertos. No entanto, principalmente em regiões com altos índices de arboviroses, essa prática pode atrair mosquitos transmissores de doenças, como o Aedes aegypti.
Horário do treino
A primeira razão está relacionada ao horário. Geralmente, as pessoas escolhem períodos em que o sol não esteja tão forte – no início da manhã ou no final da tarde. Coincidentemente, esses são justamente os períodos em que as fêmeas do mosquito Aedes aegypti estão mais ativas.
Por não gostarem muito de calor, esses mosquitos preferem picar nas horas mais frescas do dia, comumente entre 7h30 e 10h da manhã e 16h e 19h da tarde. Durante a noite ou em outros horários, eles tendem a não buscar alimento, mas podem aproveitar para picar caso encontrem alguém próximo aos criadouros.
Aumento da temperatura corporal
O mosquito também é atraído pelo calor do corpo humano. Durante a atividade física, a temperatura corporal se eleva, tornando o praticante um alvo mais fácil para o Aedes aegypti. Utilizando estímulos térmicos, o mosquito identifica variações de temperatura para localizar sua próxima vítima.
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Maior liberação de gás carbônico (CO²)
Outro efeito da atividade física é a aceleração da respiração. Nesse processo, o organismo inala o oxigênio (O²) e expele gás carbônico (CO²), substância utilizada como sinal químico pelo mosquito, que tem sensores especializados na variação de CO² no ambiente. Isso porque ele indica a presença de um ser humano próximo e, consequentemente, uma possibilidade de encontrar sangue para se alimentar e produzir seus ovos. Além disso, como o dióxido de carbono se dispersa no ar, ele pode ser percebido pelo mosquito a grandes distâncias.
Eliminação do suor
A liberação do suor e de outros odores naturais do corpo durante a atividade física são mais um atrativo para o Aedes aegypti. Quando suamos, o nosso corpo exala substâncias como ácido lático, amônia e outras. Isso também é percebido com maior intensidade por esses insetos, além de facilitar a sua aterrissagem para picar, já que o suor cria uma camada úmida sobre a pele.
Como evitar picadas do mosquito da dengue?
Apesar do risco, não é preciso abandonar a sua atividade física. Existem algumas dicas capazes de amenizar o perigo, como explica a dra. Melissa Barreto Falcão, infectologista da Vigilância Epidemiológica de Feira de Santana (BA) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI):
Passe repelente
O repelente deve ser aplicado em todas as áreas expostas do corpo, incluindo o rosto. É necessário reaplicar o produto de acordo com o tempo indicado pelo fabricante, que costuma ser de 2 a 3 horas. Se estiver suando muito, reaplique antes.
“Além de ter o cuidado de passar o repelente, tem que ver também a questão do protetor solar. Idealmente, você passa primeiro o protetor solar, espera cerca de 20 minutos para o protetor secar e em seguida passar o repelente. Se passar o repelente por baixo do protetor solar, não vai ter nenhuma eficácia”, alerta a especialista.
Use roupas adequadas
Se possível, prefira calças e blusas de manga comprida, que cubram a maior parte do corpo.
“Aqui no Brasil, a gente tem temperaturas quentes em algumas regiões na maior parte do ano, que não permitem ficar correndo de manga e calça comprida. Então também existem repelentes de roupa, né? Tem roupas com inseticida, que já vem com o repelente. Tem alguns repelentes de spray que você pode passar por cima da roupa. Tudo isso pode ajudar nesse processo”, recomenda a dra. Melissa.
Ouça: DrauzioCast #166 | Dengue e arboviroses
Não deixe água parada
Além das ações governamentais de limpeza da cidade e promoção de saneamento básico, a população também pode ajudar a evitar o surgimento de criadouros do mosquito Aedes Aegypti. Para isso:
- Troque a água dos vasos de plantas;
- Descarte objetos que possam acumular água, como embalagens, potes, latas, copos e garrafas vazias;
- Mantenha a caixa d’água sempre fechada;
- Lave e troque a água dos bebedouros de aves e animais;
- Descarte pneus velhos que estejam acumulando água.
E a vacina contra a dengue?
A vacina também é uma estratégia de prevenção. Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) conta com o imunizante Qdenga, da farmacêutica Takeda. Ele protege contra os quatro sorotipos do vírus da dengue e é aplicado em duas doses.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, aprovou o uso dessa vacina em pessoas de 4 a 60 anos, mas no momento ela só está disponível para crianças e adolescentes de 10 a 14 anos que moram em áreas prioritárias, conforme o risco epidemiológico de cada região. A disponibilidade depende das políticas públicas de saúde e da capacidade de produção do imunizante pela farmacêutica.
Em breve, o SUS também prevê a chegada da vacina produzida pelo Instituto Butantan. Ela será em dose única e com maior potencial de fornecimento.
“Por enquanto, não temos a vacina disponível em larga escala para aplicação na população. Mas aquela faixa etária de 10 a 14 anos que pode se vacinar deve se vacinar. A vacina passou por anos de estudo antes da sua liberação, então é segura e oferece proteção”, destaca a infectologista.
Para diagnosticar a dengue, uma das medidas são os testes, que estão disponíveis em farmácias e laboratórios privados. Em caso de dúvida, procure a orientação de um profissional da saúde.
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Conteúdo produzido em parceria com RD Saúde.
Ilustrações: Daphne Ilustra