Coronavírus em jovens | Artigo

É um erro os jovens acreditarem que o perigo já passou e declararem, por conta própria, o fim da epidemia. Eles precisam estar cientes que a covid-19 continua fazendo estragos e que a vacina não vai fazer milagres num passe de mágica, quando for aplicada.

jovem infectada pelo novo coronavírus internada em hospital. Colapso dos serviços de saúde está próximo

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Publicado em: 22 de dezembro de 2020

Revisado em: 22 de dezembro de 2020

Apesar de ser mais grave em pessoas mais velhas, o novo coronavírus pode ser grave em jovens.

 

Menosprezar o perigo é um equívoco frequente na adolescência.

É provável que esse fenômeno aconteça porque os circuitos de neurônios das áreas cerebrais responsáveis pelo controle das emoções, organizam a arquitetura de suas sinapses anos antes do que o fazem os do lobo frontal, região que coordena o planejamento racional e a tomada de decisões. Como consequência, o adolescente experimenta emoções de adulto, enquanto mantém reações imaturas diante de ameaças à própria vida e à dos outros.

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No caso da atual epidemia, esse descompasso neuroanatômico se manifesta com clareza. A crença na imortalidade e no risco mais baixo de apresentar sintomas graves talvez expliquem a irracionalidade de adolescentes e adultos jovens, que se aglomeram em bares e nas festas, alheios à realidade de que esse comportamento os coloca em risco, expõe seus familiares, a comunidade e dissemina a epidemia.

Apesar da maior gravidade nas pessoas mais velhas, a covid-19 pode ser devastadora em quem não chegou aos 30 anos, haja vista as sequelas deixadas pela infecção e as mortes ocasionais nessa faixa etária.

Em setembro, um grupo do Brigham and Women’s Hospital, de Boston, publicou o estudo “Evolução Clínica de Jovens com covid-19, nos Estados Unidos”, na revista “JAMA Internal Medicine”. Nele, foram avaliados o perfil clínico e a evolução de 3.222 mulheres e homens de 18 a 34 anos internados em hospitais americanos, por causa da doença. As gestantes foram excluídas.

Os participantes tinham em média 28,3 anos; 57,6% eram homens; 57,0% eram pretos ou latino-americanos. As prevalências das principais comorbidades que afetam a evolução foram: obesidade 36,8% (IMC acima de 30), diabetes 18,2% e hipertensão arterial 16,1%.

[…] fica difícil acreditar que o atual Ministério da Saúde esteja preparado para coordenar o esforço exigido para adquirir vacinas suficientes para imunizar dezenas de milhões de pessoas pelo Brasil inteiro, em tempo hábil para reduzir as mortes, já no início do ano.

No decorrer da internação, 694 pacientes (21%) foram transferidos para unidades de terapia intensiva e 331 (10%) necessitaram de intubação e ventilação mecânica. A média de permanência na UTI foi de 4 dias.

Entre os 3.222 participantes, 88 faleceram. Esse índice de mortalidade (2,7%) é o dobro daquele provocado por infarto do miocárdio em jovens da mesma faixa etária.

O risco de morte ou de precisar de ventilação mecânica foi 50% mais alto entre os homens; 2,3 vezes maior entre os obesos graves (IMC 40 ou mais); 2,36 vezes maior entre os hipertensos e 1,4 vezes nos casos de diabetes.

Naqueles com mais de uma das três condições citadas (obesidade, hipertensão, diabetes), o risco foi comparável ao observado em adultos mais velhos, sem nenhuma delas. Obesidade grave esteve presente em 41% dos pacientes que faleceram ou precisaram de intubação e ventilação mecânica.

O estudo não permite calcular quantos adultos infectados entre os 18 anos e os 34 anos apresentam sintomatologia que justifique hospitalização, mas é perturbador saber que, dos internados, 21% vão parar na UTI, 10% dependerão de intubação e ventiladores para sobreviver e 2,7% irão a óbito, apesar da idade.

Estamos num momento em que, cansada de ficar em casa, a população brasileira decretou por conta própria o fim da epidemia. As imagens de jovens aglomerados nãos bares e as multidões nas ruas em que se concentra o comércio popular, as festas e o verão que se aproxima, prenunciam um ano novo sinistro.

Crer que a vacina resolverá nossos problemas nos próximos meses, é sonhar acordado. Primeiro, porque o descaso, a incompetência e a demagogia irresponsável do governo federal nos colocaram em desvantagem para adquiri-la no mercado internacional. Depois, porque fica difícil acreditar que o atual Ministério da Saúde esteja preparado para coordenar o esforço exigido para adquirir vacinas suficientes para imunizar dezenas de milhões de pessoas pelo Brasil inteiro, em tempo hábil para reduzir as mortes, já no início do ano.

Neste momento (dezembro e 2020), tínhamos de nos concentrar na obtenção imediata de vacinas, em convencer os brasileiros da segurança e da necessidade delas e, sobretudo, da importância de usar máscara, lavar as mãos e guardar distância dos outros, medidas exatamente opostas às defendidas pelo presidente da República e muitos de seus seguidores, desde o início da tragédia que se abateu sobre nós.

Feliz Natal, caríssimos leitores. Tomem cuidado. Não deixem que a reunião da família lhes traga tristeza e sofrimento.

 

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