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Sexualidade

Infertilidade masculina: conheça as principais causas

Existem diversas doenças e condições de saúde que podem levar à infertilidade no homem. Veja quais são e saiba como o problema pode ser identificado.
Publicado em 14/09/2022
Revisado em 14/09/2022

Existem diversas doenças e condições de saúde que podem levar à infertilidade no homem. Veja quais são e saiba como o problema pode ser identificado.

 

Quando um casal decide ter um filho biológico, é muito comum a mulher buscar uma avaliação médica, fazer uma série de exames, começar a tomar vitaminas e até promover algumas mudanças de hábitos. Afinal, é ela quem vai engravidar. E, quando a gravidez demora a acontecer, a investigação para saber o que está dificultando a concepção geralmente começa por ela. 

Porém, nem sempre a causa da infertilidade está na mulher. Segundo o dr. Danilo Galante, urologista e membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), a dificuldade, na verdade, é bem dividida: cerca de um terço dos casos de infertilidade é causado por alguma condição somente do homem; um terço tem origem apenas na mulher; e um terço tem participação de ambos. 

“Na maioria dos casais inférteis, a mulher procura o cuidado antes. Ela procura entender o que está acontecendo. Por uma questão histórica e cultural, a mulher costuma se culpar. Nas vezes em que eu recebo um homem no meu consultório, a mulher já foi avaliada. Normalmente é a mulher quem traz o homem para o consultório, e em grande parte das vezes ela inclusive está acompanhando o homem na consulta”, conta o médico. 

 

Diagnóstico de infertilidade 

A infertilidade é identificada quando um casal não consegue engravidar após um ano de tentativas. “A gente nunca fala em infertilidade de uma pessoa, e sim infertilidade do casal.”

Se a mulher tem menos de 35 anos, a orientação é buscar avaliação médica após um ano de tentativas. Se a mulher tem mais de 35 anos, a investigação deve começar após seis meses de tentativas, para evitar perder tempo, já que a fertilidade feminina tem um declínio após essa idade. 

 

Varicocele, a principal “vilã” 

Existem diversas causas para a infertilidade masculina. Mas os especialistas são unânimes sobre a principal delas: a varicocele. “A varicocele é uma dilatação das veias testiculares, e elas acabam aquecendo o testículo. Esse aquecimento testicular crônico faz com que haja o que a gente chama de produção de radicais livres em excesso, que com o tempo acaba prejudicando as células que produzem espermatozoides”, explica o dr. Daniel Zylberstein, urologista e membro do Departamento de Saúde Sexual e Reprodutiva da SBU-SP. 

De acordo com o médico, cerca de 40% dos casos de infertilidade masculina primária – quando o homem nunca engravidou ninguém – estão relacionados à varicocele. Quando falamos em infertilidade secundária – quando o homem já teve um filho –, esse número pode chegar a 80%, porque a doença causa maior prejuízo com o passar do tempo.

A varicocele surge ainda na adolescência, mas geralmente não causa sintomas. Por isso, muitas vezes só é diagnosticada anos mais tarde, no consultório, quando o casal tem dificuldade para engravidar.

Assim como acontece com as meninas, que começam a ir ao ginecologista ao entrar na adolescência, o médico destaca que é importante que os pais levem os filhos adolescentes ao médico (seja urologista ou outro especialista, como o clínico geral) ao entrarem na puberdade, entre 12 e 14 anos, aproximadamente. “A gente precisa cuidar melhor da saúde dos nossos adolescentes para que eles tenham a cultura de ir ao médico, de ter prevenção de doenças, de ter a promoção de saúde, e com isso as coisas ficam mais fáceis na vida adulta”, afirma o dr. Daniel. 

O tratamento da varicocele é feito através de uma cirurgia com microscópio, que dura entre 2 e 3 horas e tem rápida recuperação. O paciente normalmente fica internado por 24 horas e depois deve ficar alguns dias em repouso. O retorno às atividades físicas de alta intensidade podem acontecer após três semanas, e o retorno das relações sexuais, em cerca de 10 dias. 

Mas nem sempre a cirurgia será a opção indicada. Segundo o especialista, existem parâmetros que indicam o tratamento cirúrgico ou apenas o acompanhamento e observação do caso. 

“Não é todo homem que tem varicocele que vai ser infértil. Não é isso. De cada 100 homens com varicocele importante, apenas 20 vão ser inférteis. É 20% de infertilidade. O problema é que é uma doença muito prevalente. Se a gente for ver qual população de homens tem varicocele, a gente pode colocar que 25% de todos os homens têm”, destaca.

Veja também: Infertilidade masculina | Entrevista

 

Fatores de risco

Além da varicocele, outros fatores que podem aumentar o risco ou levar à infertilidade são: 

  • Obesidade;
  • Tabagismo;
  • Uso de substâncias (incluindo o álcool);
  • Uso de anabolizantes;
  • Tumores (como tumor de testículo, tumores gastrointestinais e linfomas);
  • Tratamentos com quimioterapia e radioterapia;
  • Cirurgias pélvicas, testiculares e penianas;
  • Cirurgia bariátrica disabsortiva (que causa uma maior deficiência de nutrientes);
  • Alterações hormonais, como baixa produção de testosterona;
  • Alterações graves de colesterol, triglicérides e glicemia (incluindo diabetes); 
  • Alterações genéticas, como a síndrome de Klinefelter (síndrome na qual o menino nasce com uma cópia a mais do cromossomo X e que pode causar baixos níveis de testosterona).

Vale lembrar que alguns desses fatores – como o tabagismo, por exemplo – têm efeito cumulativo, ou seja, quanto mais tempo esse fator se manter, mais danos poderá causar à fertilidade. 

O tratamento vai ser focado na causa do problema. Mas, nos casos de tumores malignos, uma opção é congelar o sêmen para preservar a fertilidade, especialmente no caso de homens jovens. 

“Se a gente tem um diagnóstico tumoral e precisa fazer um tratamento com quimioterapia, radioterapia ou qualquer outro imunoterápico, é muito importante congelar o sêmen para o uso futuro caso seja necessário, porque essas terapias fazem com que esses pacientes possam entrar em azoospermia [ausência total de espermatozoides na ejaculação], e a gente não sabe quais vão realmente recuperar a produção e que tipo de produção vai ser essa”, explica o dr. Daniel. 

 

Como a idade afeta a fertilidade masculina

Diferente da mulher, que após entrar na menopausa perde sua capacidade de reprodução, o homem permanece fértil por toda a vida. Porém, isso não significa que a idade seja um aspecto indiferente para a sua fertilidade. 

“A gente sabe que a capacidade do testículo de produzir espermatozoides diminui ao longo do tempo – assim como o coração passa a bater mais fraco, o rim filtra menos, os olhos enxergam pior ao longo do tempo –, mas isso não o torna infértil”, afirma o dr. Danilo.

“O que a gente sabe também é que a incidência de doenças que mudam a produção de testosterona nos homens mais velhos é maior. Isso faz com que a incidência de perda dessa função do testículo de produzir espermatozoide aumente. Então, em tese, em qualquer idade o homem consegue reproduzir, mas, se a gente for olhar as porcentagens de fertilidade, o homem vai perdendo ao longo do tempo”, completa o médico.

Segundo o dr. Daniel, com o passar do tempo, o homem não tem apenas menos espermatozoides, mas também começa a ter espermatozoides com mais alterações genéticas e cromossômicas. “A gente sabe que as síndromes genéticas não estão relacionadas apenas ao óvulo envelhecido, mas também aos espermatozoides produzidos em homens mais velhos, especialmente acima de 45 anos.”

Quando há outros fatores de risco associados, os prejuízos são ainda maiores. 

Veja também: 5 causas frequentes de infertilidade

 

Espermograma

O espermograma é o principal exame usado como parâmetro da fertilidade masculina. Segundo o dr. Danilo, ele mostra três dados importantes: o número de espermatozoides por ml (o normal é acima de 16 milhões); a motilidade, que é o quanto os espermatozoides correm para a frente (que deve ser acima de 42%); e a morfologia de Kruger, que é o formato do espermatozoide (o clássico formato oval com rabinho – é preciso ter pelo menos 4% desse tipo). 

Além disso, existe um quarto dado que pode ser solicitado pelo médico como um adendo ao exame, que é a análise da fragmentação do DNA do espermatozoide, muito utilizado em pacientes que fazem fertilização in vitro.

Contudo, o médico destaca que o exame pode apresentar muitas variações. 

“O espermograma está longe de ser ideal, porque ele é só uma fotografia da produção de espermatozoides daquele indivíduo naquele momento, e ele sofre grandes variações, e uma delas começa pelo tempo de abstinência que a gente considera ideal – três dias de abstinência sexual e de masturbação. Quando você tem um espermograma alterado, a principal conduta é repetir esse espermograma para confirmar [a alteração]”, afirma o dr. Danilo.

 

Cuidados pré-concepção

Em geral, quando o casal está planejando uma gravidez, é solicitado ao homem o exame de espermograma e também podem ser recomendados exames para avaliar como está sua saúde em geral, como níveis de glicemia e colesterol. 

“E depende também da saúde do homem, se é encontrada durante o exame físico alguma doença que gere preocupação ou pelo menos a necessidade de avaliação adicional. Por exemplo, se é detectada a varicocele no exame físico, eventualmente podemos pedir um ultrassom de bolsa testicular; enfim, tudo depende muito do achado em relação ao paciente. Tem uma conduta individualizada”, afirma o dr. Daniel. 

A manutenção de hábitos saudáveis, como alimentação balanceada e prática regular de atividade física, também é importante porque ajuda na prevenção de doenças que levam à infertilidade. 

“A infertilidade é uma consequência de uma má qualidade da nossa saúde. Ela não está dissociada do nosso corpo. E muitas vezes a gente consegue descobrir doenças importantes devido à infertilidade masculina”, completa. 

Veja também: Ibuprofeno pode levar à infertilidade masculina? | Checagem

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