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Poluição e longevidade | Artigo

Publicado em 25/04/2011
Revisado em 11/08/2020

A respiração é a mais imprescindível das funções fisiológicas. O aumento da poluição pode elevar os índices de mortalidade geral da população. 

 

Que a poluição causada por partículas sólidas em suspensão, ozônio, dióxido de enxofre, óxido nitroso e monóxido de carbono, provoca problemas de saúde que vão além de irritação na garganta e ardência nos olhos, ninguém mais contesta.

O impacto a curto prazo da poluição nos índices de mortalidade foi avaliado em 124 cidades grandes da Europa e América do Norte. Aumentos da concentração de partículas sólidas da ordem de 10 microgramas (micrograma é a milionésima parte do grama) por metro cúbico de ar, aumentam a mortalidade geral da população de 0,2% a 0,6%.

Os trabalhos sobre os efeitos tardios da exposição ao ar poluído também chegaram a conclusões semelhantes. Os mais importantes foram realizados pela Universidade Harvard em seis cidades americanas e pela American Cancer Society que acompanhou o destino de 1,1 milhão de pessoas a partir dos anos 1980.

Inquéritos conduzidos em diversos países industrializados demonstraram que a concentração de poluentes no ar está diretamente associada à diminuição da expectativa de vida: redução média de 13 meses na Holanda, 15 meses na Finlândia e 9 meses no Canadá.

A Organização Mundial da Saúde calcula que 1,4% de todas as mortes e 0,8% dos anos de trabalho perdidos por motivo de doença, sejam consequência direta da poluição do ar.

Faltava até hoje, no entanto, a comprovação do fenômeno oposto, isto é, que a redução da quantidade de poluentes fosse capaz de reverter os malefícios do ar mais poluído.

Uma das revistas científicas de maior prestígio (“The New England Journal of Medicine”) publicou, em janeiro de 2009, o primeiro estudo planejado com o objetivo específico de esclarecer essa questão.

 

Veja também: Entrevista sobre doenças da poluição

 

Os autores analisaram 51 áreas metropolitanas, ao redor das maiores cidades do território americano. Nelas, levantaram os dados referentes à expectativa de vida, condição socioeconômica dos habitantes, nível educacional, número de fumantes, etnia e demais características demográficas.

Os dados sobre os níveis de poluição foram conseguidos junto às agências oficiais, no período que vai do final dos anos 1970 até o início dos anos 2000.

Graças ao controle exercido pelos órgãos competentes, a partir dos anos 1980 e 1990, a concentração de partículas poluentes no ar diminuiu em todas as áreas estudadas.

Os resultados revelaram que programas de combate à poluição capazes de reduzir 10 microgramas de partículas poluentes por metro cúbico de ar, provocam um aumento médio da expectativa de vida da população da ordem de 7,3 meses.

No período de 1980 a 2000, a expectativa média de vida nos Estados Unidos aumentou 2,74 anos. A redução dos níveis de poluição ocorrida nesses 20 anos foi responsável por cerca de 18% desse aumento.

A parte do corpo humano que apresenta maior superfície de contato com o exterior não é a pele, são os pulmões. Se fosse possível esticá-los cobririam uma quadra de tênis.

Para protegê-los, o aparelho respiratório é dotado de pelos no interior do nariz, cílios que revestem as paredes internas dos brônquios e células que produzem muco de consistência viscosa. As partículas grandes suspensas no ar inalado ficam presas nos pelos. As menores, mais finas, acabam atoladas no muco e são empurradas para fora pelo movimento permanente dos cílios (comparado ao do vento num canavial).

Apesar da eficiência silenciosa desses mecanismos, algumas partículas sólidas conseguem chegar nos alvéolos pulmonares, porque são muito finas ou porque os cílios funcionam mal (como os dos fumantes).

Nos alvéolos, a poluição causa um processo inflamatório que dificulta as trocas de oxigênio e gás carbônico, agravando os casos de doença pulmonar obstrutiva crônica em pessoas suscetíveis.

Além disso, esse processo inflamatório provoca liberação de mediadores que vão agir nas placas de aterosclerose depositadas nas artérias, aumentando o risco de ataques cardíacos, derrames cerebrais e obstruções de artérias periféricas.

Adotar medidas de combate à poluição ambiental não é reivindicação de cidadãos ecointransigentes, é questão de saúde pública que afeta a duração da vida de todos nós.

Quanto mais limpo o ar de uma cidade, maior é a longevidade dos que vivem nela.

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