Atualização do que se sabe (até agora) sobre a varíola dos macacos

A “varíola dos macacos” é semelhante àquela que prevaleceu algumas décadas atrás. Saiba mais sobre as novas particularidades da doença.

Drauzio Varella é médico cancerologista e escritor. Foi um dos pioneiros no tratamento da aids no Brasil. Entre seus livros de maior sucesso estão Estação Carandiru, Por um Fio e O Médico Doente.

Compartilhar

A nova doença parece a varíola que atingia a população antes dos anos 1980. Entenda as semelhanças e por que ela tem chamado a atenção do mundo só agora.

 

Atualmente, o Brasil já conta com 8 casos identificados da chamada “varíola dos macacos”, sendo 4 deles em São Paulo. A doença tem se mostrado muito semelhante à antiga varíola: com o surgimento de lesões bolhosas por todo o corpo e a transmissão ocorrendo pelo contato próximo e pelas secreções. No entanto, essa nova apresentação é menos grave.

Neste vídeo, o dr. Drauzio traz o que há de mais recente sobre o que se sabe em relação à doença. Assista.

Olá, no dia 30 de maio, nós falamos aqui do que está sendo chamado na imprensa de varíola dos macacos. Eu disse que nós não tínhamos nenhum caso no Brasil ainda. Agora, são oito casos reconhecidos no Brasil, quatro dos quais em São Paulo.

A varíola dos macacos, na verdade, o nome tá errado, né, porque os macacos são infectados por esse vírus, que é um poxvírus, por roedores, quer dizer, é um vírus de roedores, mas passa pro macaco e o macaco passa pra gente também por contato. Ele tem uma característica muito semelhante à da varíola clássica, que é uma doença que ninguém mais conhece. Se vocês encontrarem um médico que entrou na faculdade de medicina nos anos 80, ele nunca viu nenhum caso de varíola, de varíola geral, da antiga varíola. Se ele disser que viu varíola depois dos anos 80, é mentiroso.

Eu cheguei a ver porque eu me formei bem antes dos anos 80. Nos anos 60, quando eu fiz o curso de medicina, no Hospital Emílio Ribas, de São Paulo, que é um grande hospital de infectologia, de doenças infecciosas, tinha uma enfermaria de varíola, aquelas pessoas cheias de lesões, que deixavam cicatrizes depois no rosto. Doença grave, a mortalidade, uns 30% mais ou menos.

Essa varíola é muito semelhante, forma as mesmas lesões, que são lesões bolhosas, são vesículas e espalhadas pelo corpo inteiro, e ela já se instala e vem com tudo, as lesões se espalham pelo corpo todo. A transmissão, tem um pouco de transmissão pelas secreções, pelas gotículas eliminadas, mas a transmissão é basicamente pelo contato.

Só que a diferença desta varíola pra aquela de antigamente é que esta é muito menos grave. Essa varíola ficou restrita a países da África, tem casos na Nigéria, no Congo, por lá é uma coisa endêmica. Mas por que ninguém falava nisso? Porque tava acontecendo só com os pretos e o que acontece com os pretos, os brancos fingem que não existe.

O problema é quando ela chegou agora na Europa, nos Estados Unidos, agora chegou no Brasil. Agora, começou a pegar gente branca e, aí, os órgãos de saúde ficaram atentos. Até aqui a Organização Mundial da Saúde diz que esse tipo de doença, a varíola chamada dos macacos, não tem demonstrado um ímpeto suficiente pra se transformar numa pandemia, como aconteceu com essa do coronavírus.

Nós vamos acompanhando. Ainda é um pouco cedo pra saber o que vai acontecer. Mas, periodicamente, nós vamos atualizando vocês sobre os dados ao redor do mundo e aqui no Brasil em particular. Por enquanto, não há razão pra grandes preocupações, mas nós temos que estar atentos. Doenças contagiosas são doenças que a gente precisa sempre prestar a atenção porque elas podem se disseminar mais rápido do que a gente imagina.

Veja também: O que sabemos (até agora) sobre a varíola dos macacos | Coluna

Veja mais

Sair da versão mobile