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Toxicologia

Como é o tratamento da intoxicação por metanol

Casos de intoxicação por bebidas adulteradas acendem alerta no país; médico explica sintomas, tratamento e quando procurar ajuda

O metanol é um tipo de álcool de uso industrial, presente em solventes, produtos químicos e combustíveis. Não deve ser ingerido pois, quando isso ocorre, o organismo o transforma em compostos tóxicos, principalmente o ácido fórmico, um metabólito altamente tóxico que interfere na produção de energia das células e compromete o funcionamento de diversos órgãos.

“Diferente do etanol, o metanol não é intencionado à ingestão. A toxicidade ocorre mediante a formação de metabólito tóxico, neste caso o ácido fórmico, que interfere no funcionamento básico dos órgãos, a respiração celular, vital para produção de energia”, explica o dr. Felipe Liger, médico emergencista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.

O tratamento da intoxicação precisa ser rápido e multidisciplinar, combinando medidas de suporte clínico e intervenções específicas para eliminar o composto do organismo.

Veja também: Como o metanol age no organismo?

 

Suporte clínico inicial

O primeiro passo é estabilizar o paciente. Ao chegar ao hospital, ele recebe atendimento de emergência para manter as funções vitais, como respiração, pressão arterial e equilíbrio ácido-base, além de hidratação e preservação dos órgãos.

Essas medidas começam no pronto-socorro e, em muitos casos, continuam na unidade de terapia intensiva (UTI), enquanto o tratamento específico ocorre em paralelo.

 

Bloqueio da formação de substâncias tóxicas

Uma das principais estratégias é impedir que o metanol se transforme em substâncias tóxicas. Isso é feito bloqueando a enzima álcool desidrogenase (ADH), responsável por metabolizar o metanol no fígado.

As drogas usadas para esse bloqueio são:

  • Fomepizol, considerado o tratamento ideal por ser específico e causar menos efeitos adversos;
  • Etanol, opção tradicional e ainda a mais usada no Brasil, quando o fomepizol não está disponível.

“Neutralizar a formação de metabólito tóxico é o primeiro passo, administrando fomepizol ou etanol, drogas que atuam na enzima essencial para a formação de tais metabólitos no fígado, a álcool desidrogenase (ADH). A parte mais importante do tratamento inicial é o bloqueio dessa enzima”, reforça o dr. Felipe.

A decisão de iniciar a terapia depende da história clínica e dos resultados laboratoriais. “O tratamento deve ser iniciado em qualquer indivíduo com histórico de ingestão de metanol até que as concentrações do álcool sejam avaliadas ou quando o paciente apresenta manifestações compatíveis sem outra explicação óbvia”, complementa o médico.

 

Hemodiálise: remoção do metanol e seus metabólitos

Nos casos mais graves, especialmente quando há acidose ou sintomas neurológicos e visuais intensos, o paciente pode precisar de hemodiálise.

“A terapia definitiva para pacientes sintomáticos envenenados por álcoois tóxicos é a hemodiálise. Ela limpa o sangue, removendo os álcoois e seus metabólitos tóxicos”, explica o dr. Felipe.

Indica-se o procedimento quando os níveis de metanol estão elevados ou há risco de comprometimento grave dos órgãos.

 

Tratamentos complementares da intoxicação por metanol

Algumas substâncias podem ser utilizadas como adjuvantes, auxiliando na neutralização dos efeitos tóxicos e na correção de alterações metabólicas. Entre elas:

  • Bicarbonato de sódio, usado para tratar a acidose metabólica;
  • Ácido fólico (folato), tiamina e piridoxina (vitamina B6), que ajudam na eliminação dos metabólitos tóxicos.

“O uso de bicarbonato de sódio, tiamina, folato e piridoxina pode atuar de forma adjuvante na enzima ADH e diretamente nos metabólitos tóxicos. Esses adjuvantes podem ser usados com ou sem hemodiálise”, acrescenta o dr. Felipe.

Veja também: Intoxicação por metanol: o que fazer?

 

Quando suspeitar de intoxicação por metanol

Os sintomas geralmente aparecem entre 6 e 24 horas após a ingestão, o que pode atrasar o diagnóstico, já que muitos se confundem com os de uma ressaca comum.

Os principais sinais são:

  • Gastrointestinais: dor abdominal, enjoo e vômito;
  • Visuais: visão turva, visão dupla ou perda súbita da visão;
  • Neurológicos: dor de cabeça, sonolência, confusão mental e incoordenação motora.

“As manifestações podem evoluir de forma progressiva, motivo pelo qual o paciente deve procurar o serviço de emergência mais próximo para diagnóstico e tratamento adequados. É importante informar que consumiu bebida alcoólica, em qual contexto e, se possível, relatar o tipo de bebida, presença de rótulo e horário da ingestão”, orienta o dr. Felipe.

 

Situação atual no Brasil

Casos de intoxicação por metanol após o consumo de bebidas adulteradas foram recentemente registrados no país, gerando alerta entre as autoridades de saúde. Segundo o Ministério da Saúde, o número de notificações chegou a 225 casos.

O metanol, por ser um álcool de uso industrial, não deve estar presente em bebidas destinadas ao consumo humano. A ocorrência de novos casos reforça a importância de atenção à procedência das bebidas e à fiscalização de produtos irregulares.

Veja também: Qual é o antídoto para o metanol?

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