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Coluna da Mariana Varella

Sociedade de Cardiologia altera diretrizes sobre hipertensão. O que muda?

Novas diretrizes brasileiras para a hipertensão arterial visam prevenir o avanço da doença. Leia na coluna de Mariana Varella.

idoso mede a pressão arterial sentado no sofá, em casa, para controlar a hipertensão

Na última quinta-feira (18), as Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH) lançaram novas diretrizes para a hipertensão arterial. O anúncio foi feito durante o 80º Congresso Brasileiro de Cardiologia, em São Paulo.

Segundo o documento, o intuito das novas diretrizes é identificar e implementar precocemente mudanças não farmacológicas para aqueles que têm mais risco de desenvolver hipertensão.

Veja também: Mudanças nos critérios para diagnosticar pressão elevada

As novas diretrizes foram inspiradas nas diretrizes europeias, lançadas no início de agosto do ano passado pela Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC, da sigla em inglês), no Congresso Europeu de Cardiologia, em Londres.

 

Mudanças nos critérios

O documento não altera os valores definidos para diagnosticar a hipertensão: ter pressão arterial igual ou acima de 14 por 9 (140 mmHg e/ou 90 mmHg). Tampouco recomenda medicação para números abaixo desse valor. Assim, não há nenhum motivo para pânico.

No entanto, aqueles que, ao aferir a pressão arterial obtiverem valores  entre 12 por 8 e 13,9 por 8,9 (120-139 mmHg sistólica e/ou 80-89 mmHg diastólica), números antes considerados normais, agora devem ficar atentos. Esses números passam a ser definidos como pré-hipertensão e, de acordo com as novas diretrizes, exigem mudanças de hábitos para evitar que o paciente evolua para um quadro hipertensivo.

Isso significa, na prática, que os valores para iniciar o tratamento medicamentoso da doença não mudaram, mas que aqueles que estiverem na faixa definida como pré-hipertensão precisam mudar hábitos e fazer acompanhamento regular.

 

O que muda, na prática?

Os valores 120 por 80 mmHg e 129 por 84, também conhecidos como 12 por 8 e anteriormente tidos como normais, passaram a ser considerados elevados.

Isso não significa, entretanto, que uma pessoa que apresente valores iguais a 12 por 8 seja hipertensa, mas que ela tem um risco maior de desenvolver hipertensão no futuro

“O diagnóstico de hipertensão sistêmica propriamente dito não mudou, são [consideradas altas as] pressões maiores ou iguais a 140 por 90”, explica o dr. Marcelo Martins, cardiologista pelo Instituto do Coração (Incor).

 

Hipertensão: doença grave

Ao contrário do que muitos pensam, a hipertensão não causa sintomas na maioria dos casos. Assim, muita gente tem a doença e não sabe.

Ela está relacionada a problemas graves de saúde, como doenças cardiovasculares cerebrais e cardíacas (AVCinfarto, etc.), complicações oculares e renais e impotência sexual.

“A hipertensão arterial é mais comum do que se pensa: afeta quase a metade da população adulta e é o principal fator de risco para doenças cardiovasculares, que continuam liderando as causas de morte no Brasil e no mundo”, diz o dr. Marcelo.

Apesar de ser frequente, as pessoas costuma subestimar seus riscos e desconhecer os fatores de risco.

“É importante entender que pressão alta não é exclusividade de quem ‘passa raiva’ ou vive estressado. Embora o estresse seja um fator contribuinte, existem muitos fatores por trás do aumento da pressão arterial: alimentação rica em sal e em ultraprocessados, consumo excessivo de álcool, sedentarismo, excesso de peso, sono insuficiente, além da predisposição genética e da idade, pois à medida que envelhecemos, o risco aumenta”, afirma o cardiologista.

 

Valores das diretrizes brasileiras

  • Pressão arterial não elevada: < 120 e < 80 mmHg — conhecido popularmente como “12 por 7”.
  • Pré-hipertensão: 120-130 e/ou 80-89.
  • Hipertensão estágio 1: 140-159 e/ou 90-99 mmHg.
  • Hipertensão estágio 2: 160-179 e/ou 100-109.
  • Hipertensão estágio 3: > ou igual a 180 e/ou > ou igual a 110.

 

Recomendações para evitar e tratar a hipertensão

Para quem tem risco de desenvolver hipertensão arterial e também para quem já desenvolveu a doença, as novas diretrizes recomendam:

  • Reduzir o consumo de bebidas alcoólicas: o álcool tem associação direta com a hipertensão;
  • Não fumar, pois o cigarro aumenta a pressão e é fator de risco para doenças cardiovasculares;
  • Reduzir o peso corporal, para aqueles com sobrepeso ou obesidade;
  • Adote um padrão alimentar saudável: o documento recomenda a dieta DASH, que inclui o consumo de frutas, hortaliças, laticínios com baixo teor de gordura, cereais integrais, carnes magras  e oleaginosas e restringe o consumo de gorduras saturadas, carnes gordurosas, grãos refinados e açúcar de adição. O documento também recomenda o consumo moderado de cafeína, já que o uso da substância em excesso pode elevar a pressão;
  • Reduza a ingestão de sódio e aumente a de potássio (exceto aqueles com doença renal crônica);
  • Pratique exercícios físicos regulamente: Realizar, pelo menos, 150 min/semana de atividade aeróbica moderada ou 75 min/semana de atividade aeróbica vigorosa, ou ainda, uma combinação equivalente de atividade moderada e vigorosa. Para maior benefício, executar exercícios de fortalecimento muscular duas vezes/semana;
  • Interrompa o comportamento sedentário. Segundo o documento: “Estima-se que cada hora passada em comportamento sedentário aumenta em 5% o risco CV [de desenvolver doença cardiovascular]”. Assim, recomenda-se levantar e se movimentar por 5 min a cada 30 min sentado.

“É preciso medir a pressão com regularidade e da forma certa. Não vale se basear em uma medida isolada feita às pressas. A recomendação é que a medida seja feita com o corpo em repouso, sentado, com o braço na altura do coração, sem ter fumado, tomado café ou feito exercícios nos minutos anteriores” finaliza o médico.

 

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