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Infectologia

Volta às presenciais requer compromisso dos responsáveis | Coluna

dois jovens assistem à aula concentrados e de máscara, na volta às aulas presenciais
Publicado em 06/08/2021
Revisado em 06/08/2021

A volta às aulas presenciais exige comprometimento de toda a comunidade para que não cause aumento significativo no número de casos de covid-19.

 

As aulas presenciais voltaram na maior parte do país. Animados com a queda no número de hospitalizações e mortes causados pela covid-19, estados e municípios determinaram a volta às aulas nas escolas públicas e privadas. Alguns estabelecimentos de ensino ainda adotam rodízio entre os alunos, outros já recebem 100% dos estudantes.

    Veja também: Artigo do dr. Drauzio sobre aumento de casos da variante Delta

Embora o momento ideal para o retorno das aulas presenciais ainda seja motivo de discussão, poucos discordam de que o ensino remoto seja prejudicial para crianças e adolescentes. Assim, com a vacinação parcial ou completa dos funcionários e professores, as escolas voltam às aulas com protocolos de prevenção para evitar surtos nas comunidades escolares.

Para além dos protocolos adotados pelas escolas, uma questão vem sendo pouco discutida: para que a volta às aulas presenciais não cause aumento significativo no número de casos de covid, é preciso comprometimento das famílias. Assegurar que as crianças e os adultos que morem com elas não se exponham a riscos desnecessários é fundamental para garantir a segurança de toda a comunidade.

Crianças e adolescentes estão vivendo há mais de um ano privados do convívio social com seus pares. Sabemos que nessa fase do desenvolvimento, a socialização é muito importante, em especial para adolescentes. Contudo, é necessário fazê-los entender que se não respeitarmos as medidas não farmacológicas de prevenção fora da escola, não teremos como garantir a segurança dentro do ambiente escolar.

A prioridade neste momento, em que crianças e jovens ainda não foram vacinados e que há a circulação da variante Delta, deve ser a escola. Reuniões, festas e demais situações que promovam aglomerações desnecessárias, principalmente em locais fechados e sem uso de máscara, não devem ser autorizadas pelos responsáveis, por mais difícil que seja dizer não aos filhos.

A regra deve valer para crianças, adolescentes e adultos.

Obviamente, não me refiro aos jovens e familiares que não podem escolher fugir das aglomerações. Muitos precisam pegar condução, trabalhar e frequentar espaços poucos ventilados e onde há muita gente. Devem, no entanto, usar máscara sempre.

Também é preciso reforçar a necessidade de que todos os adultos se vacinem assim que puderem, e que levem os filhos de 12 a 18 para que se imunizem quando a vacinação desse grupo começar.

Enquanto a vacinação não avança e chega aos jovens (no momento, temos pouco mais de 20% dos brasileiros totalmente vacinados), não podemos descartar o uso de máscara e o distanciamento físico.

Caso contrário, corremos risco de precisar retroceder ao ensino remoto e ver milhares de pessoas adoecendo, algumas gravemente, de uma infecção evitável.

 

Redução de riscos

 

Para auxiliar as escolas, pesquisadores do projeto ModCovid19 , com a contribuição do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI), desenvolveram um modelo matemático que simula diferentes cenários com protocolos de segurança diversos e estima o aumento de casos da doença na comunidade escolar.

Entre as medidas que podem reduzir a transmissão da covid-19 destacam-se:

  • Use máscaras de boa qualidade, de preferência as PFF2

A utilização de máscaras de má qualidade e mal ajustadas aumenta o risco de contágio em mais de 1000%, segundo a simulação. As máscaras PFF2 oferecem proteção de 94%, pois têm maior capacidade de filtragem e se ajustam melhor ao rosto, mas não estão disponíveis para crianças.

Elas, portanto, devem usar máscaras de boa qualidade, que se adaptem bem ao tamanho e formato do rosto, ou uma máscara cirúrgica por baixo de uma de pano. (Ver mais sobre o uso de máscaras adequadas aqui.)

Professores, que passam mais tempo nos espaços escolares e falam mais alto, o que dispersa partículas com mais amplitude e velocidade no ar, devem usar PFF2.

  • Mantenha os ambientes bem ventilados

As salas com janelas fechadas e ar condicionado aumentam muito o risco de contágio. O distanciamento físico em locais mal ventilados não evita a contaminação, pois ambientes com pouco fluxo de ar permitem que as gotículas com o vírus permaneçam suspensas por mais tempo.

  • Não se preocupe com a higienização de superfícies com álcool em gel e medição de temperatura

A transmissão do Sars-CoV-2, vírus que causa a covid-19, se dá principalmente pelo ar, portanto não há necessidade de higienizar as superfícies constantemente, como pensava-se no início da pandemia. Já há farta literatura baseada em evidências demonstrando que o ar é a principal via de transmissão do vírus.

Medir a temperatura também já se mostrou medida pouco eficiente, principalmente porque a maioria das crianças é assintomática ou desenvolve quadros leves da doença, sem febre.

  • Institua turmas alternadas e monitore os casos suspeitos

O modelo mostrou que turmas alternadas em dois grupos, com cerca de 6 horas de aula por semana e bom uso de máscaras são muito eficazes. Além disso, a alternância entre os alunos auxilia na identificação e monitoramento de novos casos e isolamento das turmas.

 

Enfrentar a pandemia é tarefa coletiva, que exige esforço de todos. A responsabilidade dos dos indivíduos se torna ainda maior diante do atraso da vacinação. Assumir determinados riscos com cautela e deixar de lado, sempre que possível, as atividades mais arriscadas será fundamental nos próximos meses.

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