Prevenção de cálculo renal | Artigo

Estudo enfatiza que prevenção de cálculo renal não necessariamente deve ser feita com alimentação pobre em cálcio. Leia mais no artigo do dr. Drauzio.

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Publicado em: 7 de abril de 2011

Revisado em: 11 de agosto de 2020

Estudo enfatiza que prevenção de cálculo renal não necessariamente deve ser feita com alimentação pobre em cálcio.

 

A eliminação de cálculos pelas vias urinárias provoca uma das dores mais intensas que o corpo humano pode suportar. Embora em alguns casos as dores fiquem limitadas a uma sensação desagradável de pressão que se irradia da região lombar para as partes inferiores do abdome, muitos chegam a vomitar e a rolar no chão de tanta dor.

O quadro é frequente: cerca de 10% das pessoas terão uma ou mais crises em suas vidas. Quem já teve e eliminou uma pedra, tem 50% de possibilidade de apresentar novo episódio nos cinco a sete anos seguintes. Os cálculos eliminados pelas vias urinárias podem ser microscópicos ou tão grandes que precisam ser retirados cirurgicamente. Os livros de medicina costumam trazer fotos de pedras com cores e formas variadas, que podem atingir o tamanho de um abacate.

 

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Mais de 200 componentes foram descritos em cálculos renais, mas a maioria deles é constituída por oxalato de cálcio.

A maior parte dos portadores da doença apresenta absorção exagerada de cálcio através do intestino e, como consequência, excreção urinária mais elevada.

As cirurgias para a retirada de cálculos, populares no passado, são hoje pouco indicadas. Aparelhos endoscópicos podem atingir pedras localizadas mesmo nas partes mais altas do trato urinário, e retirá-las ou destruí-las com laser. A litotripsia, método não invasivo que permite fragmentar cálculos por meio do ultra-som, fez reduzir as indicações cirúrgicas.

A prevenção é crucial no caso dos cálculos renais, porque em sua formação eles precisam de tempo para acumular-se e de um local propício do trato urinário.

Para evitar esse acúmulo, recomendam-se medidas que aumentem o fluxo urinário: tomar muito líquido, evitar infecções e esvaziar a bexiga antes de senti-la cheia.

Uma vez que a formação de cálculos está relacionada com a absorção de cálcio, a modificação de hábitos alimentares é um procedimento atraente na prevenção.

Uma dieta pobre em cálcio pode parecer lógica, mas como esse elemento é fundamental para a formação do esqueleto, ela está associada à diminuição da densidade óssea e à osteoporose.

Estudos sugerem que dietas com conteúdo normal de cálcio, mas pobres em proteína animal e em sal, podem ser úteis na prevenção de cálculos. Até hoje, no entanto, não havia sido publicado um único ensaio que as comparasse com as dietas pobres em cálcio.

Esse estudo acaba de ser realizado por um grupo da Universidade de Parma, na Itália. Foram separados 120 homens com história de mais de um episódio de eliminação de cálculos de oxalato de cálcio e que apresentavam aumento da excreção urinária de cálcio (hipercalciúria).

Metade deles foi colocada numa dieta com conteúdo normal ou até mais elevado de cálcio e pobre em proteína animal (carne vermelha, frango, peixe e ovos). A outra metade foi aconselhada a evitar leite, iogurte e queijos para reduzir drasticamente a quantidade de cálcio ingerida.

Ambos os grupos receberam a recomendação de ingerir 2 litros de água por dia no inverno e 3 litros no verão.

Foi permitida a ingestão de vinho, cerveja, café e refrigerantes em quantidades moderadas. O grupo foi acompanhado durante cinco anos.

Dos 60 homens que receberam dietas pobres em proteína e sal, mas ricas em cálcio, 12 apresentaram novos episódios de calculose. Dos outros 60, que ingeriram dieta pobre em cálcio (e com conteúdo normal de proteína e sal), 23 tiveram recidiva do quadro – quase o dobro de risco.

Os níveis urinários de cálcio nas duas dietas caíram significativamente, mas a excreção de oxalato de cálcio na urina (o principal componente dos cálculos) aumentou no grupo que ingeriu pouco cálcio e foi reduzida no grupo mantido com dieta de conteúdo normal de cálcio e pobre em proteína e sal.

Essa diferença pode ser explicada pelo aumento da absorção intestinal de oxalato de cálcio provocada pelos baixos níveis de cálcio ingerido. Já nas dietas com conteúdo normal de cálcio, esse elemento está mais disponível para formar complexos com oxalato na luz intestinal, dificultando sua absorção.

Discutindo esse estudo em editorial publicado na revista The New England Journal of Medicine, David Bushinsky, da Universidade de Rochester, escreve: “Hoje podemos afirmar que uma dieta contendo quantidades adequadas de cálcio (1.200mg por dia) em conjunto com a diminuição da quantidade de proteína animal e de sal é superior às dietas pobres em cálcio na prevenção da formação de cálculos de oxalato de cálcio”.

E enfatiza: “Os médicos não devem mais prescrever dietas pobres em cálcio para prevenir recorrências de calculose”.

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