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Câncer na Gravidez: quais os desafios do tratamento

Dependendo do tipo de tumor e da condição da paciente, é possível levar a gravidez adiante. Entenda.
Publicado em 27/05/2022
Revisado em 10/06/2022

Dependendo do tipo de tumor e da condição da paciente, é possível levar a gravidez adiante. Entenda.

 

Imagine conciliar um tratamento oncológico com uma gravidez. Parece muito complicado? Foi exatamente o que aconteceu com a bancária Ana Beatriz Frecceiro, de 36 anos, Curitiba. 

Beatriz já era mãe do pequeno Daniel, de apenas sete meses na época, e também de Matheus, de 10 anos. Sonhava em ter uma menina, mas apenas dois meses depois da confirmação da gestação veio o diagnóstico: estava com câncer. 

“Eu encontrei dois carocinhos nos seios na hora do banho, quando fui esvaziar o leite. Notei que tinha algo estranho, porque o Daniel estava com dificuldades de mamar. Era domingo à noite, e na segunda já estava fazendo ultrassom”, recorda. 

Depois de uma série de exames e biópsia, descobriu que era portadora de um câncer de mama com apenas 31 anos de idade. Com forte predisposição genética para a doença, herdou mutações dos genes BRCA1 e BRCA2. Sua avó desenvolveu o mesmo câncer aos 36 anos e faleceu aos 39. Por conta do histórico familiar, fazia exames preventivos desde muito cedo, mas sabia que a doença a rondava. 

 

Tratamento

O primeiro médico sugeriu que Beatriz interrompesse a gestação por conta do risco de levar uma gravidez adiante enquanto fazia o tratamento quimioterápico. Ela negou e foi à procura de uma segunda opinião médica. 

“Consultei outros especialistas que me orientaram a fazer uma mastectomia total e esvaziamento das axilas para evitar que o câncer se espalhasse. Saí mutilada e com muita dor, até me recuperar da operação foi difícil. Mas eu tinha que estar pronta, pois em setembro já iria iniciar a quimio”, recorda ela.

 

Quimioterapia grávida: pode?

Em grande parte dos casos, a gestação não precisa ser interrompida, conforme aponta Debora Gagliatto, oncologista clínica da Beneficência Portuguesa de São Paulo. 

“Não é indicado realizar nenhum tipo de quimio no início da gestação, porque o feto ainda é muito pequeno e está se desenvolvendo. Mas a partir do segundo e terceiro trimestres já se pode fazer, aliada a outros tratamentos, como cirurgia, por exemplo. Por mais que assuste, é importante dizer que o tratamento quimioterápico após esse período não tem risco de causar malformações, nem problemas de cognição pro bebê.” 

A radioterapia e a hormonioterapia, por sua vez, não são indicados, por conta dos riscos ao bebê. 

Muitos médicos, às vezes até por falta de informação, querem induzir o parto antes da hora a fim de poupar o bebê. “Não é necessário se não houver riscos para a mãe e para a criança. Ela pode nascer no tempo dela. Com uma equipe multidisciplinar, não há problema”, explica a médica.  

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Efeitos colaterais

Beatriz conta que no primeiro ciclo da quimioterapia, tirando a queda de cabelo, não teve nenhum efeito colateral. Foram quatro sessões, com intervalo de 21 dias entre cada uma, com a pequena Louise no ventre. “Eu nem pensava muito, na verdade. Eu só queria sobreviver e ver minha filha crescer.” 

Louise nasceu em janeiro de 2018 de parto normal, sem nenhum tipo de complicação ou prematuridade. Mesmo com uma mama, Beatriz conseguiu amamentar Louise. Entretanto, a mãe teve pouquíssimo tempo para curtir a filha e enfrentar o puerpério, já que em fevereiro começava o último ciclo de quimio. 

 

“Nessa época, as quimios eram semanais, sem intervalos. Aí meu corpo sentiu, porque eu tinha dores em todos os lugares. Minha imunidade também estava baixa, com risco de infecções. Meu casamento em crise. Foi um turbilhão. Sorte que durante todo esse período eu tive ajuda da minha mãe”, relembra. 

Além dos efeitos da quimio, ela conta que uma das fases mais difíceis foi parar de amamentar: “Chorei muito, porque estava perdendo um momento importante com minha filha, mas eu tinha que continuar”. 

Depois da tempestade

Beatriz encerrou o tratamento em 2018 e está há quatro anos em remissão. Em outubro de 2018, fez cirurgia para reconstrução das mamas e retirada do útero e dos ovários, por conta do risco de um novo câncer. 

Hoje Louise, a caçula, já está com 4 anos; Daniel, o filho do meio, com 5 anos; e Matheus, o primogênito, com 15 anos.

 

“Eu acho que minha ficha só caiu um ano depois que acabou tudo, em 2019. Aí tive depressão, crises de ansiedade, me divorciei em 2020. Precisei de muito apoio psicológico. Mas eu só fiz o que tinha que fazer. Hoje estou bem, meus filhos estão bem. Isso que importa”, finaliza.  

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