Sinusite | Entrevista

Dependendo da saúde do paciente, essa inflamação da mucosa que reveste os seios da face pode ser grave. Saiba mais nesta entrevista sobre sinusite.

Dr. Antônio Douglas Menon, médico otorrinolaringologista, formado pela Escola Paulista de Medicina e vice-presidente da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia, postou em Entrevistas

Dependendo da saúde do paciente, essa inflamação da mucosa que reveste os seios da face pode ser grave. Saiba mais nesta entrevista sobre sinusite.

Compartilhar

Publicado em: 30 de outubro de 2012

Revisado em: 8 de julho de 2021

Dependendo da saúde do paciente, essa inflamação da mucosa que reveste os seios da face pode ser grave. Saiba mais nesta entrevista sobre sinusite.

 

Sinusite é a inflamação da mucosa que reveste os seios da face. É uma doença que ocorre com frequência e pode ser classificada em aguda, quando rapidamente provoca sintomas, ou crônica, quando as crises vão e voltam. Muita gente tem sinusite sem saber, porque desconhece seus múltiplos e diferentes sintomas. Na verdade, a sinusite nem sempre provoca a clássica dor de cabeça. É comum vir acompanhada por tosse intensa, por exemplo.

Quase sempre a sinusite aparece depois de um resfriado. Se os indivíduos resfriados fossem submetidos a uma tomografia computadorizada, 90% apresentariam alterações nos seios da face, mas apenas 10% evoluiriam para sinusite. Observação  importante: quando o resfriado, que é uma infecção viral, não passar em cinco ou seis dias, é bom procurar atendimento médico. Dependendo do estado imunológico do paciente, o quadro pode ser grave, porque existem sinusites que afetam as regiões orbitária e intracraniana.

 

SEIOS DA FACE

 

Drauzio — Em linhas gerais, o que são os seios da face? 

Antônio Douglas Menon — Os seios da face são cavidades aeradas no interior dos ossos que se localizam ao lado do nariz ou nas maçãs do rosto. Entre suas funções destacam-se a fonatória, a de armazenamento de ar e a influência na evolução do tamanho do crânio. Os grandes cantores têm seios da face bastante desenvolvidos nos quais concentram grande quantidade de ar. Os seios da face  subdividem-se em anteriores e posteriores. Alguns indivíduos apresentam aplasia ou hipoplasia do seio frontal, isto é, não têm esse seio ou ele é muito menor do que o do lado oposto. Embora mais raro, isso também pode ocorrer com os seios maxilares. As cavidades dos seios da face são revestidas por uma mucosa semelhante à mucosa do nariz. Essa mucosa é coberta por cílios dotados de movimentos vibráteis que conduzem o material estranho para a parte posterior de nariz para que seja eliminado com as secreções. A ausência desses cílios e o comprometimento crônico de todas as cavidades são características de certas doenças graves, como determinadas patologias pulmonares e a Síndrome de Cartagena, cujos portadores, curiosamente, possuem o coração do lado direito do tórax.

 

PRINCIPAIS SINTOMAS          

                                                             

Drauzio — Quais os sintomas mais frequentes da sinusite além da dor de cabeça que pode não se manifestar em todos os casos da doença?

Antônio Douglas Menon — A dor de cabeça surge na sinusite aguda. Em geral, o indivíduo apresenta além da dor na área do seio da face comprometido, obstrução nasal com presença de catarro purulento e sanguinolento, que incomoda bastante ao respirar, mal-estar e febre.

 

Drauzio — Existe uma dor de cabeça típica da sinusite?

Antônio Douglas Menon — É uma dor aguda, por vezes lancinante, porque a secreção fica retida num dos seios da face ou em todos eles.

 

TIPOS DE SINUSITE

 

Drauzio — Que tipos de sinusite existem?

Antônio Douglas Menon — De acordo com a região dos seios em que se manifesta, pode-se classificar a sinusite em maxilar (maçãs do rosto), etmoidal (entre o globo ocular e o nariz), frontal (testa) e esfenoidal. A sinusite esfeinodal provoca dor na lateral ou no vértice da cabeça ou, às vezes, na altura do dente canino.

Há pouco, uma senhora que se queixava de dor no dente canino, me procurou depois de consultar vários dentistas e tentar diversos tratamentos. Tudo em vão, porque se tratava de um caso típico de sinusite esfeinodal com comprometimento do seio esfeinodal direito, patologia que exige cuidados específicos.

 

SINUSITE CRÔNICA E SINUSITE FÚNGICA

 

Drauzio – Como distinguir os casos de sinusite crônica?

Antônio Douglas Menon — A sinusite pode ser crônica. Nesse caso, os sintomas são permanentes. A pessoa tem obstrução nasal, catarro amarelo-esverdeado e sanguinolento e dificuldade para eliminar secreção. A dor de cabeça só aparece nos processos sub-agudos. Pode, também, ser crônica recorrente, isto é, quando em média ocorrem quatro crises anuais, com intervalos nos quais a doença não se manifesta. Existe, ainda, a sinusite crônica complicada com comprometimento orbitário e intracraniano. Atualmente, atenção especial está voltada para a sinusite fúngica. Fungos podem alojar-se na cavidade nasal, formando uma bola que, além de sinusite, pode trazer sérias complicações. Recentemente, no Hospital Sírio-Libanês foi internado, com quadro de derrame cerebral, um paciente com sinusite etmoidal complicada por embolia micótica. Retirada a bola fúngica, que invadia os seios etmoidal e esfenoidal, sua recuperação foi perfeita.

 

DIAGNÓSTICO

 

Drauzio — Quais os achados relevantes para o diagnóstico da sinusite? 

Antônio Douglas Menon –– O diagnóstico é sempre diferencial. Parte-se da história clínica do paciente. Na fase aguda, a pessoa costuma dizer que tudo começou com um resfriado. Esse é um dado importante: geralmente um resfriado precede a sinusite. Para se ter uma ideia, o termo correto deveria ser rinossinusite, porque existe sempre uma rinite (inflamação das mucosas nasais) associada à sinusite (inflamação dos seios da face).

 

TOSSE E SINUSITE

 

Drauzio — Por que a sinusite provoca tosse?

Douglas Menon — Tosse pode ser o primeiro sintoma da sinusite. Na infância, é o principal elemento para um diagnóstico preciso. Praticamente 100% das crianças que tossem, são tratadas com xaropinho e não melhoram, têm sinusite. O sintoma aparece mais quando estão deitadas. As secreções caem na faringe e provocam uma reação no centro da tosse com a finalidade de eliminar o corpo estranho. Nesses casos, a tosse é quase sempre seca, irritativa.

A criança dorme mal, tem sono agitado e tosse por muito tempo. Apesar de ser mais noturna, não é raro manifestar-se pela manhã, ao levantar. Nos adultos, a tosse também é sintoma importante como indício de diversas patologias respiratórias e do refluxo gástrico, muitas vezes tratado como infecção das vias aéreas, quando um antiácido ou um antirrefluxo resolveria esse problema que também pode manifestar-se nas crianças. Como o refluxo acontece mais quando a pessoa está deitada, especialmente se comeu antes de dormir, recomenda-se que durma em decúbito mais elevado, ponha um tijolinho no pé da cama ou use um travesseiro mais alto.

 

RECOMENDAÇÕES

 

Drauzio — Como orientar quem tem episódios frequentes de sinusite?

Antônio Douglas Menon — A sinusite é a doença crônica de maior incidência nos Estados Unidos. Estudos realizados na Clínica Mayo de Rochester comparando dois grupos de pacientes, um constituído por indivíduos saudáveis e outro por portadores de sinusite crônica, demonstraram presença de fungo em 97% dos portadores. Assim, se o paciente tiver sinusite que não melhora com os tratamentos convencionais, deve procurar um otorrino para fazer avaliação imunológica e pesquisar a presença de fungos. Ainda não existem antifúngicos de ação local. Por isso, é recomendável tomar, por via oral, um antifúngico associado a corticoides ou submeter-se ao tratamento cirúrgico.

 

AR CONDICIONADO E DISSEMINAÇÃO DE FUNGOS

 

Drauzio — Qual a influência do ar condicionado nos casos de sinusite?

Antônio Douglas Menon – Atualmente, aumentou a exigência para limpeza dos sistemas de ar condicionado para evitar a disseminação de fungos e bactérias nos ambientes em que estão instalados. O interessante é que, mesmo nos países mais civilizados do mundo, o acelerado crescimento de casos de rinite alérgica não encontra explicação satisfatória. Buscam-se respostas na predisposição individual para a doença, no sistema nervoso neurovegetativo (tese defendida pelos alemães) e nos efeitos do ar condicionado sobre o organismo.

Veja mais

Sair da versão mobile