Câncer de intestino aumenta entre mais jovens

A colonoscopia permite a identificação e a retirada de tumores do intestino grosso ainda na fase pré-maligna, favorecendo a cura. câncer colorretal

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Publicado em: 24 de março de 2023

Revisado em: 4 de abril de 2023

Aumento de casos de câncer de intestino, o câncer colorretal, entre jovens assusta aqueles com menos de 50 anos. Leia na coluna de Mariana Varella.

 

Nos últimos meses, a mídia tem noticiado vários casos de pessoas famosas com menos de 50 anos que desenvolveram câncer de intestino, o câncer colorretal.

Mais comum em pessoas com mais de 55 anos, as notícias têm gerado preocupação entre os mais jovens. Embora não tenhamos muitos dados sobre o aumento da incidência desse tipo de câncer entre pessoas dessa faixa etária no Brasil, em um levantamento feito pelo A. C. Camargo Cancer Center com 1.167 pacientes, 20% das pessoas que receberam o diagnóstico entre 2008 e 2015 tinham menos de 50 anos.

No Brasil, estão previstos 44 mil novos casos desse câncer por ano, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).

Veja também: Câncer de intestino é um dos mais frequentes no Brasil

Dados dos Estados Unidos também mostram um aumento de casos entre os mais jovens. Um estudo publicado pela American Cancer Society (Sociedade Americana do Câncer) estima que em 2023, 153 mil pessoas serão diagnosticadas com câncer colorretal nos Estados Unidos. Destas, cerca de 13% ocorrerão em indivíduos com menos de 50 anos, o que representa um aumento de 9% nos diagnósticos nessa faixa etária de 2020 para cá.

Na Europa, a tendência parece ser a mesma: um estudo mostrou que a incidência do câncer colorretal em pessoas mais jovens, incluindo aqueles com menos de 40 anos, aumentou muito no continente entre 1990 e 2016.

Por outro lado, os casos desse tipo de câncer têm diminuído entre as pessoas com mais de 50 anos desde 1985, em boa parte do mundo. Segundo autores de vários estudos, incluindo o da Sociedade Americana do Câncer citado, os cânceres diagnosticados nos mais jovens tendem a ser mais agressivos.

Nos Estados Unidos e no Brasil, esse câncer é o terceiro mais comum, perdendo apenas para o câncer de mama e o de próstata.

 

Intestinos e colonoscopia

O intestino tem cerca de 10 metros de comprimento e se divide entre delgado e grosso. O delgado é responsável pela digestão e absorção dos nutrientes oriundos dos alimentos. É muito raro que uma pessoa desenvolva câncer nessa região.

O intestino grosso, a parte final do tubo digestivo, é dividido em ceco, cólon e reto; é nas duas últimas regiões que se desenvolve a maior parte dos tumores de intestino, daí o nome colorretal.

Em geral, o câncer nessa região ocorre devido a um crescimento anormal de células presentes na mucosa do intestino, formando os pólipos, que podem surgir em qualquer local do organismo que tenha mucosa e são bastante comuns em pessoas com mais de 45 anos. Nem todo pólipo se transforma em câncer, mas por terem potencial de se tornarem lesões cancerígenas com o tempo, costumam ser removidos quando identificados no exame de colonoscopia.

A colonoscopia serve tanto para diagnosticar lesões no intestino como para retirar os pólipos e, assim, prevenir o câncer de intestino, que não costuma causar sintomas na fase inicial.

Embora esteja disponível pelo SUS, nem sempre é fácil conseguir marcar o exame, que exige preparo e sedação, mas não internação hospitalar. A espera pode demorar mais de um ano, e muitas regiões não contam com colonoscópio (aparelho usado para fazer o exame) ou especialistas, o que torna o acesso pelo SUS praticamente impossível. Assim, muitos pacientes recebem o diagnóstico quando a doença já está avançada, reduzindo muito as chances de cura, que podem chegar a 90% quando o tumor é detectado no início.

O Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SOCP) indicam o exame de rastreio para a população geral (pessoas sem histórico familiar da doença) a partir dos 50 anos. No entanto, a Sociedade Americana do Câncer recomenda o início do rastreamento com colonoscopia a partir dos 45 anos, e essa orientação tem sido dada por várias sociedades e médicos do mundo todo, como a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO).

A periodiocidade para a realização do exame deve ser individualizada e considerar os fatores de risco, mas, no geral, a colonoscopia deve ser repetida a cada 10 anos, caso a pessoa não apresente pólipos. Pessoas com doenças inflamatórias intestinais (doença de Crohn, retocolite ulcerativa e outras) precisam realizar o rastreamento com mais frequência. Famílias que apresentam vários membros com múltiplos pólipos intestinais (polipose familiar), também, conforme orientação médica.

Parentes de primeiro grau de familiares que tiveram câncer colorretal devem ser acompanhados com mais cuidado, a partir de uma idade mais precoce. Embora não haja unanimidade, a maioria dos especialistas aconselha que o primeiro exame nesses casos seja realizado cinco a dez anos antes da idade em que o parente mais jovem recebeu o diagnóstico.

O risco de desenvolver esse tipo de tumor é similar para homens e mulheres e cresce com a idade. Desigualdades sociais, que em geral implicam menos acesso a serviços de saúde, também aumentam o risco.

Apesar de idade, doenças inflamatórias intestinais e histórico familiar serem os fatores de risco mais importantes, obesidade, tabagismo, consumo de álcool, carne vermelha ou processada e sedentarismo aumentam a probabilidade de desenvolver da doença.

Todas as pessoas, no entanto, devem ficar atentas a sinais de alerta como sangramento retal, anemia, mudanças no hábito intestinal (constipação repentina, por exemplo) ou dor abdominal. Em pessoas mais novas, o sangramento retal costuma aparecer como primeiro sintoma. Nesses casos, deve-se procurar um médico rapidamente.

 

Por que o câncer de intestino está aumentando entre mais jovens?

Apesar de estar aumentando, o risco de alguém com menos de 50 apresentar a doença  ainda é baixo. Especialistas alertam para o fato de que não é necessário alarde, pois a idade ainda é um importante fator de risco.

Pesquisadores e médicos ainda não têm certeza dos motivos exatos para o aumento do câncer colorretal entre os mais jovens, mas há alguns indícios.

O aumento da obesidade entre crianças e adultos jovens é um dos fatores. Estudos mostram que a obesidade em fase precoce pode chegar a dobrar o risco da doença.

O uso episódico e excessivo de álcool – definido em geral como cinco ou mais doses em cerca de duas horas para homens e quatro ou mais para mulheres – também parece ser um fator de risco, já que a prática vem aumentando em adultos com menos de 30 anos nas últimas décadas.

O fato de jovens terem menos consciência do risco da doença pode ajudar a explicar o fato de o câncer ser mais agressivo em quem tem menos de 50 anos: eles demoram mais a procurar o médico e iniciam o tratamento com a doença em fase mais avançada.

Para prevenir a doença, é importante:

  • manter uma alimentação saudável que inclua o consumo de vegetais, frutas e grãos integrais e pouca carne vermelha ou processada (bacon, presunto, salame, salsicha, entre outras);
  • não fumar (há várias substâncias químicas no cigarro que sabidamente aumentam o risco para a doença);
  • fazer atividade física regular;
  • reduzir o consumo de álcool;
  • evitar o excesso de peso;
  • realizar exames de colonoscopia a partir dos 45 ou 50 anos (se a pessoa tiver histórico familiar, síndrome de Lynch ou qualquer doença intestinal inflamatória, os exames de rastreamento devem começar antes dessa idade, conforme orientação médica).

 

 

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