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Drauzio

A transmissão da covid

mulher de pé no metrô, usando máscara para evitar a transmissão da covid
Publicado em 17/08/2022
Revisado em 22/08/2022

Recomendações a respeito da transmissão da covid mudaram do começo da pandemia para cá. Saiba os motivos no artigo do dr. Drauzio.

 

Parece incrível que a duração do período de transmissão da covid ainda esteja cercada de incertezas.

No início da pandemia, a recomendação era de que o isolamento dos doentes durasse duas semanas, contadas a partir dos primeiros sintomas.

Veja também: Covid-19: conheça os sintomas de cada variante

Em dezembro de 2021, no entanto, os Centers For Diseases Control (CDC) dos Estados Unidos reduziram esse período para cinco dias. A agência se baseava em observações de que a transmissão ocorria principalmente nos dois dias que antecediam os sintomas, até dois ou três dias depois da instalação deles.

De acordo com os CDCs, o dia da instalação da sintomatologia deveria ser considerado o dia zero (o dia seguinte seria o dia 1). Assim, se a doença começasse numa segunda-feira, o paciente já poderia retornar à vida normal no domingo, com uma ressalva: desde que estivesse 24 horas afebril e com os demais sintomas regredindo. A partir desse dia, deveria manter o uso de máscara por mais cinco dias. Um pouco complicado, não?

Desde, então, essa orientação vem sendo questionada pelos especialistas, muitos dos quais a consideram influenciada por pressões políticas.

As críticas tomam como base os estudos que detectaram o vírus nas secreções nasais, no decorrer da segunda semana de doença.

Entrevistado pela revista “Nature”, Amy Barczak, infectologista do Massachussets General Hospital, ligado à Universidade Harvard, foi enfático: “Não há dados suficientes para garantir que ele seja menor do que dez dias”. Seu trabalho publicado online em medRxiv sugere que cerca de 25% das pessoas infectadas pela variante Ômicron, chegam ao oitavo dia ainda em condições de transmiti-la.

Na verdade, não é razoável escolher um dia determinado para a pessoa deixar de ser contagiosa: a questão é estatística, prezada leitora. A pergunta certa é quando a maioria deixa de transmitir o vírus.  O número dos que continuam transmitindo, no decorrer da segunda semana, é relevante para a saúde pública?

O problema é bem mais complexo do que sugere a pressa do CDC em assegurar a volta ao trabalho. Hoje lidamos com novas variantes do coronavírus, com o estímulo imunológico provocado pela vacinação e com a imunidade natural induzida por covid prévia. Qual o impacto desses fatores no controle da infecção e na velocidade de eliminação do vírus?

Para complicar, na avaliação dos estudos entram em cena fatores comportamentais: quanto mais debilitante a sintomatologia, maior será o período em que o doente ficará em casa, enquanto os assintomáticos ou com sintomatologia leve, tenderão a se movimentar mais precocemente, aumentando o risco de transmissão.

Outro complicador é o fato de que o teste de PCR pode persistir positivo, mesmo depois que a pessoa deixou de transmitir há vários dias. Essa positividade é explicada pela presença de fragmentos de RNA inviável, que persistem mesmo depois da eliminação completa do vírus.

Na avaliação desses casos, o ideal é realizar o teste rápido do antígeno, uma vez que ele detecta proteínas produzidas apenas enquanto o vírus ainda mantém a replicação. Se, depois de uma semana ou mais, o teste rápido for positivo, o isolamento deve ser mantido até ocorrer negativação.

E quando o teste rápido já deu negativo, mas a tosse, o cansaço e a dor de garganta ainda não foram embora? A persistência dessas queixas não significa que a pessoa ainda transmita o vírus, essa sintomatologia pode ser causada pela própria resposta imunológica, fenômeno que eventualmente persiste mesmo depois da eliminação do vírus.

Para ter certeza se o doente ainda transmite, o ideal seria colher o vírus diretamente das secreções nasais, para semeá-lo em meios de cultura, técnica acessível apenas em laboratórios especializados, não disponíveis na rotina. Os dados que emergiram de pesquisas com essa tecnologia, mostraram que é muito raro encontrar Sars-CoV-2 viáveis depois do décimo dia, contados depois do surgimento dos primeiros sintomas.

Talvez possamos resumir da seguinte maneira: ao décimo dia o isolamento pode ser suspenso sem haver necessidade de repetir qualquer teste. Antes desse período, apenas depois do quinto dia, nos casos em que o teste rápido estiver negativo. Pacientes com imunodepressão podem transmitir por períodos mais prolongados.

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