Você já ouviu falar que quem pratica exercícios físicos têm mais facilidade de sair da UTI, caso venha a ter uma doença grave? Isso é verdade. Entenda como.
Em uma internação prolongada, o corpo fica muito tempo parado. O exercício físico tem um papel importante não só na reabilitação desses pacientes, como também na prevenção de novas hospitalizações e do agravamento da doença.
O que acontece com o corpo durante uma internação?
Um longo período de internação pode ser causado por vários motivos, mas está associado principalmente a doenças crônicas, como problemas cardíacos, pulmonares ou oncológicos. A principal consequência de ficar tanto tempo hospitalizado é um processo chamado de sarcopenia, isto é, a perda de força e massa muscular.
“Imagina que você está acostumado a ter uma vida normal e, quando fica restrito a uma internação, vai passar basicamente o dia indo da cama para a poltrona, da poltrona para a cama. São deslocamentos muito curtos que acarretam não só na perda de massa magra, mas ao próprio descondicionamento”, ilustra o dr. Anderson Donelli, cardiologista do Hospital Moinhos de Vento, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e do clube do Grêmio, além de especialista na área de cardiologia do esporte e do exercício.
Mesmo depois da alta, esses pacientes vão enfrentar dificuldades para realizar tarefas que desempenhavam com tranquilidade antes da internação. Ou seja, tendem a ter uma qualidade de vida muito pior.
Como os exercícios físicos podem ajudar durante uma internação prolongada?
A prática de exercícios físicos ajuda o músculo a gerar mais energia, fazendo com que todo o sistema músculo-esquelético se adapte melhor a essas complicações.
Quando você realiza atividades físicas, o número de mitocôndrias, estruturas responsáveis pela geração de energia dentro das células musculares, aumenta. A prática também amplia o tamanho das fibras musculares em um fenômeno conhecido como hipertrofia muscular, capaz de melhorar a resistência, a postura e a saúde cardiovascular. Além disso, músculos treinados são mais capazes de extrair o oxigênio recebido através da respiração e da circulação sanguínea.
Tais benefícios são importantes em qualquer idade, mas principalmente entre os idosos, que sofrem uma diminuição natural da força e do equilíbrio, ficando mais sujeitos a quedas.
É por isso que, durante uma internação intra-hospitalar, o exercício é utilizado como forma de conter os efeitos da inatividade prolongada, geralmente com caminhadas pelo hospital ou exercícios orientados por um fisioterapeuta. Já na fase ambulatorial, quando o paciente teve alta, mas ainda vai ao hospital para consultas ou pequenos procedimentos, o exercício é focado na reabilitação e diminuição do risco de eventos adversos.
Prevenção de hospitalizações
“A gente sabe que o paciente que teve uma doença cardíaca e se reabilita [através de exercícios físicos] vai ter menos risco de progredir para alguma forma mais grave da doença e, consequentemente, ser internado novamente. Inclusive, vai ter uma sobrevida maior. No caso de doenças oncológicas, melhora o prognóstico do câncer e a resposta à quimioterapia”, elenca o dr. Anderson.
Em quem não teve nenhuma doença, manter atividades físicas regulares também ajuda na prevenção. Elas evitam o surgimento de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, obesidade, osteoporose, doenças respiratórias e até alguns tipos de câncer. De acordo com um estudo publicado no “The Lancet”, a inatividade física é responsável por 10% dos casos de câncer de mama e de cólon. Se ela fosse reduzida em 10% ou 25%, poderiam ser evitadas até 1,3 milhão de mortes por ano.
“Isso a gente fala não só em domínios físicos, mas em aspectos mentais também. O exercício acaba sendo uma maneira de dar forças para a pessoa encarar a luta de combater uma doença. Isso também impacta muito na qualidade de vida”, acrescenta o cardiologista.
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