Doença é curável e, ao contrário do que muitos ainda pensam, pouco contagiosa. Especialista tira as principais perguntas sobre hanseníase.
A hanseníase, que já foi conhecida como lepra, ainda é uma doença infectocontagiosa causada por uma bactéria. Apesar de anda ser estigmatizante, é curável. Esclarecemos as principais dúvidas com o dr. Egon Daxbacher, coordenador do Departamento de Hanseníase da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
Veja mais informações sobre a doença no site da SBD: http://bit.ly/SBD-hanseniase
O que causa a hanseníase?
A hanseníase é uma doença que afeta primariamente a pele e os nervos e é causada por uma bactéria que já está muito acostumada com o ser humano, a Mycobacterium leprae. Ela pode atingir não apenas a pele e os nervos, mas também outros órgãos.
Como se pega hanseníase?
A hanseníase possui formas contagiosas, que são chamadas multibacilares, e não contagiosas, conhecidas como paucibacilares.
A transmissão da doença acontece pelo ar. Apesar disso, a maioria da população consegue se defender naturalmente da bactéria porque já nasce com defesa apropriada. Cerca de 10% da população não conseguirão se defender da bactéria, e por isso acabarão adoecendo. Ao iniciar o tratamento, esses pacientes não transmitem mais a doença.
Veja também: Por que não conseguimos acabar com a hanseníase
Como reconhecer a doença?
A hanseníase é muito reconhecida pelas manchas na pele. As manchas podem ser mais claras ou avermelhadas e o paciente pode apresentar caroços nas formas mais avançadas.
Como a doença também afeta os nervos, é muito comum que surjam distúrbios de sensibilidade. Assim, os pacientes podem apresentar, nas manchas, diminuição ou perda total da sensação de frio, calor, dor e toque. Em formas mais avançadas, podem surgir fraqueza nas mãos e nos pés e acometimento dos olhos.
No país, são detectados todos os anos cerca de 30 mil casos novos.
Existem sintomas que não aparecem na pele?
Sim, principalmente nos casos mais avançados. A doença pode afetar também os olhos e outros órgãos, como os testículos, no caso dos homens. Isso ocorre geralmente em pacientes que estão sem diagnóstico há muito tempo, o que faz com que a doença acabe evoluindo e avançando.
Algumas regiões, como as articulações (juntas) do cotovelo e do joelho, podem ser afetadas e apresentar inflamação, e a pessoa acaba desenvolvendo uma artrite. Alguns casos são, por isso, investigados como se fossem uma doença reumatológica.
Quem tem hanseníase pode ter sequelas?
Os pacientes afetados por uma forma mais branda de hanseníase podem não recuperar a sensibilidade nas manchas, mesmo depois do tratamento. Isso é considerado uma sequela pós-tratamento.
Alguns pacientes com sequelas mais avançadas perdem a força, ficam com a mão em formato de garra, e podem ficar com alguma limitação física inclusive para andar, pegar copos, usar as mãos, o que gera dificuldade até mesmo para trabalhar e desenvolver atividades normais.
Hanseníase tem cura?
O tratamento da hanseníase é feito com antibióticos. O que varia é o tempo de tratamento. Quem tem a forma mais branda deve ser tratado por 6 meses, e quem tem a forma mais avançada, por 12 meses. Os medicamentos são fornecidos gratuitamente pelos postos de saúde, através do SUS.
É importante que o paciente siga o tratamento de maneira regular até o fim, para que a bactéria morra e ele se cure de forma definitiva e a doença não retorne. O quanto antes o tratamento for iniciado, menor o risco de sequela.
No Brasil, muita gente tem a doença?
No país, são detectados todos os anos cerca de 30 mil casos novos. Isso significa que em um ano há 30 mil casos. No ano seguinte, mais 30 mil. Provavelmente, muitos desses pacientes já estavam doentes e não foram diagnosticados. Portanto, a hanseníase é uma doença bastante comum no Brasil e muitas vezes os pacientes demoram para obter o diagnóstico, o que causa grandes problemas. Assim, é necessário que detectemos rapidamente as pessoas que têm a doença para que elas não tenham sequelas e também para que não transmitam a doença.
Também é importante que criemos o hábito de examinar nossa pele para, em caso de alteração, procurarmos ajuda médica, principalmente se houver dormência nas mãos, pés e olhos e nas manchas. A detecção e o tratamento precoces evitam sequelas.
O diagnóstico pode ser feito em qualquer posto de saúde que tenha um profissional treinado para detectar a doença. A maioria dos especialistas em hanseníase é dermatologista, mas existem vários médicos capacitados e treinados para realizar o diagnóstico.
A doença é transmitida por contato mais prolongado; portanto, familiares e conviventes de pacientes com hanseníase têm mais risco de contrai-la. Por isso, deve-se examinar os familiares e os conviventes de cada caso detectado. Aqueles que não tiverem a doença podem receber a vacina BCG, que em geral deixa uma cicatriz no braço direito e é aplicada ao nascimento para proteger contra tuberculose. Os pacientes que tenham familiares ou conviventes com hanseníase precisam tomar uma segunda dose da vacina para diminuir o risco de contrair hanseníase.
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