Página Inicial
Toxicologia

Águas de Mariana (MG) oferecem risco de intoxicação por metais pesados

Publicado em 26/11/2015
Revisado em 11/08/2020

Os efeitos da contaminação da água não serão percebidos agora, mas poderão ser correlacionados mesmo depois de décadas do acidente. Saiba mais.

 

A ruptura das barragens da mineradora Samarco, em Mariana (MG), foi um dos maiores desastres ambientais do Brasil. A lama tóxica chegou ao litoral do Espírito Santo neste fim de semana, causando danos à flora e fauna local. Mas há uma grande preocupação: como fica a qualidade da água nas cidades que são cortadas pelo Rio Doce?

Apesar do suprimento de água de Governador Valadares — cidade que fica a 300 km do município onde as barragens se romperam —  já ter sido parcialmente normalizado, muitos moradores ainda reclamam e questionam sobre os possíveis riscos à saúde. 

Amostras da enxurrada de lama que foram coletadas cerca de 300 km depois do distrito de Bento Rodrigues apontam concentrações muito elevadas de metais como ferro, manganês e alumínio. O Ministério Público Estadual de Minas Gerais emitiu esta semana recomendação para que o Instituto Mineiro de Águas (Igam) divulgue em seu site informações sobre a qualidade da água do Rio Doce. “Mesmo que as concentrações dos metais estejam acima do recomendável, a dose individual letal é diferente dessa dosagem, que estará diluída no curso d’água. Não dá para definir o risco enquanto essa concentração não se estabilizar”, explica Marcus Vinicius Polignano, professor de saúde coletiva da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Polignano salienta ainda que, para que a água de Governador Valadares se torne potável novamente, a central de tratamento está utilizando muitas substâncias químicas, o que faz com que a água tenha cheiro forte de cloro e aspecto amarelado. “Por precaução, se possível, é importante que as pessoas consumam água mineral, até que a chegada de água às torneiras seja completamente normalizada”, destaca.

Silvia Regina Gobbo, professora de ecologia da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) e parecerista pelo Ministério Público no caso Cantareira em São Paulo, também não é muito otimista. Ela explica que há um perigo potencial de expor uma grande quantidade de pessoas de diferentes cidades ao longo da bacia do Rio Doce a um alto risco de doenças neurodegenerativas por conta dos contaminantes, todos considerados neurotóxicos. “Não sei exatamente a população total que hoje utiliza a água contaminada, mas é certo que terão que mudar suas fontes de abastecimento para não se contaminarem. E não se deve evitar somente o consumo de água, mas a ingestão de peixes também”, alerta.

Ela destaca ainda que o alumínio e o manganês não são tóxicos apenas para renais crônicos, mas para qualquer indivíduo. Além disso, o alumínio pode afetar ossos e desregular o sistema reprodutor. “Os efeitos não serão percebidos agora, mas poderão ser correlacionados mesmo depois de décadas do acidente”, destaca a ecóloga.

Outro elemento citado no laudo é o chumbo. Esse merece uma explicação à parte, pois já é um contaminante famoso. “Seus efeitos no nosso organismo incluem desde problemas na biossíntese da hemoglobina, causando anemia, até aumento da pressão arterial, abortos e alterações no sistema nervoso. Mais grave ainda é o fato de que o chumbo pode atingir o feto através da placenta da mãe, podendo causar sérios danos ao sistema nervoso e ao cérebro da criança.”

 

Tipos de intoxicação por metais pesados

 

Há dois tipos de contaminação por metais pesados. A primeira é decorrente de exposição aguda e a segunda, de exposição crônica.

Na verdade, a exposição aguda causa sintomas imediatos que incluem problemas respiratórios, estomacais e mal-estar. A contaminação crônica, cujos efeitos podem aparecer depois de meses ou anos, é ainda mais grave. “Essa é uma contaminação silenciosa. A pessoa ingere pequenas quantidades que vão se acumulando no organismo e causam sintomas tardios. O manganês, por exemplo, em quantidades elevadas na água a ponto de ser inalado pode causar problemas respiratórios graves. Apesar de a pessoa sentir os efeitos imediatamente, a contaminação é silenciosa”, esclarece Silvia.

Compartilhe
Sair da versão mobile