O termo é usado após complicações e sintomas que ocorrem devido à falta de movimentos.
Manter o corpo em movimento é fundamental para a saúde em geral. Porém, muitas vezes, por problemas de saúde, a pessoa se vê impossibilitada de andar e realizar as atividades do dia a dia. Nesses casos, pode surgir a síndrome da imobilidade, ou síndrome do imobilismo, que é um termo usado após o aparecimento de sintomas e complicações que acontecem devido à falta de exercícios.
“É uma condição clínica que vai além da permanência prolongada no leito. Embora o fenômeno possa ocorrer em qualquer fase da vida, o mais comum é que se observe pessoas idosas com essa condição, pois a principal causa para o aparecimento dessa síndrome são as doenças crônicas degenerativas”, explica o dr. Eduardo Canteiro Cruz, geriatra e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Para ser considerada a síndrome de imobilidade devem estar presentes os seguintes critérios diagnósticos:
- Déficit cognitivo, geralmente quadros demenciais em fase moderada a avançada;
- Afasia, ou seja, a alteração na capacidade de falar ou de compreender;
- Disfagia, que é a dificuldade de engolir;
- Dupla incontinência (urinária e fecal);
- Atrofia ou fraqueza muscular;
- Pele desidratada, com redução da elasticidade e espessura;
- Aparecimento de lesões por pressão (úlceras de pressão ou escaras).
Principais causas
Apesar de ser mais frequente em idosos acamados, a síndrome da imobilidade afeta outros grupos. Entre os principais, estão:
- Pessoas hospitalizadas por longos períodos, que realizaram cirurgias complexas, apresentaram alguma doença grave ou lesões;
- Idade avançada, já que os idosos costumam ficar com a mobilidade reduzida por conta de condições médicas crônicas, dores nas articulações e fraqueza muscular;
- Lesões, como fraturas;
- Doenças neuromusculares, como esclerose lateral amiotrófica;
- Doenças crônicas, como artrite;
- Obesidade, pois limita a mobilidade por excesso de peso.
Complicações da síndrome da imobilidade
A síndrome da imobilidade pode afetar o organismo inteiro, além de provocar depressão e problemas psicológicos, como alterações do sono e ansiedade.
“Uma vez que as articulações não se movem livremente, surgem micoses nas dobras e cheiro desagradável pela dificuldade de higiene, além de dor local. A depender da restrição de movimentos, podem acontecer tromboses venosas ou oclusões arteriais que culminam em gangrena e perda de dedos ou parte dos membros”, destaca o dr. Cruz.
Além disso, pela permanência excessiva na cama, aparecem as lesões por pressão (úlceras de pressão ou escaras). Geralmente, há a perda da capacidade de manter-se em pé, atrofia muscular e rigidez nas articulações.
É comum também a desnutrição, a redução da capacidade cardiovascular e o comprometimento do sistema respiratório.
Em alguns casos, surgem problemas gastrointestinais, como constipação. Geralmente, o indivíduo necessita usar fraldas, o que facilita o aparecimento de dermatites e infecção urinária.
Veja também: Como prevenir dermatites e úlceras de pressão em pessoas acamadas?
Diagnóstico e tratamento
De forma geral, o especialista realiza um exame físico e observa a mobilidade do indivíduo, buscando sinais de fraqueza muscular, rigidez nas articulações e limitações de movimento.
Algumas escalas de avaliação podem ser usadas para determinar a capacidade do paciente de realizar atividades, como andar, levantar sozinho da cama, tomar banho e se vestir sozinho.
“O diagnóstico é clínico, não há um exame específico que identifique a condição. É importante que seja realizada uma avaliação física de forma minuciosa. Já o tratamento é baseado na causa que levou a pessoa a permanecer naquela condição de imobilidade, focando sempre na prevenção das complicações”, explica o dr. Paulo Camiz, geriatra e professor da Universidade de São Paulo (USP) e do Hospital das Clínicas de São Paulo (HCFMUSP).
Na maioria das vezes, o tratamento envolve a intervenção de diferentes especialidades médicas, como enfermeiros, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos.
É fundamental garantir uma dieta equilibrada e adequada em calorias e nutrientes para prevenir a perda de massa muscular e a desnutrição associadas à imobilidade. Além de ser necessário manter o indivíduo sempre hidratado para prevenir complicações.
Em alguns casos, é preciso indicar medicamentos para gerenciar a dor, o que proporciona mais qualidade de vida e conforto. Se a imobilidade for provocada por uma condição médica, como uma lesão ou doença crônica, o tratamento deve ser direcionado, pois, assim melhora também a mobilidade.
Manter-se ativo é a melhor prevenção
A melhor forma de evitar as complicações da síndrome da imobilidade em pacientes hospitalizados por longos períodos, idosos com mobilidade reduzida ou pessoas com deficiências graves é investir na movimentação e nos exercícios de fisioterapia, sempre que possível.
“A síndrome da imobilidade pode ser reversível se o paciente começa a se movimentar o mais rapidamente possível. É necessário visar o retorno às atividades diárias. Estimular a mobilidade, atividade física e prevenir quedas são medidas preventivas”, afirma Isabela Trindade, fisioterapeuta e diretora da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
De acordo com a especialista, a fisioterapia é importante em todas as etapas do tratamento e também como forma de prevenção das complicações.
“Não é indicada apenas para treinar marcha, o que muitas vezes não é possível. Mas também para aliviar a dor da contratura muscular, melhorar o condicionamento cardiovascular e realizar mudanças de posicionamento. Além disso, evita atrofia muscular, mantém e restaura a amplitude articular e estimula a movimentação e independência nas atividades”, complementa.
Os especialistas reforçam que o idoso deve ser estimulado a se movimentar constantemente, já que manter-se ativo fisicamente é uma necessidade do ser humano.
“Portanto, é preciso organizar a rotina do paciente para evitar as interrupções durante a reabilitação. Se possível, mesmo em ambiente hospitalar, é importante deixar o indivíduo mais livre e ativo, sem sondas ou equipamentos de medicação que dificultem a mobilidade. Também é fundamental analisar a prescrição de medicações sedativas e criar horários propícios para a reabilitação”, finaliza o dr. Cruz.
Veja também: Como prevenir infecção urinária em idosos