Aproximadamente 80% dos problemas de saúde são causados por más condições de habitação e estilo de vida inadequados.
Com a mudança no perfil econômico e epidemiológico da população brasileira, os problemas de saúde enfrentados pelo SUS mudaram. Hoje, estão mais relacionados a doenças crônicas, cujo tratamento não tem como objetivo curar, mas controlar.
No entanto, grande parte dessas condições são causadas por falta de saneamento básico, violência urbana, condições adequadas de habitação e estilo de vida inadequado. Ao SUS, cabe apenas 20% da assistência. É preciso pensar a saúde de forma mais ampla. Veja neste vídeo do dr. Drauzio.
Não pode assistir agora? Acompanhe a transcrição a seguir:
Olá. Quais são os problemas de saúde hoje? Qual é a faixa da população que mais cresce no Brasil? É aquela que está acima dos 60 anos. Antes todo mundo morria moço, não chegava a ter problemas maiores. Agora, não. Agora, as principais causas de mortes na nossa população, quais são? Doenças cardiovasculares – são infarto do miocárdio, derrame cerebral – câncer, doenças pulmonares, são doenças que a gente chama de crônicas. Você tem pressão alta, essa pressão vai se manter assim. Ou, se você tem diabetes, vai ficar com essa doença pra sempre.
O objetivo do tratamento médico hoje mudou, não é mais a cura dessas doenças, que são incuráveis. O objetivo o que é? Controlá-las, é você manter o doente hipertenso com a pressão normal, 12 por 8; a pessoa com diabetes com uma glicemia abaixo de 120. Esse é o objetivo dos tratamentos.
Qual é o impacto da medicina nesse controle? Pense o seguinte, 30% dos problemas médicos hoje não têm nada a ver com medicina. Trinta por cento dos problemas médicos que dificultam o controle dessas doenças crônicas dependem do quê? Dependem do saneamento básico, dependem das condições de habitação. Se você vive num lugar muito ruim, a tua chance de desenvolver doenças é muito grande. Dependem do tempo que as pessoas passam na condução, na ida e volta pro trabalho. Dependem de água corrente dentro de casa pra poder cuidar da higiene. Dependem de fatores que não têm nada a ver com a medicina. Trinta por cento são devidos a esses fatores.
E mais: 50% dependem, sabe do quê? Do estilo de vida. Dependem do cigarro, do álcool em excesso, da vida sedentária, do jeito que as pessoas se alimentam, da qualidade dos alimentos que elas consomem. Enfim, dependem de fatores que são aqueles mais difíceis de modificar. As pessoas têm muita dificuldade de modificar o seu estilo de vida.
Então, 30% dependem das condições do ambiente em que vive, 50% dependem do estilo de vida. Quanto sobra pra ação, que depende da ação da medicina? Vinte por cento, o que quer dizer que, se o SUS funcionasse de uma forma perfeita, feito um relógio, não ficasse um brasileiro com doença crônica sem tratamento, sem atenção médica, o impacto seria em apenas 20% da população.
Então, nós temos que pensar que o mundo moderno se modificou. A saúde tem que ser pensada: como é que nós vamos melhorar as condições de vida da população; depois, como é que nós vamos convencer as pessoas pra elas levarem um estilo de vida saudável; e, em terceiro lugar, como é que nós vamos organizar a assistência médica pra que aqueles que sofram de doenças crônicas possam ser tratados, a doença controlada e eles possam ter uma vida normal.
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