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Drogas Lícitas e Ilícitas

Tratamento do alcoolismo vai além da abstinência

Tratar o alcoolismo vai além de simplesmente parar de beber. Conheça os diferentes caminhos para a reestruturação e o cuidado integral do paciente

O tratamento do alcoolismo não se baseia apenas em parar de beber. Conheça os diversos caminhos para a reestruturação do paciente

A ideia de que a única forma de tratar o alcoolismo é parar completamente de beber vem sendo repensada em vários países, inclusive no Brasil. Hoje, os especialistas reconhecem que existem diferentes caminhos possíveis para a recuperação, os quais vão além da abstinência total. 

Reduzir o consumo de álcool de forma controlada, por exemplo, pode representar um avanço importante para a qualidade de vida da pessoa afetada. Abordagens mais flexíveis buscam respeitar as condições de cada indivíduo, tornando o tratamento acessível e eficaz.

Interromper imediatamente o uso da substância é a primeira medida apenas em casos mais graves, já que a síndrome de abstinência coloca em risco a vida do paciente. Ela pode provocar confusão mental, hipertensão arterial, taquicardia e delirium tremens (DTs), isto é, a forma mais agressiva da abstinência alcoólica. Por ser uma condição médica perigosa e fatal, o paciente é tratado por cerca de duas semanas em ambiente hospitalar.

Depois começa a segunda e mais longa parte do tratamento, aplicada também em pacientes com quadros mais leves. É nessa etapa que a pessoa aprende a viver em abstinência do álcool, se assim desejar, ou reduzir ao máximo os danos causados pela bebida. A psicoterapia e o acompanhamento psicológico norteiam essa etapa.

“A vida da pessoa precisa ser reestruturada. Em geral, são necessárias algumas reeducações a respeito de como viver, mudanças no ambiente, reestruturação em grupos de autoajuda ou ajuda mútua. Não se trata de uma doença que se curou, mas de uma trajetória de vida na qual a pessoa se esforça, com a ajuda de profissionais, familiares, pares e sociedade, para reencontrar o sentido que foi corroído pelo período de dependência do álcool”, explica Guilherme Messas, psiquiatra e professor livre-docente pela Santa Casa de São Paulo.

Medicamentos e internação são necessários no tratamento do alcoolismo?

Passado o período crítico da abstinência, algumas pessoas podem exigir internação quando recaem o tempo todo, seja porque não conseguem ou porque não têm estrutura comunitária para sair do estado de dependência. Ainda assim, essas internações são curtas e duram tempo suficiente para que o paciente articule o seu novo modo de viver.

Os medicamentos existem, mas não são os responsáveis por resolver o problema. Eles auxiliam, dentro de um contexto amplo de tratamento psicológico, a reduzir o desejo de beber, a aliviar sintomas da abstinência e a ajudar a manter a pessoa em recuperação.

No Brasil, os três mais utilizados são:

  • Dissulfiram: torna a ingestão do álcool tóxica, impedindo que ele seja totalmente degradado no organismo e provocando uma reação aversiva ao seu consumo. É muito usado para aqueles que estão em fase de desintoxicação;
  • Naltrexona: reduz o desejo de beber, diminuindo a sensação de recompensa que o álcool provoca no cérebro. Auxilia pessoas que buscam a redução do uso e não a abstinência;
  • Acamprosato: age também na redução do desejo, mas promove uma sensação de conforto do paciente, diminuindo a ansiedade, a insônia e a tensão.

“A dependência do álcool corrói o sentido de vida das pessoas. Portanto, o tratamento na fase de recuperação tem que ter um eixo muito forte na busca de novos sentidos ou no reencontro de sentidos que foram perdidos. E isso não é algo que se faça apenas com medicação ou hospitalização. A dependência do álcool se liga, de forma muito forte, a outros tipos de sofrimento mental que, muitas vezes, estavam por trás do uso do álcool. Ou seja, a pessoa usava álcool para lidar com a ansiedade, com a depressão, com a sensação de falta, com a dor. Ao se interromper o uso do álcool, é claro que esses sofrimentos psíquicos vêm à tona, e eles precisam ser tratados”, aponta o especialista.

O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece apoio a esses pacientes, desde aqueles que necessitam de cuidados hospitalares até os que seguem tratamentos psicológicos continuados. Os Centros de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas (CAPS Ad) são as principais portas de entrada do tratamento do alcoolismo na rede pública. Em algumas regiões, existem ainda alternativas como comunidades terapêuticas e moradias assistidas. 

Veja também: Quando o consumo de álcool se torna excessivo?

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