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Sexualidade

Doxiciclina depois do sexo ajuda a prevenir ISTs bacterianas

close em mão de homem segurando dois comprimidos de doxiciclina, a doxiPEP
Publicado em 12/10/2023
Revisado em 11/10/2023

A doxiciclina vem sendo chamada de doxiPEP e de “pílula do dia seguinte” das ISTs bacterianas. Saiba mais na coluna de Mariana Varella.

 

Todos os anos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), ocorrem cerca de 370 milhões de novos casos de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) curáveis no mundo.

As taxas de ISTs vêm crescendo em vários países, como Estados Unidos e Brasil, o que revela a necessidade de se pensar em outras estratégias de prevenção que não apenas a camisinha.

Veja também: Antibiótico depois do sexo

No dia 2 de outubro, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos abriu uma consulta pública sobre a recomendação do uso do antibiótico doxiciclina como uma espécie de “pílula do dia seguinte” para prevenir ISTs causadas por bactérias, como clamídia, sífilis e gonorreia, em pessoas que estejam sob alto risco de contrair essas infecções. O CDC pretende lançar as diretrizes definitivas após 45 dias.

Também chamada de doxiPEP, em alusão à profilaxia pós-exposição ao HIV (PEP), a estratégia tem sido recomendada apenas para homens que fazem sexo com homens e para mulheres trangênero que tenham tido uma infecção sexualmente transmissível provocada por bactéria no ano anterior ou que estejam sob risco alto de contrair uma IST.

A dosagem indicada é de 200 mg  de doxiciclina em dose única até 72 horas depois da relação sexual, incluindo sexo anal e oral, sem proteção. Quanto antes a pessoa tomar, melhor.

Os dados disponíveis, reunidos em diversos estudos, justificam a recomendação apenas para esses grupos; além de ainda não haver dados que reforcem a indicação para outros grupos, existe a preocupação quanto ao risco de resistência bacteriana.

Caso o medicamento seja usado por muitas populações, é possível que surjam superbactérias que não respondam ao tratamento com os antibióticos comumente usados. 

“Sabemos que a doxiPEP é eficaz na prevençao de ISTs bacterianas em homens que fazem sexo com homens vivendo com HIV ou em uso de PrEP. Agora precisamos saber se mais pessoas usarem doxiPEP por mais tempo, poderia ocorrer a seleção de resistência bacteriana”, afirmou à Agência de Notícias da Aids o infectologista Rico Vasconcelos.

O dr. Vasconcelos participou do XIV Congresso da Sociedade Brasileira de DST, X Congresso Brasileiro de Aids e V Congresso Latino Americano de IST/HIV/Aids, que aconteceu em Florianópolis no dia 5 de outubro.

Alguns médicos, contudo, podem prescrever o medicamento para indivíduos de outros grupos, se julgarem que o benefício do uso supera o risco de resistência bacteriana. No entanto, no momento ainda não há dados que justifiquem a recomendação geral para outros grupos, como o de mulheres cisgênero.

O medicamento não deve ser usado por gestantes, já que o antibiótico pode afetar o desenvolvimento do feto.

A doxiciclina é considerada altamente eficaz para evitar clamídia e sífilis, mas menos efetivo para prevenir a Neisseria gonorrhoeae, que causa gonorreia. Isso porque algumas cepas dessa bactéria são resistentes ao antibiótico.

A medicação não oferece 100% de proteção contra ISTs causadas por bactérias e não protege contra vírus, como herpes, Mpox, HIV e HPV. Contudo, é bem tolerada e os resultados contra infecções bacterianas são animadores.

“Não restam mais dúvidas de que a doxiPEP é um método potente e eficaz de prevenção contra ISTs bacterianas. Não temos mais que descobrir se o método funciona, mas para quem devemos indicar”, explicou o dr. Vasconcelos.

Os especialistas afirmam que a pessoa não deve tomar mais de 200 mg de doxiciclina em 24 horas, mas pode utilizar o medicamento por vários dias seguidos, caso esteja potencialmente exposto a essas ISTs durante determinado período.

Assim como outras pessoas que estejam sob risco de contrair ISTs, quem faz uso da doxiciclina como estratégia de prevenção deve se testar a cada três ou seis meses para essas e outras ISTs.

Já está claro, para quem trabalha com infecções sexualmente transmissíveis, que uma estratégia de prevenção única quase nunca é utilizada por todas as pessoas.

Isso porque os seres humanos têm comportamentos, preferências e limitações pessoais, e nem todos os métodos estão disponíveis para todas as pessoas.

Assim, é preciso investir em mais estratégias de prevenção de ISTs, para atrair o maior número de adeptos possível.

 

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