Algumas medidas e normas de segurança evitam acidentes em eventos subaquáticos, além de problemas de saúde. Saiba o que ocorre com o corpo quando ele está sob pressão hidrostática.
Em junho de 2023, um submarino que realizava uma expedição turística pelo oceano Atlântico para ver os destroços do Titanic sumiu. Alguns dias depois, soube-se que a embarcação havia implodido e as pessoas, morrido devido à perda de pressão interna na cabine.
Por conta desse trágico episódio, ficou a dúvida: quais são os efeitos fisiológicos da pressão hidrostática no organismo? Vale destacar que esta é a pressão exercida por um fluido (líquidos) em repouso em um ponto submerso.
“Quando mergulhamos, mesmo dentro de um dispositivo como um submarino, a água exerce uma pressão hidrostática sobre nosso organismo, que será mais alta quanto maior for a profundidade da submersão. Em valores muito altos, a pressão pode ter efeitos deletérios, como o colapso pulmonar e danos a órgãos relacionados ao trauma”, explica o dr. Igor Maia Marinho, infectologista e especialista em medicina hiperbárica da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.
Principais efeitos fisiológicos da pressão hidrostática no organismo
O especialista explica que a pressão máxima que um organismo pode suportar depende de diversos fatores, incluindo a saúde do indivíduo, a velocidade da mudança de pressão e o tempo exposto a uma pressão elevada.
“De modo geral, a maioria dos indivíduos consegue tolerar uma pressão de até 2,5 vezes a pressão atmosférica sem efeitos colaterais importantes, o que equivale a um mergulho de até 15 metros”, complementa.
Alguns dos principais efeitos fisiológicos da pressão incluem:
- Barotrauma: a diferença entre a pressão interna do corpo com a externa causa danos aos tecidos. Pode afetar os ouvidos, os seios da face e pulmões.
- Descompressão: devido à pressão, o indivíduo pode absorver o nitrogênio da corrente sanguínea. Com isso, podem surgir sintomas como dores nas articulações, confusão mental e morte, em casos mais graves.
- Baixos níveis de oxigênio no corpo: surgem sintomas como tontura, dificuldade de respirar e fadiga.
- Edema pulmonar: o corpo passa a produzir mais fluidos, o que leva a um edema nos pulmões e dificuldade respiratória.
- Problemas cardíacos: pode ocorrer o dano do órgão por uma pressão aumentada e o seu comprometimento funcional.
- Edema cerebral de alta altitude: em casos mais raros, ocorre o edema cerebral por conta da retenção de fluidos. Isso causa dores de cabeça, confusão mental, perda da coordenação e até coma.
“Ao nível do mar, nossos pulmões têm a capacidade de comportar de quatro a seis litros de ar. Sendo assim, se uma pessoa mergulha a 20 metros, a pressão sobre ela praticamente dobra e sua capacidade pulmonar cai pela metade. Além disso, há o risco de narcose de nitrogênio, conhecida como embriaguez das profundezas. Essa condição é semelhante à intoxicação alcoólica, causando dificuldade de raciocínio, desorientação e euforia”, explica o dr. Fabrício Buzatto, médico do esporte e fisiatra do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Espírito Santo.
Veja também: Afogamento
Medidas de segurança e normas são fundamentais
É importante destacar que a exposição a diferentes níveis de pressão hidrostática pode ser perigosa e requer cuidados no planejamento de atividades e medidas de seguranças para evitar riscos à saúde.
“Dentro de um submarino, a pressão exercida sobre os indivíduos é mantida de forma constante, ou muito próximo disso, independentemente da profundidade atingida, por um conjunto de sistemas de pressurização, ventilação e lastros que são muito modernos atualmente”, afirma o dr. Marinho.
Por isso, os tripulantes de um submarino não costumam estar submetidos a pressões muito elevadas durante suas viagens, e ele é construído com uma estrutura capaz de suportar diferenças de pressão muito intensas.
De forma geral, algumas medidas de segurança e normas internacionais são fundamentais e devem ser seguidas para evitar acidentes e que a pressão hidrostática provoque problemas de saúde e até morte, em diversos contextos desde mergulhos, operações submarinas e até testes de equipamentos.
Entre elas, estão:
- Inspeção e manutenção de equipamentos. É fundamental garantir boas condições dos aparelhos e itens e verificar válvulas e selos de segurança:
- Treinamento adequado das pessoas envolvidas em atividades subaquáticas;
- Planejamento das atividades, atentando-se para a profundidade máxima permitida, tempo de exposição, entre outros fatores;
- Monitoramento contínuo da profundidade, tempo de exposição e da pressão;
- Estabelecimento de limites de profundidade seguros para evitar a pressão excessiva;
- Monitoramento das taxas de ascensão e descida e intervalo de superfície para evitar mal-estar e problemas de saúde;
- Comunicação constantemente com a equipe;
- Uso de equipamentos adequados para equalizar a pressão, como protetores auditivos para evitar comprometer a audição.