Página Inicial
Diabetes

Psoríase: Muito além de um problema de pele

Mulher coçando cotovelo.
Publicado em 27/10/2020
Revisado em 28/10/2020

Psoríase afeta mais que a pele. Pode atingir articulações e interferir no metabolismo, relacionado-se até com diabetes e pressão alta.

 

Doenças de pele são estigmatizadas e causam enorme sofrimento físico e psíquico, afetando diretamente a autoestima e o convívio social de seus pacientes. 

A psoríase é um exemplo. Enfermidade que atinge cerca de 2,6 milhões de brasileiros, segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), é caracterizada como uma doença inflamatória sistêmica (que atinge outras partes do organismo, além da pele), decorrente de alterações do sistema imunológico, que emite alarmes falsos e levam à inflamação e à rápida renovação das células da pele. Ponto importante: a psoríase não é uma doença contagiosa. 

Veja também: Especialista responde 7 perguntas sobre psoríase

Uma de suas principais características é o aparecimento de lesões de pele avermelhadas em forma de placas (mais frequentes) que descamam, localizadas principalmente nos cotovelos, joelhos e couro cabeludo, mas que podem surgir em qualquer região do corpo, inclusive nas palmas das mãos, plantas dos pés e unhas. 

A genética tem um papel fundamental no surgimento da doença, já que aproximadamente um terço dos pacientes tem parentes com psoríase, e filhos de pessoas com psoríase possuem maior probabilidade de desenvolver a doença. 

Ao contrário do que se acredita, principalmente quando falamos de doenças de pele, o estresse não é a causa exclusiva do problema, mas pode contribuir para o surgimento de lesões. Mais do que lidar com o problema de pele, o paciente precisa estar preparado para encarar os impactos emocionais. Em muitos casos, eles podem ser mais danosos do que a presença das placas avermelhadas, por isso é tão importante que o paciente diagnosticado tenha apoio psicológico, a fim de que não haja uma  piora do quadro inflamatório.

 

Doença sistêmica 

 

Segundo o médico dermatologista Wagner Galvão, do Hospital Oswaldo Cruz, a psoríase não é uma inflamação crônica que fica restrita somente à pele. “Ela atinge diversas partes do organismo e pode trazer complicações cardíacas a longo prazo, a chamada síndrome metabólica, ocasionando problemas de pressão alta e diabetes, principalmente em pacientes com as formas moderadas e graves da doença.” 

Se não bastasse, de 30% a 40% dos pacientes com psoríase podem evoluir para um quadro de artrite psoriásica, que causa dor intensa, fadiga e inchaço nas articulações. O tempo médio de aparecimento de artrite psoriásica após os primeiros sinais de psoríase são de aproximadamente 7 anos.  Segundo o dermatologista, o grande desafio do tratamento é conseguir diminuir o risco de o paciente desenvolver esse quadro. 

Por ser uma doença com ampla gama de manifestações, nem sempre a jornada do paciente é tarefa simples. A questão nem sempre se resume à demora diagnóstica, porque as lesões de pele da psoríase são bem características. O problema, de acordo com Galvão, é que o paciente, na maioria das vezes, acaba não seguindo o tratamento corretamente. “É muito comum o paciente chegar até mim e dizer que tem psoríase há mais de 30 anos, mas não consegue melhorar.” 

Entretanto, o tratamento da doença passou por inúmeras mudanças nos últimos anos e há alternativas medicamentosas para todos os tipos de psoríase, inclusive as mais graves e resistentes aos tratamentos convencionais. “Atualmente, nós temos um arsenal terapêutico grande e cada vez mais seguro, em termos de efeitos colaterais. Só de biológicos, são nove tipos. Eu acompanho diversos pacientes no hospital e também virtualmente e não tem nenhum caso em que eu posso dizer que não tem o que fazer pela pessoa. Com isso, eu consigo deixar esse paciente praticamente sem lesões, melhorando muito sua qualidade de vida.” 

Veja também: Psoríase pode ser confundida com outras doenças de pele

O tratamento imunobiológico da psoríase é geralmente utilizado em casos moderados ou graves e segue um protocolo definido pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, que leva em consideração o grau da doença e a resposta ao tratamento oral ou à fototerapia.

É importante reforçar que as medicações mais modernas não substituem de primeira as terapias tradicionais. Segundo o Consenso Brasileiro de Psoríase, a primeira opção de tratamento é a fototerapia, na qual o paciente recebe radiação ultravioleta nas lesões em pelo menos 20 sessões. Se houver necessidade, o médico pode prescrever o uso de medicação oral. 

Não se pode esquecer que o  paciente com psoríase deve estar sempre com a pele bem hidratada, porque quanto mais seca e vermelha estiver a lesão e se localizada nas áreas de dobras, maior a probabilidade de sangrar. Além disso, é fundamental que o paciente tenha uma rotina de hábitos saudáveis, como se alimentar adequadamente e praticar exercícios físicos, pois isso ajuda a diminuir a incidência de lesões. 

 

Cuidado com os cremes milagrosos

 

Um entrave comum é que muitos pacientes, afetados pela doença, acabam recorrendo a tratamentos sem nenhuma comprovação científica, que vão de cremes a chás milagrosos que podem trazer riscos à saúde. Essas informações são disseminadas em grupos de pacientes nas redes sociais e acabam viralizando. Por isso, antes de utilizar qualquer creme ou pomada, converse com seu médico. “Muitos pacientes usam achando que são fitoterápicos, mas não são. Você vai analisar essas pomadas e na sua formulação tem corticoides de alta potência, que não devem ser utilizados sem prescrição, por conta dos efeitos adversos “, reforça Galvão. 

 

Referências

International Federation of Psoriasis Associations (IFPA) – World Psoriasis Day. Profile of Psoriasis. http://www.worldpsoriasisday.com/web/page.aspx?refid=114. Acesso – Outubro, 2020.

Sociedade Brasileira de Dermatologia http://www.ufrgs.br/textecc/traducao/dermatologia/files/outros/Consenso_Psoriase_2012.pdf Acesso – Outubro, 2020.

Mayo Clinic https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/psoriatic-arthritis/symptoms-causes/syc-20354076  Acesso – Outubro, 2020. 

Compartilhe
Sair da versão mobile