O efeito, descrito por uma dermatologista norte-americana, refere-se à formação de linhas finas, rugas, flacidez e papada ao redor da boca; entenda
A busca pelo corpo ideal com o Ozempic – medicamento indicado para diabetes tipo 2 e usado de forma off label para emagrecimento – pode vir com um preço mais visível no espelho. Depois do chamado “rosto de Ozempic”, efeito colateral que deixa a face com aparência flácida e envelhecida, outro possível resultado do uso do remédio tem ganhado destaque no noticiário nacional e internacional: a “boca de Ozempic”.
O termo foi citado pela dermatologista norte-americana Michele Green em entrevista ao jornal britânico Daily Mail, publicada no início de maio. Segundo a especialista, trata-se da formação de linhas finas, rugas, flacidez e papada ao redor da boca – consequência da perda visível de volume na face, causada pelo emagrecimento rápido e acentuado que pode ocorrer com o uso do medicamento.
Abaixo da pele do rosto há uma camada de gordura chamada coxim adiposo, responsável por dar sustentação e volume às estruturas da face. Quando essa gordura diminui, o rosto pode ficar com um aspecto mais fino, envelhecido e flácido – podendo também afetar a boca.
A endocrinologista Lorena Lima Amato, doutora pela Universidade de São Paulo (USP), explicou que a perda de gordura nas bochechas pode comprometer a sustentação facial e alterar a aparência dos lábios. “A pessoa pode ter aquelas rugas ao redor da boca e até, eventualmente, uma expressão do lábio mais caído porque as bochechas perdem a sustentação da gordura e pesam para baixo. E pode até mudar um pouquinho, suavemente, a forma como os lábios estão posicionados.”
Ela ressaltou, no entanto, que não há aumento do volume dos lábios, como dá a entender em algumas fotos disponíveis na internet. “Só fica mais desproporcional e evidente por causa do emagrecimento, mas o volume se mantém.”
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Efeitos são mais visíveis em pessoas com idade avançada
Segundo o médico Gustavo Lenci, especialista da plataforma Carreira Médica PUCPR, o emagrecimento muito rápido causado pelo medicamento pode levar a quadros de desnutrição leve e redução da absorção de nutrientes essenciais, o que também pode comprometer a região da boca e da face. “Além disso, com a perda muito rápida de peso, a pessoa acaba perdendo um componente de massa magra, que é a musculatura também.”
A perda muscular, combinada à perda de gordura, tem efeitos diretos na expressão facial, acrescentou o doutor: “a nossa face, a expressão facial, é composta tanto por tecido gorduroso subcutâneo quanto por tecido muscular. Então, ao perder essa musculatura, ela geraria essa face típica. Seria um misto da perda de peso rápida, da perda de gordura facial e da alteração da musculatura facial.”
Os efeitos são mais visíveis, segundo o médico, em pessoas com idade mais avançada. “Justamente por esses pacientes com mais idade já terem menos colágeno na pele e menos musculatura facial”. A endocrinologista Lorena lembrou também que, quem já tinha o rosto naturalmente magro, pode desenvolver uma aparência ainda mais marcada e com flacidez ao redor dos lábios após o emagrecimento.
É possível amenizar a “boca de Ozempic”?
Apesar de o efeito ser visível, ele pode ser amenizado com tratamentos estéticos. O tratamento mais simples seria a suspensão do medicamento. Porém, lembrou o dr. Lenci, isso poderia levar ao reganho de peso. Lembrando que, embora o Ozempic seja indicado para diabetes, há outros medicamentos à base de semaglutida voltado para o tratamento de obesidade de sobrepeso.
Caso a pessoa não possa parar com o remédio, há outras possibilidades que podem ajudar no controle dos efeitos. Entre os mais indicados estão os bioestimuladores de colágeno, que são substâncias injetáveis capazes de melhorar a firmeza e o volume da pele gradualmente. Também há procedimentos que combinam microagulhamento com radiofrequência para estimular a produção de colágeno e proporcionar maior sustentação à pele.
Cremes com ativos que estimulam o colágeno também ajudam na qualidade da pele, mas, sozinhos, não são suficientes para conter os efeitos da perda de volume facial decorrente do emagrecimento.
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Por que o Ozempic emagrece?
O princípio ativo do Ozempic é a semaglutida, uma substância que imita a ação do hormônio GLP-1, naturalmente produzido no intestino. Esse hormônio desempenha um papel importante no controle do apetite e da glicemia. Ele envia sinais ao cérebro indicando que o corpo já está alimentado, promovendo a sensação de saciedade.
Além disso, ele deixa a digestão mais lenta, o que também ajuda a reduzir a fome, e estimula o pâncreas a liberar insulina de forma proporcional à ingestão de carboidratos, colaborando no controle do açúcar no sangue.
Todos esses efeitos no organismos levam à redução significativa do apetite e à perda de peso – e, consequentemente, a alguns efeitos colaterais visíveis, como a “boca de Ozempic” e o “rosto de Ozempic”.
Quais os riscos do uso inadequado?
O uso de medicamentos como o Ozempic para fins puramente estéticos, fora das indicações oficiais, pode trazer riscos significativos. O emagrecimento rápido e sem supervisão médica pode causar desde déficits nutricionais até perda acentuada de massa muscular, comprometendo a saúde e a estrutura do rosto.
“O uso estético sem acompanhamento médico pode levar o paciente, sim, a ter menor absorção desses nutrientes e um emagrecimento não saudável e não controlado”, disse o dr. Lenci. “Medicamento não é cosmético.”
A endocrinologista Lorena chamou atenção para o uso indiscriminado. “O mau uso tem contribuído para a má reputação desses medicamentos”. Ela reforçou, porém, que o uso responsável, com acompanhamento médico e hábitos de vida saudáveis, pode sim trazer benefícios.
“Nunca tive um paciente que precisasse ir ao pronto-socorro por efeitos adversos. Com o manejo correto, é possível minimizar os efeitos colaterais e obter bons resultados.”
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