Os casos de demências estão crescendo, mas existem medidas que ajudam a prevenir esse tipo de doença. O exercício físico é uma delas.
Com o envelhecimento populacional, os casos de demência têm aumentando no mundo todo. Um estudo publicado na revista científica The Lancet estima que, em 2050, o número de pessoas com demência ultrapasse os 152 milhões – quase o triplo do número atual (cerca de 57 milhões). Em contrapartida, cada vez mais se tornam conhecidos os fatores de risco e as formas de prevenir o problema.
Uma das medidas recomendadas nesse sentido é o exercício físico, que reduz os riscos de declínio cognitivo e quadros demenciais, além de ser um aliado no tratamento de pacientes já diagnosticados.
“O exercício físico é uma explosão de coisas boas para o organismo. O nosso corpo não foi feito para ficar parado, ele foi feito para se movimentar. Musculatura é independência, não só física. Mas é independência para o idoso. Os idosos hoje têm mais medo de ficar dependentes do que de morrer, por exemplo. Dentro desse contexto, o exercício é a chave da independência desses pacientes”, afirma o dr. Charlys Barbosa, geriatra membro da Comissão de Inovação em Doença de Alzheimer e Desordens Associadas da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
O Portal Drauzio conversou sobre o assunto com o especialista durante o XXIV Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, realizado em Belo Horizonte (MG).
Como o exercício físico contribui para prevenção da demência
O exercício físico ajuda no controle da hipertensão, do diabetes e do colesterol alto, que são fatores de risco não apenas para doenças cardiovasculares, mas também para doenças degenerativas, como o Alzheimer.
“O exercício físico, no cérebro, atua aumentando o volume do hipocampo, que é a área do cérebro responsável pela memória. Não tem nenhum tratamento descrito que aumente o volume do hipocampo. Não tem nada. O tratamento da doença de Alzheimer hoje não aumenta o volume do hipocampo. O exercício aumenta”, explica o médico.
Além disso, o especialista esclarece que o exercício físico impede fatores relacionados à lesão neuronal, ou seja, protege o cérebro da neurodegeneração. Ele também auxilia no tratamento da depressão – que é mais um fator de risco para a demência.
“O exercício é fonte de serotonina. Por isso que eu falo que é uma explosão de muitas coisas boas, porque [libera] neurotransmissores, como a serotonina, por exemplo. [Há] fatores de proteção dos neurônios no cérebro, fatores vasculares sendo controlados e a cereja do bolo, a independência. [É importante] manter esse idoso mais independente pelo máximo de tempo possível.”
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Qualquer tipo de exercício serve?
Qualquer exercício físico é melhor do que nenhum. O ideal é fazer uma combinação de exercícios aeróbicos e exercícios resistidos (de força) – pensando não apenas no cérebro, mas na saúde do paciente como um todo.
“[É importante] entender que a musculatura é reserva metabólica, porque a musculatura metaboliza a glicose, por exemplo, e ajuda no controle do diabetes, assim como ela é reserva funcional. Quando você envelhece com a musculatura desenvolvida, você se mantém independente por mais tempo”, afirma o dr. Charlys.
Se manter ativo é fundamental, mas o especialista destaca que é preciso saber diferenciar atividade física de exercício físico. “Ser ativo é você estar aqui no congresso e optar pela escada ao invés do elevador. Ser ativo é você resolver dar uma arrumação na casa e mudar as coisas de lugar, fazer algum serviço doméstico. Ser ativo é ir andar no shopping, olhando as lojas etc. É passear numa praça. Passear é ser ativo. Agora, sair de casa para fazer uma caminhada de 30, 40, 50 minutos todos os dias, sentir o coração bater mais forte, isso é exercício. Ir para academia, isso é exercício.”
Em relação ao tempo, a recomendação é se exercitar, no mínimo, 150 minutos por semana – por exemplo, 30 minutos por dia, durante 5 dias, ou 50 minutos por três dias. “Isso é o mínimo. E o que eu digo para os pacientes é: eu não entendo que você é uma pessoa de mínimo. Então, faça mais. Porque quanto mais você fizer, mais benefício você vai ter no decorrer da sua vida”, orienta o especialista.
Para quem tem demência, exercício também é tratamento
O exercício físico não atua somente na prevenção de demências, mas também é um aliado no tratamento de quem já foi diagnosticado. “Pacientes com doença de Alzheimer que fazem seis meses de exercício físico, por até um ano e meio, têm uma cognição melhor do que quem não faz”, destaca o médico.
A prática regular de exercícios faz com que o paciente com Alzheimer tenha uma funcionalidade melhor e seja mais independente por um maior período de tempo. “E eles têm uma cognição – ou seja, a memória, a orientação e tudo mais –, melhores. Então, sim, o exercício não só previne, como o exercício também é tratamento.”
Para ele, pensar no tratamento focando somente no remédio para retardar a progressão da doença é uma visão limitada do processo. É preciso prescrever também o que não é medicamentoso. “O médico, o profissional de saúde, tem que ter essa sensibilidade. Olha, eu preciso prescrever o exercício. Eu preciso prescrever uma dieta mais adequada. Eu preciso sugerir que ele faça uma avaliação oftalmológica, porque se ele não enxerga bem, por exemplo, por uma catarata, uma simples cirurgia vai fazer com que ele enxergue melhor e a gente consegue, dessa forma, reduzir o risco”, finaliza.
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*Com colaboração de Beatriz Zolin, que viajou para o evento.