Estimativas revelam que o número de pessoas com diabetes poderá ultrapassar 1 bilhão em 2050. Leia na coluna de Mariana Varella.
O número de casos de diabetes praticamente dobrará em pouco menos de três décadas. É o que revelam novas estimativas publicadas na revista científica “Lancet” no fim de junho. Segundo a publicação, o mundo deverá ter 1,3 bilhão de pessoas com a doença em 2050.
Em 2021, havia 529 milhões de pessoas com a doença, sendo 90% com diabetes tipo 2.
No Brasil, de acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes, há mais de 13 milhões de pessoas vivendo com diabetes, o que representa 6,9% da população nacional. Esse número, no entanto, deve ser bem maior, já que muita gente tem a doença e não sabe.
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O diabetes, que mata 1,5 milhão de pessoas por ano no planeta, já é uma das dez principais causas de mortes por doenças no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Embora o número divulgado na “Lancet” seja uma estimativa que pode ou não se confirmar, a publicação chama a atenção para as desigualdades (sociais, econômicas, de acesso a serviços de saúde, à alimentação saudável, entre outras) envolvendo a doença. De acordo com a estimativa, em 2045 três em cada quatro casos de diabetes ocorrerão em países de baixa e média renda, o que representa um desafio para os sistemas de saúde.
Diabetes: doença crônica e progressiva
O diabetes é uma doença crônica e progressiva causada pela produção insuficiente ou pela má absorção de insulina, hormônio secretado pelo pâncreas que regula a glicose no sangue, e garante energia para o funcionamento do organismo.
A doença está relacionada ao risco aumentado de doenças cardiovasculares, como infarto e AVC; renais; nos olhos; nervos; entre outras.
O aumento dos casos de diabetes tipo 2 está associado a fatores como obesidade, sedentarismo, alimentação inadequada, uso excessivo de álcool, tabagismo, etc.
Obesidade em jovens
Em relação à obesidade, um dos principais fatores de risco para o diabetes tipo 2, dados do Covitel 2023 – Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia, realizado pela Vital Strategies e pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) – mostram que houve um aumento da obesidade em jovens de 18 a 24 anos.
Em 2022, 9% dos jovens dessa faixa etária tinham IMC, o índice de massa corporal, superior a 30, o que configura obesidade. Em 2023, essa taxa subiu para 17,1%, um aumento de 90% em um ano.
Se acrescentarmos a esses dados o percentual de jovens com sobrepeso, ou seja, com IMC entre 25 e 30, teremos 40,3% dos jovens dessa faixa etária com excesso de peso.
O consumo de refrigerantes e sucos artificiais, um marcador importante de alimentação não saudável, é alto entre essa população: 24,3% dos jovens afirmaram consumir esses produtos cinco ou mais vezes na semana.
O sedentarismo, fator que colabora para a obesidade e o surgimento de várias doenças, entre elas o diabetes tipo 2, também é frequente entre eles: apenas 36,9% praticam os 150 minutos semanais de atividade física recomendados pela OMS.
O sobrepeso e a obesidade nessa faixa etária preocupam porque quanto mais cedo eles surgirem, maior o risco do aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis como diabetes, hipertensão, doença cardiovascular e câncer.
Tanto o diabetes tipo 2 quanto a obesidade são problemas de saúde multifatoriais e bastante complexos, que precisam ser enfrentados levando em conta fatores psicológicos, biológicos, sociais e econômicos. Culpar o indivíduo pelo excesso de peso ou pelo diabetes, embora seja comum, não resolve o problema e afasta os pacientes dos serviços de saúde.
É preciso lembrar que o diabetes tipo 2, apesar de grave e de representar um desafio para os sistemas de saúde, é uma doença evitável. Para isso, são necessárias ações individuais com o objetivo de melhorar o estilo de vida e evitar os fatores de risco, e políticas que visem o enfrentamento às desigualdades na prevalência da doença.