O jejum pré-operatório não é apenas uma burocracia, ele serve para garantir a segurança do paciente durante o procedimento cirúrgico. Entenda quais são as recomendações.
Se você já fez uma cirurgia eletiva — ou seja, aquela em que o médico agenda um dia e horário específico —, provavelmente foi instruído(a) a seguir o jejum pré-operatório. Até alguns anos atrás, a recomendação geral era de “não pôr nada na boca depois da meia-noite”. Hoje em dia, sabe-se que não é preciso ser tão drástico, mas o jejum precisa ser seguido de acordo com a orientação do anestesista, para garantir a segurança do próprio paciente.
Para que serve o jejum pré-operatório?
Quando estamos sob efeito da anestesia, é como se o corpo estivesse dormindo e perdesse os reflexos de proteção. Portanto, ao longo da cirurgia, o conteúdo que está no estômago pode ser regurgitado e aspirado, indo parar nos pulmões. Isso pode provocar problemas graves.
“O que os anestesistas viram como uma medida de proteção? Estipular um tempo de jejum para que o estômago fique vazio e o risco seja minimizado”, explica o dr. Flávio Melo, anestesista no Piauí.
Ou seja, o jejum pré-operatório confere mais tempo para o organismo fazer a digestão, diminuindo a quantidade de sólidos e líquidos no estômago e reduzindo a possibilidade desse conteúdo ir parar no pulmão.
Qual é o tempo de jejum indicado?
Durante muito tempo, os pacientes que faziam uma cirurgia eletiva ficavam em jejum de 12 a 18 horas. Atualmente, no entanto, a conduta adotada é a preconizada pela American Society of Anesthesiology (ASA), com períodos de jejum mais abreviados:
- Refeição completa, carnes e frituras (almoço, janta ou café da manhã reforçado com alimentos gordurosos, inclusive leite): 8 horas;
- Refeição leve (poucas bolachas ou torradas com suco, café ou chá): 6 horas;
- Líquidos sem resíduos (água, chá, café e suco sem bagaço, com açúcar e sem leite): 2 horas.
Essas diretrizes são indicadas para pacientes saudáveis de todas as idades, incluindo crianças, idosos e gestantes. No entanto, podem ser modificadas de acordo com as necessidades clínicas de cada indivíduo. Já para crianças de colo que tomam leite, as recomendações mudam:
- Alimentos sólidos: 8 horas;
- Leite de fórmula (em pó) ou de vaca: 6 horas;
- Leite materno: 4 horas;
- Água em pequena quantidade: 2 horas.
Veja também: Quais são os tipos de anestesia e sedação mais utilizados?
O que acontece se não seguir o jejum pré-operatório?
“Qual é o risco? O alimento ir para o pulmão e provocar uma pneumonite, que é a inflamação do pulmão, pelo conteúdo gástrico. E isso causa uma inflamação generalizada que pode evoluir para pneumonia e precisar de internação dentro das Unidades de Terapia Intensiva (UTI)”, alerta o anestesista.
As pneumonites aspirativas podem causar desconforto respiratório, prolongamento da internação e aumento do risco de complicações graves.
O que fazer quando não dá tempo de realizar o jejum?
Por outro lado, em situações de emergência, quando a cirurgia deve ser feita rapidamente e não há tempo hábil para realizar o jejum, o paciente será anestesiado com técnicas próprias para evitar que ocorra o vômito.
“Por exemplo, se uma pessoa vinha de um churrasco em família e teve um acidente de carro, ele está com o estômago muito cheio de carne e sob um risco muito grande. Então o anestesista vai adotar o que a gente chama de protocolo de intubação de sequência rápida”, afirma o dr. Flávio.
Nesse protocolo, o posicionamento, a disponibilidade de equipamentos e as drogas utilizadas são escolhidas para garantir a máxima segurança do paciente, mesmo ele não estando em jejum ideal.
Por que fazer a consulta com o anestesiologista antes da cirurgia?
Atualmente, tem sido bastante estudada a possibilidade de abreviação do tempo de jejum para fortalecer o estado nutricional do paciente e facilitar a recuperação pós-cirúrgica. No entanto, para que o jejum seja abreviado, é importante que a pessoa tenha total esclarecimento de como é o protocolo e o siga com responsabilidade.
“É preciso estar alinhado com os anestesistas e fazer a consulta pré-anestésica. Em toda cirurgia eletiva, o ideal é que a pessoa passe em consulta com o anestesista para tirar todas as dúvidas, verificar as possíveis dificuldades e ser orientada quanto aos remédios. É importante a gente estreitar essa relação com o paciente para que ele possa vir com mais confiança, sabendo do que vai acontecer e realizando a sua cirurgia com sucesso”, recomenda o dr. Flávio.
Veja também: 5 mitos e verdades sobre anestesia