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A saúde na pandemia | Artigo

pessoas na índia aguardam atendimento médico. Pandemia pode gerar uma sindemia de outras doenças
Publicado em 11/03/2021
Revisado em 11/03/2021

A pandemia do novo coronavírus pode gerar uma sindemia, quando duas ou mais doenças interagem de forma a causar danos maiores do que a soma delas, no mundo todo.

 

O novo coronavírus causou prejuízos de toda ordem. Entre eles, a execução de três programas prioritários da Organização Mundial da Saúde (OMS): vacinação contra a poliomielite, diagnóstico e tratamento da tuberculose e o combate à malária.

Veja também: Pandemia de covid-19 gera queda em números de atendimentos de outras doenças

Algumas das barreiras enfrentadas por esses programas já existiam antes da chegada da pandemia. Em agosto de 2020, depois de passar quatro anos sem detectar um caso sequer na África, a OMS certificou que a poliomielite estava erradicada do continente africano.

No entanto, a pretensão de eliminar a doença do mundo (como aconteceu com a varíola) tem fracassado, porque a vacinação universal em zonas conflagradas como as das cidades e povoados ao longo da fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão, demonstrou ser muito difícil.

No ano de 2020, as interrupções da imunização contra a pólio provocadas pela pandemia do coronavírus deixaram, somente no continente africano, cerca de 80 milhões de crianças sem receber a vacina. A OMS defende um grande esforço para a cobertura vacinal desse contingente, para evitar o retorno da poliomielite ao continente.

No combate mundial à tuberculose, a OMS tinha estabelecido a meta de reduzir em 25% a incidência de casos e em 35% a de mortes pela doença, até 2020. Como dos U$ 2 bilhões que pretendia investir em estratégias para atingir esses números, só foi possível aplicar U$ 900 milhões, os resultados frustraram essas expectativas. A Agência admite agora que haverá aumento de 1 milhão de casos anuais, até o ano de 2025.

Apesar desses dissabores, a Organização lançou, em 2020, a campanha “Estratégia Global para Acelerar a Eliminação do Câncer Cervical”, destinada a erradicar o câncer de colo uterino.

Os programas de controle e tratamento da malária – uma das principais causas de óbito em vários países africanos – também sofreram o impacto da pandemia. A OMS esperava chegar em 2020 com redução de 37% na incidência de casos e 22% na de mortes. As dificuldades de acesso aos centros de diagnóstico e de tratamento causadas pela necessidade de adotar medidas de afastamento social para deter a disseminação do coronavírus, serão responsáveis por dezenas de milhares de óbitos nos países da África abaixo do deserto do Saara.

Apesar desses dissabores, a Organização lançou, em 2020, a campanha “Estratégia Global para Acelerar a Eliminação do Câncer Cervical”, destinada a erradicar o câncer de colo uterino. A iniciativa pretende vacinar contra o HPV (papilomavírus) 90% das meninas antes dos 15 anos de idade e garantir acesso ao tratamento de pelo menos 90% das mulheres diagnosticadas com a doença, até 2030. É o primeiro esforço internacional para eliminar um tipo de câncer para o qual existe vacina.

Se adicionarmos as dificuldades que a pandemia acrescentou ao acesso à assistência médica para controle das doenças crônicas, como diabetes, hipertensão arterial e suas complicações, é possível entender por que os técnicos consideram que o coronavírus causou uma sindemia, termo criado pelo médico e antropólogo americano, Merrill Singer, para caracterizar situações em que duas ou mais doenças interagem de forma a causar danos maiores do que a soma delas.

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